As eleições para reitor da
Universidade de Coimbra para o mandato 2019-2023 vão decorrer numa reunião
plenária do Conselho Geral, a 11 de Fevereiro. Antes, no dia 4, tem lugar uma
audição pública dos candidatos e uma segunda sessão, apenas para membros do Conselho
Geral, marcada para o dia seguinte. O Conselho Geral da Universidade de Coimbra
é constituído por 18 representantes dos professores e investigadores, cinco
estudantes, dois trabalhadores não docentes e não investigadores e dez
elementos externos à instituição.
Existem cinco interessados em
suceder a João Gabriel Silva, que cumpre, este ano, o seu segundo mandato à
frente da Universidade de Coimbra, entre os quais dois estrangeiros (o
singapuriano Yang Chen e a brasileira Duília Fernandes de Mello). O actual vice-reitor
Amílcar Falcão, professor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra,
o docente e investigador na área da inteligência artificial Ernesto Costa e o
director da Faculdade de Letras, José Pedro Paiva, completam a lista de
candidatos aceites. Durante o processo houve cinco candidaturas excluídas “por
não-cumprimento dos requisitos formais estipulados”.
Desde a entrada em vigor do
Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), no final de 2007,
que a eleição do reitor é feita pelo Conselho Geral e que são aceites
candidaturas externas à Universidade de Coimbra. Na primeira eleição, após a
entrada em vigor das novas regras, em 2011, surgiram duas candidaturas
internacionais, das quais uma foi aceite (o polaco Krzysztof Sliwa).
Entre os candidatos ao cargo
está Yang Chen, de 61 anos, professor de Matemática na Universidade de Macau
desde 2012, decidiu tentar a sorte e candidatar-se a reitor da Universidade de
Coimbra, que nunca visitou. Com um programa centrado no financiamento e na
captação de estudantes chineses, ficou “agradavelmente surpreendido” por ser
admitido à corrida.
Por
que razão decidiu candidatar-se ao cargo de reitor da Universidade de Coimbra?
Toda a minha vida estive
preocupado com a vida académica. Depois, dado que o meu contrato [na
Universidade de Macau] termina em Agosto de 2020, pensei que seria boa ideia
mudar e fazer algo diferente, como trabalho administrativo, e dedicar-me um
pouco menos à investigação. Foi a primeira vez que apresentei uma candidatura à
liderança de uma universidade.
Qual
a sua relação com Portugal e com a Universidade de Coimbra?
Não tenho, de facto, grande
ligação a Coimbra. Fui a Portugal quando era mais novo, quando ainda estava no
Reino Unido [a ensinar], mas tenho colaborado com uma portuguesa [Maria das
Neves Rebocho], de outra universidade.
Mas
nunca visitou a Universidade de Coimbra?
Não. Nunca estive na
Universidade de Coimbra. Estive apenas na universidade onde essa minha amiga
trabalha [Universidade da Beira Interior], mas sei que tem uma grande história,
que é uma universidade muito antiga e bastante reputada.
Não
teve curiosidade em lá ir pelo menos antes de se candidatar?
Não.
Como reagiu quando soube que
tinha sido admitido como candidato, a par com mais quatro aspirantes ao cargo,
incluindo outro estrangeiro? Estava à espera?
Fiquei agradavelmente
surpreendido por ter sido seleccionado, até porque pensei simplesmente que a
universidade poderia ter já alguém em mente ou algo do género.
Uma
vez admitido à eleição, que tem lugar a 11 de Fevereiro, está confiante na
possibilidade de ser escolhido para o cargo?
Sim, sinto-me confiante,
porque penso que reúno as condições, mas se não for escolhido está tudo bem na
mesma. Dado que não falo português esse será um factor que provavelmente não
joga a meu favor e posso até não chegar à fase da audição pública dos
candidatos [marcada para o próximo dia 4 de Fevereiro]. Ainda não sei. Neste
momento, estou a aguardar pela resposta a um e-mail que enviei à pessoa
responsável pelo recrutamento, alertando para o facto de não falar português.
Não há problema se entenderem que não é possível fazer a apresentação em inglês
e que, portanto, não é adequado ir.
Como
olha para o perfil dos restantes quatro candidatos?
Não sei bem quem são. Sei
apenas que há outra estrangeira, uma brasileira da área da Física, que acredito
ser muito forte, que há candidatos de Humanidades e que pertencem à
Universidade de Coimbra. Não vi bem o perfil, mas tenho a certeza de que são
inteligentes e bons no que fazem. Penso que vai depender do tipo de pessoa que
estão à procura ou da área.
Que
mais-valia acredita poder oferecer se assumir a reitoria da Universidade de
Coimbra?
O que eu gostaria de fazer era
expandir a população universitária, em particular, de fora da União Europeia,
porque eles pagam propinas mais elevadas. Todas as universidades precisam de
dinheiro. Também penso que poder-se-ia apostar mais na investigação científica
de qualidade.
O financiamento é, aliás, uma
das prioridades do programa de acção que submeteu, em que promete um “fluxo
mais estável” de recursos, nomeadamente proveniente de estudantes da China…
Sim, porque tenho muitos
contactos com a comunidade de matemáticos na China e devo ser capaz de
abordá-los com vista a captar mais estudantes. Penso que pode ter algum
impacto. O meu ponto é que a universidade precisa de estudantes, especialmente,
de qualidade. De outro modo, para que serve?
Que
estratégia tem em mente para o fazer? Seriam estudantes mais focados na sua
área em particular?
Não. Os chineses têm revelado
muito interesse em áreas como a administração e negócios, por exemplo. Como
líder de uma universidade, não poderia apenas olhar para a minha área, mas para
todas as que a universidade oferece, tentando impulsionar as mais fortes e
melhorar as mais fracas. Há muitos chineses que querem ir estudar para fora e
se forem para Portugal tanto melhor.
No
programa de acção relativiza o impacto do abrandamento económico da China na
ambição das famílias chinesas de porem os filhos a estudar no exterior. Não
antecipa mesmo qualquer efeito?
Não. Os pais poupam a vida
toda para que os filhos possam ir para universidade, procuram bolsas para o
estrangeiro. Os números, de qualquer modo, são muito grandes… Em paralelo,
penso que a actual conjuntura, da guerra comercial [entre a China e os Estados
Unidos] vai beneficiar os países europeus. Os estudantes chineses normalmente
procuram os Estados Unidos para prosseguir os estudos e, agora, será mais
difícil. O mesmo deve acontecer no caso do Reino Unido devido à saída da União
Europeia.
Está
ciente de que caso seja eleito tornar-se-á no primeiro estrangeiro a assumir a
liderança da Universidade de Coimbra?
Sim, seria interessante ser o
primeiro estrangeiro. Seria fora do comum, atendendo sobretudo a que é uma
universidade muito antiga. Diana do Mar –
Macau in “Hoje Macau”
Yang Chen - Natural de Singapura, de origem
chinesa, tem 61 anos, é licenciado em Física pela Universidade Nacional de
Singapura, obteve o grau de mestrado no Instituto de Tecnologia do Illinois e
doutoramento na Universidade de Massachusetts, na mesma área, ambos nos Estados
Unidos. Durante 20 anos foi professor no Imperial College, em Londres, até
entrar para Universidade de Macau, onde lecciona Matemática desde Agosto de
2012.
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