É
a primeira vez que o Fundo das Indústrias Culturais avança com projectos de
apoio financeiros específicos para a criação de plataformas de serviços no
âmbito da publicação de livros, bem como de televisão e cinema. Para entrada no
mercado chinês, Leong Heng Teng diz que “os editores de publicações de livros
têm de ter a consciência de respeitar a lei do Interior da China”
O Fundo das Indústrias
Culturais (FIC) abriu candidaturas para apoio financeiro a uma “Plataforma de
Serviço Integrada de Publicação”, que visa a atribuição de um montante limite
de cinco milhões de patacas no espaço de dois anos, período durante o qual
devem ser publicados 40 livros originais. A iniciativa foi lançada a par de
outros dois programas específicos de apoio financeiro, um voltado para a
criatividade cultural nos bairros comunitários e uma “Plataforma de Serviço
Integrada de Televisão e Cinema”.
No caso da plataforma de
publicação, a entidade que assegurar os seus serviços fica encarregue do
planeamento, edição, tipografia e revisão de livros de artes, história e
cultura de Macau, devendo estes ser informatizados para introdução em
plataformas electrónicas do exterior, sendo dada preferência à sua
disponibilização no Interior da China. De resto, espera-se que a plataforma
organize a participação de profissionais do sector em duas ou mais feiras de
livros a realizarem-se aí.
“Temos de coordenar com as
políticas definidas pelo Estado sobre a Grande Baía. Os editores de publicações
de livros têm de ter a consciência de respeitar a lei do Interior da China e
conhecer o mercado, a tendência de desenvolvimento económico”, disse Leong Heng
Teng, quando questionado sobre as dificuldades de acesso ao mercado editorial
da China. O presidente do conselho de administração do FIC reconhece que o
mercado de Macau é pequeno, pelo que “temos de abrir caminho, ninguém consegue
garantir 100% de sucesso”.
A entrada na China não é
obrigatória, sendo apenas requisito tentar, dada a dimensão do mercado. No
entanto, a venda no exterior pode dar-se noutros locais, como em Portugal,
tendo Davina Chu, membro do conselho de administração do FIC, exemplificado que
tal pode ser feito através de plataformas como a Amazon. Já a escolha das áreas
de história, artes e cultura, deveu-se à sua falta de popularidade mas
importância para preservação de herança cultural. “Todos os países dão apoio a
este tipo de livros porque a nossa cultura e história têm de permanecer e de
ser publicados para todas as pessoas conhecerem”, frisou.
Foi também assumida a
importância de Macau como plataforma sino-lusófona, com Davina Chu a notar que
seria “um bom trabalho” a publicação de livros portugueses que fossem
traduzidos para integrar o mercado chinês. Os livros, ou até mesmo os filmes
“são os produtos [culturais] que pensamos que futuramente podemos abrir novos
caminhos para entrarem em contacto”.
Os critérios de selecção
incluem, nomeadamente, a racionalidade dos objectivos do projecto e a
viabilidade de concretização, a capacidade técnica das equipas e as funções do
projecto para o desenvolvimento das indústrias culturais.
“Estamos a apoiar pessoas de
Macau porque todos sabemos que a cultura é uma área muito difícil de
desenvolver. A cultura normalmente não ganha dinheiro, as pessoas que escrevem
dinheiro, não são todos um Harry Potter. O que tentamos fazer é encorajar muito
mais pessoas, porque desde que haja uma plataforma então os seus livros podem
ser publicados e vendidos”, disse Davina Chu, que mostrou confiança na
existência de “muitas pessoas que escrevem livros” para atingir a meta de 40
obras no espaço de 24 meses. De momento, aponta, “são só para serem oferecidos
ou poucos são para serem vendidos nas livrarias ou feira de livros”.
Caso as metas não sejam
cumpridas, o financiamento é cortado, uma vez que é dado em diferentes
prestações, no seguimento de relatórios que os beneficiários têm de entregar em
diferentes fases. Note-se, porém, que a candidatura pode ser conjunta.
Uma
aposta no futuro
A nível da indústria
cinematográfica, surge também um novo apoio da FIC direccionada ao apoio a
empresas culturais e criativas na exploração de plataformas de serviço
integrantes da indústria cinematográfica a fim de prestar serviços de
assistência na pós-produção aos sectores profissionais cinematográficos de
Macau e auxiliá-los na exploração do mercado. Em causa está um apoio de seis
milhões de patacas, prestado num prazo de execução de dois anos.
“Acredito que as verbas
pareçam limitadas, mas temos de olhar para a dimensão efectiva da indústria
cinematográfica”, indicou Leong Heng Teng, apontando ser uma quantia adequada
já que os profissionais do sector também têm de investir. É requisito para
candidaturas, cujo prazo dura até ao final deste mês, que a entidade seja uma
empresa comercial, pertencente ao sector das indústrias culturais e com mais de
50% do capital social detido por residentes da RAEM.
Entre as responsabilidades
encontra-se a capacidade de assistência e serviços em pós-produção, sendo
necessário equipamento como uma sala de projecção de filmes, e capacidade para
efeitos especiais, tonificação ou legendas. A FIC pretende também que haja
promoção do intercâmbio da cinematografia sino-portuguesa. “Nós achamos que
através dos filmes no futuro vamos poder ter mais possibilidades em colaborar”,
disse Davina Chu, indicando que é um desejo não apenas vender filmes de Macau
ao exterior mas também trazer filmes portugueses para serem vendidos no
território ou à China.
Note-se que em qualquer um dos
projectos é exigido que as verbas de financiamento sejam geridas através de uma
conta bancária específica fechada, com as respectivas contas sujeitas à
auditoria de companhia profissional, para assegurar o uso eficiente do erário
público.
Por contraste, volta a ser
lançado um programa de apoio para a criatividade cultural em bairros
comunitários, sendo prestado apoio a um máximo de 30 projectos. Podem realizar
candidatura conjunta empresas culturais e criativas constituídas há pelo menos
três anos, e lojas com características a funcionar há oito anos. As empresas
aprovadas podem receber até 100 mil patacas para despesas de construção e
planeamento, para além de 50% das despesas de execução até a um limite de 200
mil.
Serve este apoio para
incentivar a que as lojas cultivem as suas estórias “integrando elementos
culturais e criativos, por forma a melhorar o ambiente comercial da loja, para
que os tais elementos fiquem implementados nos bairros comunitários”. No ano passado,
das 42 candidaturas foram aprovadas 23, tendo 21 empresas aceite o apoio
financeiro. Daqui resultou a implementação dos respectivos projectos por 11
empresas culturais e criativas. Espera-se que os projectos beneficiários
estejam concluídos na primeira metade de 2019. Salomé Fernandes – Macau in
“Jornal Tribuna de Macau”
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