A
tarde de um dia de Verão pode revelar-se abrasadora. Especialmente no Parque
Natural do Tejo Internacional, conhecido pelas temperaturas elevadas, muitas
vezes superiores a 40ºC nos meses mais quentes do ano. Esta cria de
abutre-preto conta com a sombra que a progenitora lhe proporciona para se
proteger dos raios de sol. É uma das várias crias que nos últimos anos nasceram
nesta região raiana, assinalando o regresso do abutre-preto a Portugal enquanto
ave nidificante
Apesar de ter sido sempre
avistado nos céus portugueses, mesmo quando a população nidificante desapareceu
do território, o abutre-preto sofreu um enorme declínio na Península Ibérica, e
deixou de nidificar em Portugal durante as últimas décadas do século XX.
O guião agora é outro. A sua
espectacular recuperação permitiu que, de escassas centenas de casais
nidificantes no início da década de 1970, existam hoje cerca de três mil casais
na Península Ibérica, de acordo com a Sociedade Espanhola de Ornitologia e informação
disponível em Portugal. Consequentemente, desde o final do século XX, casais de
abutre-preto começaram a nidificar em território português, tendo os primeiros
casos de sucesso de nidificação ocorrido em 2010.
Carlos Pacheco, biólogo que
tem acompanhado a nidificação da espécie em Portugal desde o seu regresso,
refere que actualmente existem 24 casais nidificantes de abutre-preto no país,
a grande maioria dos quais no Parque Natural do Tejo Internacional e na região
raiana do Baixo Alentejo, existindo ainda um casal que desde há alguns anos
nidifica no Parque Natural do Douro Internacional.
Segundo Carlos Pacheco, a
disponibilização de cadáveres em campos de alimentação de aves necrófagas, a
recuperação de espécies silvestres que servem de alimento ao abutre-preto (como
o veado e o javali), a manutenção de gado em regime extensivo, o abandono rural
e consequente diminuição da perturbação humana, a redução da perseguição
directa com recurso a venenos e as acções de ordenamento e conservação da
natureza foram decisivos para a notável recuperação do abutre-preto. É
igualmente garantido que, sem o enorme aumento do número de casais em Espanha,
o seu regresso a Portugal teria sido certamente adiado. In “National
Geographic” - Portugal
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