SÃO PAULO – A eleição de
Maurício Macri para a presidência da Argentina tem tudo para reverter o rumo
equivocado que o Mercosul tomou nos últimos doze anos, quando, em vez de
funcionar como uma efetiva união aduaneira, transformou-se em fórum de debates
políticos e inconsequentes. Desde logo, o presidente argentino anunciou que
pretende, ao lado do Brasil, levar o Mercosul a procurar uma aproximação não só
com a Aliança do Pacífico, mas com os EUA e a União Europeia (UE), “para tirar
a Argentina da situação de isolamento em que se encontra”.
Já nas relações bilaterais, o
que se espera é que haja, a partir de 2016, maior compreensão entre os
negociadores dos dois países com vistas a eliminar as barreiras que vêm
dificultando o crescimento do intercâmbio comercial. Mais: que haja um esforço
concentrado para se chegar a um acordo automobilístico e a um tratado de
livre-comércio entre pequenas e microempresas dos dois países, mas que poderia
incluir Uruguai e Paraguai.
Se estiverem ligados ao que
acontece no mundo, os negociadores dos dois países deveriam estabelecer desde
já uma agenda comum para enfrentar não só as consequências da desaceleração da
economia da China como a atual tendência de baixa nos preços das commodities, especialmente petróleo,
minérios e grãos. Como mais de 50% das exportações das duas nações correspondem
a produtos primários, Brasil e Argentina podem perder mercados porque seus
preços sofrem as conseqüências dos altos custos provocados por infraestruturas
viárias e portuárias ineficientes.
Além disso, com a assinatura
do Trans-Pacific Partnership (TPP), parece que tanto a Argentina como o Brasil
terão dificuldades para continuar vendendo produtos do agronegócio para os
países desse bloco, de que fazem parte seus competidores agrícolas (EUA,
Canadá, Austrália e Nova Zelândia). No caso do Brasil, é preciso encontrar
outras saídas para o agronegócio, pois sua derrocada seria fatal para o País,
levando-se em conta que o setor é responsável por 43% das exportações, responde
por 22,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e mantém 35% dos empregos.
Obviamente, essas saídas
passam pela criação de melhores condições para se abrir mercados, o que
significa dizer que é preciso que o Mercosul encontre meios de participar dos
processos de negociação dos mega-acordos, o que inclui não só o TPP como o
projetado acordo EUA-UE, o Transatlantic Trade and Investment Partnership
(TTIP) e até o Regional Comprehensive Economic Partnership (RCEP)-Asean.
Afinal, esses mega-acordos haverão
de configurar as modalidades do futuro do comércio mundial e ficar fora deles,
ou sem canal de acesso, equivale a assumir uma posição de submissão, aceitando
sem meios de contestação todos os termos que venham a fixar. Milton Lourenço – Brasil
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Milton Lourenço é presidente
da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e
da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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