Chama-se
Projecto @NossaLíngua, nasceu no Brasil e tem como objectivo ligar países e
comunidades que falam português, através da fotografia e do aplicativo
Instagram, dando a conhecer aspectos desconhecidos de cada elemento geográfico.
Com 10 temas e 100 fotografias seleccionadas pelo próprio público, inclui oito
obras de residentes do território, que se destacam pela visão pessoal numa
linha comum da língua
Luciane Araújo é a criadora e
directora do Projecto @NossaLíngua, que através do Instagram colocou falantes
de português em contacto, numa mostra abrangente de cultura desses países e
regiões.
“@NossaLíngua nasceu com o
objectivo de trocar experiências e de se estabelecer um intercâmbio
sociocultural entre os países e comunidades que falam a língua portuguesa.
Sabemos muito pouco sobre esses países aqui no Brasil, sua cultura e
identidade, como acreditamos acontecer o mesmo em relação ao Brasil. Dessa
forma, acreditamos que o movimento @NossaLíngua venha preencher essa lacuna que
faltava”, disse Luciane Araújo, em entrevista por email ao Jornal Tribuna de Macau.
Destacando que a língua é o
“canal de comunicação”, revelou que o projecto recebeu quase 17 mil imagens,
através de 10 missões publicadas no perfil @nossalíngua no Instagram. Os
interessados tinham apenas de utilizar o “hashtag” (palavra ou frase antecedida
do símbolo cardinal para facilitar pesquisas sobre determinados temas) de cada
missão para poder participar e criar essa mega “galeria de acesso global e
gratuito”, como a directora do projecto lhe chamou.
Depois disso, uma equipa de
curadores do Brasil e de cada país ou região seleccionou 10 fotos de cada
missão para integrarem o livro e a exposição. “O resultado foi muito positivo
considerando que a participação do público é colaborativa”, afirmou.
Tendo em conta que a mostra
tem uma natureza itinerante, Luciane Araújo declarou que gostava que Macau
“abraçasse a ideia e convidasse a exposição para apresentar ao público essas
imagens representativas do mundo da língua portuguesa”.
“Temos uma distância
geográfica que não nos permite ir com tanta facilidade para esses países irmãos
da língua”, afirmou, notando que, por outro lado, a internet foi um factor
relevante que permitiu chegar com mais facilidade a esses sítios, obtendo uma
participação relevante de todos eles.
Questionada sobre o que mais a
surpreendeu, destacou o rápido crescimento da rede. “Há uma grande curiosidade
geral entre esses países, afinal falamos a mesma língua mas somos diferentes.
Cada país possui a sua própria identidade e o movimento @Nossa Língua surgiu
com essa proposta. Vamos conhecer-nos através das artes, da literatura, da
música, das paisagens, das festas, do lazer e de sua gente”, disse.
No que diz respeito ao
documentário, uma equipa viajou até Portugal e Cabo Verde com iPhones e outros
equipamentos para entrevistar pessoas comuns, escritores e representantes da
cultura com o intuito de “apresentar ao público um panorama linguístico”.
“Dessa forma, o movimento @NossaLíngua parte do mundo das imagens para o mundo
da palavra”, afirmou Luciane Araújo, indicando que em 2016 será dada
continuidade a esta ideia com visitas a outros países.
De
Macau para a Lusofonia
Das 17 mil fotografias
enviadas, oito das seleccionadas dizem respeito a Macau e foram curadas por
Pedro Santos, arquitecto local e também ele fotógrafo.
“Na realidade, foi mais o
projecto que me descobriu do que o contrário. Fui contactado pela equipa da
Nossa Língua antes ainda de saber do que se tratava”, contou ao JORNAL TRIBUNA
DE MACAU, referindo que a sua responsabilidade como curador era “promover e
ajudar a seleccionar imagens de cá relativas a cada missão semanal”.
Como curador, Pedro Santos
explicou que procurou “a herança portuguesa em Macau em imagens que fossem
apelativas ou que tivessem algo que cativasse a atenção”. “Talvez por força da
minha formação, as imagens de espaços urbanos, de edifícios ou de detalhes
arquitectónicos acabam sempre por atrair-me mais”, admitiu.
Outro dos critérios, foi o
“contraste entre o presente e a herança de que falava antes, o contraste entre
Macau português e Macau chinês, sem querer apontar as diferenças mas antes a
forma como se encaixam e como resulta nesta cultura actual”.
Confessando ter ficado
duplamente surpreendido pela escolha para curador, mas também “chateado” por
não poder participar, realçou que o grupo de imagens seleccionadas foi “muito
bom com a visão pessoal” de cada participante sobre cada tema. Apesar disso, no
livro os curadores ganham algum destaque, pelo que Pedro Santos pode apresentar
alguns dos seus trabalhos sobre o território.
No seu ponto de vista, a
iniciativa é “interessante, pois reúne num só espaço a cultura dos quatro
cantos do mundo ligada por um elemento forte: a linguagem, a nossa língua
portuguesa”.
Segundo revelou, Pedro Santos
está a tentar contactar as entidades competentes em Macau para trazer a
exposição agora inaugurada no Brasil. “A nossa língua é o português e acho que
faria todo o sentido poder ter cá as imagens que fizeram parte deste projecto,
até em jeito de reconhecimento ao trabalho de todos, quer seja a organização,
quer os participantes”, disse.
Ana Bretes viu duas das suas
fotografias serem seleccionadas para integrar o livro e a exposição, depois de
ter descoberto o projecto pelo Instagram e imprensa portuguesa.
Para a arquitecta, a
fotografia é um hobby e paixão e como
reside em Macau, “o território acaba por ser o palco” de algumas das suas
imagens.
Em declarações ao Jornal Tribuna
de Macau, considerou que a importância do projecto @NossaLíngua reside no facto
de “através da visão de diferentes pessoas, documentar os vários territórios de
herança e língua portuguesa; as suas especificidades; as suas diferenças”. “Uma
vez que são diferentes territórios e panos de fundos distintos e em
localizações geográficas diversas, encontram-se pequenos detalhes onde podemos
identificar a influência portuguesa e o que os une”, declarou.
Dos 10 temas apresentados, as
fotografias seleccionadas correspondiam ao tema “casa” e a outra ao “lazer”. A
primeira fotografia documenta um de muitos prédios de Macau, mostrando o lado
sobrepovoado da RAEM e as “grades nas janelas e varandas de todos os
apartamentos, ou seja, as ‘gaiolas’ bem características”.
Já a segunda imagem foi tirada
no Lago Nam Van durante um treino de Barcos Dragão. “Esta foto acaba por ser
muito mais pessoal que a primeira, porque mostra uma actividade desportiva e de
lazer característica da China e de Macau, mas que eu também adoptei como minha,
uma vez que também sou praticante”, revelou, frisando que a foto transmite o
que sente quando treina: “a calma e a paz que se consegue sentir no Lago Nam
Van, apesar de rodeado de toda a luz e reboliço dos hotéis e casinos que o
rodeiam, e que aparecem na foto como pano de fundo”.
Terra, Trabalho, Fé, Festa,
Gente, Raiz, Palavra e Mar foram outras das missões que serviram de mote a
fotógrafos em todo o Mundo, permitindo ir além de estereótipos de muitos países
e apresentando toda a sua riqueza cultural. Liane Ferreira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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