O ecologista francês Hervé
Kempf em L'Économie à l'épreuve de l'écologie, apontou a necessidade de
privilegiarmos o elo social, ao invés da satisfação individual, muito
identificada com o consumismo.
Para tanto, urge “renovar a
economia”, substituindo a obsessão material que é alimentada pelo crescimento
físico (mais produtos e serviços) das economias, robustecendo assim o mercado
de consumo.
Num outro livro muito
interessante, Pour sauver la planète, sortez du capitalisme, Hervé Kempf, em
relação a esse mesmo assunto, é ainda mais incisivo ao estabelecer os laços
estreitos entre a rápida destruição do planeta com o funcionamento do sistema
capitalista em todas as suas dimensões, incluindo a cultural.
Usando as palavras originais
de Kempf, com livre tradução no fim deste artigo, temos que (...) un autre
monde est possible, il est indispensable, il est à notre portée. Le
capitalisme, après un règne de deux cents ans, s’est métamorphosé en entrant
dans une phase mortifère: il génère tout à la fois une crise économique majeure
et une crise écologique d'ampleur historique. Pour sauver la planète, il faut
sortir du capitalisme, en reconstruisant une société où l'économie n'est pas
reine mais outil, où la coopération l'emporte sur la compétition, où le bien
commun prévaut sur le profit (1).
A deterioração do meio
ambiente, o esgotamento de alguns dos principais serviços ecossistêmicos, a
depleção dos recursos naturais para “abastecer” uma economia de mercado cada
vez mais exigente em matéria de produção econômica e, em especial, as extinções
da fauna e flora, fruto de ação antrópica, alcançaram ritmo jamais visto no
último século.
Essa é a razão que levou o
Nobel de química, Paul Crutzen, a declarar que desde o final do século XVIII
“entramos” no período “antropoceno”, ou seja, na era em que predomina a
influência humana sobre a biodiversidade.
Com urgência, face a situação
de deterioração que os humanos têm deixado o meio ambiente, clama-se pela
necessidade de reconstruir a maneira como a atividade econômica tem atuado em
relação ao meio natural.
É imprescindível, para isso,
estabelecer outros valores, longe da sanha consumista patrocinada, em larga
medida, por uma economia que somente “enxerga” valor no mercado e nos produtos
e serviços produzidos, enfatizando assim a expansão do PIB.
Se o objetivo maior ainda é o
de alcançar com eficiência uma política de sustentabilidade, que respeite o
meio ambiente para salvaguardar as espécies de vidas existentes, é forçoso
reconhecer, na seara dessa questão, que o sistema econômico deve passar pela
capacidade de atingir prosperidade sem crescimento, abandonando assim a
obsessão material que mencionamos acima, incrustada no subconsciente dos mais
vorazes consumistas.
Uma vez reconhecendo que a
pressão humana sobre o sistema ecológico tem sido expansiva e dilapidadora,
progressiva e destruidora das bases do capital natural, três fatores precisam
ser contornados para que essa “reconstrução econômica” aconteça de modo satisfatório:
i) controlar o aumento populacional (em 1900, a população mundial era de 1,5
bilhão de habitantes. Oitenta e cinco anos depois, o planeta atingiu 5 bilhões
de pessoas e, em apenas 28 anos mais, o mundo “ganhou” mais 2 bilhões de
habitantes; em 2050, teremos uma população mundial de 9,5 bilhões); ii)
estancar o nível desenfreado de consumo e, iii) reduzir o uso de novas
tecnologias voltadas exclusivamente ao aumento da produtividade do trabalho –
base de aceleração da economia; por isso, motivo de dilapidação dos bens da
natureza.
Esses fatores – em especial,
os dois últimos (aumento populacional e nível de consumo) – passam, na prática,
por “encaixar” a atividade econômica dentro dos limites ecológicos. Razão pela
qual é de suma importância não perder de vista que a economia não pode mais
“funcionar” sob o paradigma do crescimento expansivo.
Tão importante quanto isso é o
fato de a economia neoclássica – fascinada pela ideia de equilíbrio e
liturgicamente adepta ao dogma do crescimento econômico como paradigma supremo
de prosperidade – reconhecer o que é mostrado com bastante clareza pela segunda
lei da termodinâmica: que o “circuito econômico” não funciona no “vazio”, longe
do meio ambiente, mas sim por dentro da biosfera. Marcus Oliveira - Brasil in “Diário da Liberdade”
Nota:
(1) Outro mundo é possível, é
essencial, ele está ao nosso alcance. O capitalismo, após um reinado de
duzentos anos se converteu numa fase mortal que gera tudo de uma vez; uma
grande crise econômica e uma crise ecológica de proporções históricas. Para
salvar o planeta, temos de sair do capitalismo reconstruindo uma sociedade onde
a economia não reine, mas que seja uma ferramenta que faça prevalecer a
cooperação sobre a competição, e onde o bem comum prevaleça sobre o lucro.
Marcus
Eduardo de Oliveira - Economista brasileiro, professor
universitário. É especialista em Política Internacional e mestre em Estudos da
América Latina pela Universidade de São Paulo (USP). É colaborador da Agência
Zwela de Notícias (Angola) e do portal Notícias Lusófonas (Portugal). Autor dos
livros "Conversando sobre Economia" e "Pensando como um
economista".
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