Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Macau - Mais de 30% dos cuidadores informais com “elevados níveis de sintomas depressivos”

Mais de 30% dos cuidadores informais chineses, a maioria mães, disse sentir “elevados níveis de sintomas depressivos”, esta é uma das conclusões do estudo “Carga prestada aos cuidadores de familiares com deficiência intelectual ou mental em Macau, China” conduzido pela Universidade de Macau. Encomendado pela Associação de Reabilitação Fu Hong, o estudo foi recentemente aprovado para publicação no Reino Unido. Fátima Santos Ferreira considera que a investigação pode servir de directriz para o serviço que é actualmente prestado, ao mesmo tempo que dá a conhecer à população “as necessidades reais” dos cuidadores informais

Foi aprovado para publicação o estudo “Carga prestada aos cuidadores de familiares com deficiência intelectual ou mental em Macau, China”, encomendado pela Associação de Reabilitação Fu Hong à Universidade de Macau, numa colaboração com o professor Brian Hall, do Departamento de Psicologia. “Actualmente, as investigações são limitadas em relação aos desafios enfrentados pelo cuidador na sociedade chinesa”, afirmou a presidente da associação, Fátima Santos Ferreira, ao Jornal Tribuna de Macau.

O estudo, que será publicado no Reino Unido, tem como objectivo preencher as lacunas existentes neste campo, por forma a “compreender melhor os desafios e encargos na prestação de cuidados enfrentados pelos cuidadores informais a pessoas com deficiência mental”.

O estudo baseou-se nos testemunhos de 234 entrevistados e chegou à conclusão de que, entre os cuidadores informais chineses que cuidam de um membro da família com deficiência intelectual ou mental, 31,7% disse sentir “elevados níveis de sintomas depressivos moderados e graves e 46,6% relataram sintomas de ansiedade moderados e graves”. A falta de recursos financeiros e dificuldades em cuidar destas pessoas são factores-chave que estão relacionados com estes distúrbios.

Dos entrevistados, 183 eram mulheres e 51 eram homens, sendo que a maioria é casado e tem 65 anos ou mais. Estas pessoas cuidam de familiares com deficiência intelectual ou mental, dos quais 104 homens e 130 mulheres, com uma média de idade de cerca de 32 anos. Destes, 149 (63,68%) tinham diagnóstico de deficiência intelectual, 57 (24,36%) de doença mental e 28 (11,97%) de ambas as doenças. A recolha de dados foi feita nos cinco centros que pertencem à Fu Hong.

Sublinhando que a carga e as dificuldades dos cuidadores têm um efeito “significativo” no seu bem-estar psicológico, Fátima Santos Ferreira explicou que a equipa de investigação utilizou o Caregiver Burden Inventory (CBI) para medir a carga de prestação de cuidados.

“Os resultados mostraram que os cuidadores que prestaram assistência a tempo inteiro a pessoas com deficiência relataram que a carga física e dependente do tempo os colocam sob maior pressão, [em linha com] os níveis de stress e ansiedade, que são significativamente maiores [do que os dos cuidadores a tempo parcial]”, frisou Fátima Santos Ferreira.

Por outro lado, “a maioria considera que os actuais subsídios atribuídos” por parte do Governo “desempenham um papel importante” no que respeita à redução da pressão económica e financeira e à pobreza. “Se o Governo pudesse considerar as necessidades reais dos cuidadores de pessoas com deficiências e oferecer-lhes quantias apropriadas de apoio social, a carga e dificuldades poderiam ser atenuadas”, indicou.

Fátima Santos Ferreira espera que o Governo de Ho Iat Seng possa cumprir com a promessa de implementar este ano o projecto-piloto de atribuição de subsídio a cuidadores, de forma experimental. “As Linhas de Acção Governativa para 2020 demonstraram a filosofia do novo Governo, orientada para as pessoas. Por isso, estou confiante de que implementará o programa de subsídio para cuidadores este ano (…) Acredito que entenderá as reais necessidades dos cuidadores no futuro e terá a responsabilidade de enfrentar os problemas”, defendeu.

Na sua perspectiva, o estudo actua como “directriz para o nosso serviço actual, podendo optimizar e aprimorar os serviços futuros”, ao mesmo tempo que dá a conhecer à população “as necessidades reais” dos cuidadores informais.

Governo deve tornar dados “transparentes”

Actualmente não há dados claros nem sobre o número de pessoas com deficiência nem sobre o número de cuidadores informais no território. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de 15% da população mundial (estimativa da população global de 2010) vive com algum tipo de deficiência. Quanto a Macau, com base nos mais recentes dados, a população é de cerca de 700 mil pessoas, sendo que destes mais de 100.000 sofrem algum tipo de deficiência.

De acordo com os Serviços de Saúde de Macau, em 2018 houve cerca de 80 mil pessoas a dirigir-se ao departamento de Psiquiatria do hospital, incluindo internamento, consulta de acompanhamento, diagnóstico inicial, avaliação, tratamento e medicação. Apesar disso, de acordo com o Instituto de Acção Social, em Março de 2020, apenas 14.100 pessoas possuíam o “Certificado de Registo de Avaliação de Deficiência”.

“É impossível obter subsídios por invalidez ou certos serviços de assistência social sem possuir esse certificado. Ainda há um grande número de pessoas que não foi diagnosticada com doença mental em Macau”, observou, acrescentando que muitas destas pessoas podem receber cuidados informais em casa e quem deles cuida pode não perceber quais são efectivamente as suas necessidades, nem ter os devidos apoios, resultando “numa maior sobrecarga”.

“Espera-se que o Governo possa tornar os dados transparentes e promover activamente os serviços de apoio dos cuidadores para permitir que mais pessoas entendam os benefícios do serviço existente e estejam atentos às necessidades das pessoas com deficiência e também dos cuidadores”, concluiu. Catarina Pereira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

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