Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Guiné-Bissau - Médicos guineenses cépticos em relação à estratégia do país para combater a doença

Bissau – Dois médicos guineenses do Hospital Simão Mendes de Bissau, Mboma Sanca e Malam Sabali, disseram hoje à Lusa estarem cépticos com a estratégia da Guiné-Bissau para combater a pandemia do novo coronavírus.

O Centro de Emergência de Saúde da Guiné-Bissau registou já 457 infecções por covid-19 no país, incluindo 24 recuperados e duas vítimas mortais.

Mboma Sanca trabalha no único serviço de Cuidados Intensivos e Malam Sabali é médico-cirurgião nos serviços de urgência.

Ambos afirmam que o Simão Mendes, hospital de referência da Guiné-Bissau, lugar preparado para receber e tratar doentes afectados pela covid-19, não tem, actualmente, as mínimas condições exigidas.

Nas contas de Malam Sabali, até 6% dos doentes infectados pela covid-19 vão precisar de um internamento nos Cuidados Intensivos, dada a gravidade da sua situação, mas naquela unidade, disse, “não há oxigénio nem ventiladores”.

Sabali afirmou que a unidade é a única naquele hospital com um sistema de canalização, já montado, para levar oxigénio até ao paciente, mas que actualmente não funciona por falta daquele produto.

A unidade de produção do oxigénio do Simão Mendes está avariada e Malam Sabali entende que a solução passa pela sua rápida recuperação, antes que qualquer doente com a covid-19 seja internado nos Cuidados Intensivos.

Médico de medicina interna, Mboma Sanca disse que é a própria estratégia guineense que “se está a relevar um fracasso”, a começar pela forma como é feita a comunicação pelas autoridades sanitárias.

“Não se identificou a real estratégia de combate que devia assentar na comunicação e prevenção, porque mesmo os Estados Unidos de América com todo o seu arsenal de equipamentos, não estão a conseguir evitar as mortes”, defendeu Mboma Sanca.

Para o clínico guineense, a doença deixou de ser uma ameaça para o país a partir do dia 25 de Março quando foram diagnosticados os primeiros casos e “era tempo suficiente para uma outra abordagem”, frisou.

Malam Sabali antevê “dias complicados” a partir do momento em que comecem a dar entrada no Simão Mendes casos graves e lembrou que o primeiro paciente com aquele quadro acabou por falecer 48 horas depois de dar entrada no hospital.

Sabali até compreende os esforços das autoridades, mas defendeu ser urgente equipar o Simão Mendes, formar a equipa médica e dotá-la de material de protecção que disse não passar, neste momento, de máscaras cirúrgicas e luvas.

“Esta batalha não é de curto prazo, devemos pensar que vai levar algum tempo. Temos máscaras e luvas, mas em pequena quantidade e é preciso dotar o pessoal médico com touca, batas, botas e outros materiais”, sublinhou Sabali.

Para Mboma Sanca, mais do que pensar no tratamento é a própria estratégia que deve ser orientada no sentido de incentivar o distanciamento social da população, isolamento de casos positivos e protecção do grupo de risco, pessoas portadoras de outras doenças, nomeadamente AVC, diabetes, hipertensão e VIH/Sida.

É desse grupo que Malam Sabali aponta para os 6% de doentes que serão considerados casos graves e para os quais, disse, o país ainda não se preparou. Segundo disse, 80% de infectados terão manifestações ligeiras e 14% terão manifestações severas.

A Guiné-Bissau tem 475 casos confirmados da doença e dois mortos. In “Agência de Notícias da Guiné” – Guiné-Bissau com “Lusa”

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