Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 9 de março de 2020

Suíça – Cidadãos portugueses com vontade de regressar a casa

Cada vez mais portugueses regressam ao seu país, principalmente na idade da aposentação



Ana e Rui Faria decidiram deixar a Suíça e regressar para Portugal, o seu país de origem. O casal, de trinta e poucos anos, passou menos de sete anos na região de Marly, no cantão de Friburgo. Como eles, muitos portugueses dão esse passo a cada ano e voltam para casa.

De acordo com dados do Departamento Federal de Estatística da Suíça, cerca de 11 mil portugueses deixaram a Suíça em 2018, contra cerca de 7600 dois anos antes e 6700 em 2015. A tendência continua no cantão de Friburgo. No final de 2019, havia pouco mais de 25 280 portugueses no cantão, 100 a menos do que no mesmo período em 2018, segundo a Secretaria de Estado das Migrações (SEM).

"Eu estava farta", diz Ana, que, depois de se juntar aos pais que moram em Friburgo há vários anos, passou dois anos desempregada. "Em Portugal, eu era professora de educação física. Vim para a Suíça para encontrar um emprego", diz a mãe de dois filhos.

“Tapa-buracos”

Enquanto o seu marido, Rui, pôde encontrar facilmente trabalho na construção civil, Ana acaba ficando à toa. "Eu comecei nalgumas formações. Também trabalhei num centro de fitness, mas servia mais como tapa-buracos". Ana acaba de conseguir dar algumas horas por semana de aulas de educação física num centro de formação. "Três quartos do meu salário eram gastos para guardar os nossos dois filhos", lamenta ela.

Diante desta constatação, o casal está a considerar um retorno a Portugal. "Era importante para nós poder sair antes de ficarmos endividados. Além disso, a economia está a melhorar em Portugal. Eu também estou feliz por ter novamente uma vida social, estava com saudade!"

A situação económica em Portugal, que tem mais de 10 milhões de habitantes e uma das taxas de crescimento mais fortes da Europa nos últimos cinco anos, melhorou consideravelmente. Após passar por anos de grande emigração, desde os anos 60 e entre 2010 e 2015, o governo português criou programas para incentivar o regresso dos seus cidadãos.

O Programa Regressar, que entrou em vigor no verão passado, pretende reduzir para metade o imposto de rendimento (IRS) durante cinco anos para quem tenha passado pelo menos três anos no estrangeiro e opte por regressar entre 2019 e 2020.

Uma medida que não seria a principal explicação para os numerosos retornos, segundo António da Cunha, presidente da Federação das Associações Portuguesas na Suíça. "Durante os anos de austeridade imposta, dezenas de milhares de jovens licenciados saíram para procurar o seu primeiro emprego noutro lugar", explica o português que também é professor honorário da Faculdade de Geociências e Meio Ambiente da Universidade de Lausanne. Depois de deixarem o país, os emigrantes regressam principalmente quando chega a hora de se aposentarem. A taxa de envelhecimento da população é, portanto, significativa.

Mas essa ânsia de voltar à pátria também seria financeira. No sentido de melhorar a transparência, um acordo entre a Suíça e Portugal obriga os cidadãos portugueses a declarar os seus bens. Pois o mito da casa em Portugal não está tão distante da realidade. "Uma grande parte dos meus compatriotas possui bens imobiliários no país que não declararam por diversas razões", acrescenta António da Cunha.

Reintegração

E os montantes exigidos pela Suíça podem ser substanciais. Em todo o caso, o suficiente para precipitar as partidas. "Em 2019, elas aceleraram. Em La Chaux-de-Fonds, por exemplo, 400 portugueses saíram num ano", diz da Cunha, que vive na Suíça há 40 anos e não tem planos de deixar o seu país anfitrião por enquanto.

Abílio Rodrigues encontrou uma solução. Após 44 anos na Suíça, o presidente do Centro Português de Gruyère passa metade do ano no seu país natal e a outra metade no cantão de Friburgo. "É difícil viver na Suíça com 1400 ou 1600 francos por mês. Muitos não têm escolha, eles têm que sair", explica.

É o caso de Cecília e Messias Sabino. Com 64 e 68 anos, eles voltaram há cinco anos, depois de passar mais de 30 anos no cantão de Friburgo. Foi uma decisão difícil, já que a filha, família e amigos ficaram na Suíça, mas que teve de ser tomada por razões financeiras. "Fomos felizes na Suíça porque fomos bem acolhidos e integrados", diz Cecília, que agora está feliz e integrada novamente, mas desta vez no seu país de origem.

Insegurança financeira

Liliana Azevedo está dedicando o seu doutoramento em sociologia à imigração dos portugueses para a Suíça e a transição para a aposentação.

Uma tese que a pesquisadora portuguesa está a preparar actualmente entre o ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa) e Neuchâtel. Ela espelha a história pessoal desta mulher de quarenta anos que vive agora em Portugal, cujos pais eram imigrantes e que cresceu em Lausanne.

"Ainda há poucos estudos dedicados aos portugueses na Suíça", observa, lembrando que se trata de uma imigração recente, já que que data principalmente do início dos anos 80. "Antes disso, os portugueses escolhiam a França e a Alemanha como os seus destinos.”

Enquanto a emigração para a Suíça diminuiu no final dos anos 90, ela foi retomada assim que o Acordo sobre a Livre Circulação de Pessoas entrou em vigor em 2002, com um pico em 2013, e desde 2014 vem declinando. "A Suíça era então o segundo destino mais popular, depois do Reino Unido. No entanto, desde 2017, o saldo da migração de cidadãos portugueses para a Suíça tem sido negativo. Agora há mais saindo do que chegando", observa a pesquisadora. “O regresso sempre fez parte do projecto migratório desta geração". Estes portugueses prepararam-se para a volta, comprando, construindo ou renovando uma propriedade que herdaram no seu país de origem.

Outra razão para as muitas partidas da Suíça é a insegurança financeira associada à aposentação. A maioria dos imigrantes de primeira geração são trabalhadores pouco qualificados cujos rendimentos estavam abaixo da média suíça quando trabalhavam. Como resultado, as pensões que eles recebem são baixas. "Uma vez aposentados, eles fazem os seus cálculos e escolhem voltar porque ficar é o mesmo que apertar o cinto para pagar as contas. Não devemos esquecer que se trata de pessoas que nasceram nos anos 50 e que viveram uma ditadura e, para muitos, situações de pobreza".

Os imigrantes com mais de 60 anos estão em grande número entre os que voltam para casa, mas a faixa etária de 30-40 anos também é afectada. "Ou seja, aqueles que passaram menos de dez anos na Suíça e, portanto, têm menos laços com o país. Mas se eles não tiverem nenhuma perspectiva de encontrar um emprego estável, não vão voltar", conclui Liliana Azevedo. Stéphanie Schroeter – Suíça in “La Liberté” com “Swissinfo”

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