Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 18 de março de 2020

Macau - Fronteiras fechadas, excluindo os visitantes de China, Hong Kong e Taiwan

O Governo determinou o encerramento das fronteiras com o exterior. A medida visa os visitantes de todos os países, exceptuando os que vêm do interior da China, de Hong Kong e de Taiwan. Residentes de Macau e trabalhadores não-residentes também não estão abrangidos pela directiva. Os residentes que chegam de zonas de alta incidência epidémica deixam agora de poder cumprir a quarentena em casa. Um grupo de jovens que chegou de Portugal foi levado para a Pousada Marina Infante e os pais alegam que foi pedido aos menores que assinassem uma declaração de consentimento



A entrada em Macau está proibida para todas as pessoas, à excepção de residentes do interior da China, Hong Kong e Taiwan. A medida começou a ser aplicada às zero horas de hoje, deixando também de fora titulares do BIR e trabalhadores não-residentes. Na conferência de imprensa de ontem do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, foi anunciado ainda que os residentes que estão em zonas de alta incidência epidémica terão, obrigatoriamente, de cumprir quarentena na Pousada Marina Infante ou nova unidade ontem designada, o Hotel China Coroa d’Ouro, tendo em conta que, na pousada, será atingida em breve a lotação máxima. Na madrugada de ontem, um grupo de jovens que chegava de Portugal foi parado no aeroporto de Macau e encaminhado para isolamento, e os pais alegam que só foram avisados três horas depois da chegada dos menores. Os elementos do Governo acusaram os progenitores de não terem cooperado, mas estes negam.

Através de um despacho publicado ontem em Boletim Oficial, o Governo proibiu a entrada em Macau “de todas as pessoas não residentes, com exclusão de residentes do interior da China, da Região Administrativa Especial de Hong Kong e da região de Taiwan, bem como de titulares do título de identificação de trabalhador não residente”. É explicado, num comunicado divulgado durante a tarde de ontem, que a medida se deve “à contínua propagação da epidemia pelo Covid-19 em todo o mundo” e serve para “prevenir a importação de casos de infecção do exterior e proteger a saúde dos residentes de Macau”.

No despacho está previsto ainda que pode haver excepções, “por motivo de interesse público”, em casos de “prevenção, controlo e tratamento de doenças, socorro e emergência”, e também para quem possa garantir “a manutenção do funcionamento normal de Macau ou das necessidades básicas de vida dos residentes, a autoridade sanitária”.

Na conferência de imprensa de ontem, as autoridades fizeram ainda saber que os residentes de Macau que tenham estado, nos últimos 14 dias, em zonas de alta incidência passam a ser obrigados a cumprir quarentena na Pousada Marina Infante. Anteriormente, havia a possibilidade de ficarem em isolamento nas suas casas. Os países de alto risco são: Portugal, Itália, Alemanha, França, Espanha, Áustria, Bélgica, República Checa, Dinamarca, Estónia, Finlândia, Grécia, Hungria, Islândia, Letónia, Lichtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Holanda, Noruega, Polónia, Eslováquia, Eslovénia, Suécia, Suíça, Reino Unido, Irlanda, Rússia, Estados Unidos, Canadá, Brasil, Austrália, Coreia do Sul, Japão, Irão e Egipto.

Há ainda um grupo de países de risco médio, do qual fazem parte a Tailândia, Vietname, Indonésia e Filipinas, por exemplo. Os residentes que vierem destes destinos continuam a ter a possibilidade de fazer a quarentena em casa.

Pais alegam que filhos foram levados para quarentena sem consentimento

Segundo uma nota assinada por três encarregados de educação enviada às redacções, um grupo de seis menores, residentes de Macau, que chegaram de Portugal na madrugada de ontem, foram retidos no aeroporto durante três horas e depois encaminhados para isolamento, para a Pousada Marina Infante, sem que os pais tivessem sido inicialmente informados e tendo sido pedido aos menores que assinassem uma declaração de consentimento.

Os jovens, com idades entre os 13 e os 17 anos, chegaram às 3 horas da manhã de ontem e, de acordo com os pais, não foram dadas quaisquer informações aos encarregados de educação que já estavam no aeroporto à sua espera. Só depois das 6 horas da manhã é que os pais terão conseguido falar com as autoridades, tendo-lhes sido dito que os filhos iriam para a Pousada Marina Infante. Os pais alegam que foi pedido aos jovens, todos menores, que assinassem uma declaração de consentimento.

Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença, disse na conferência de imprensa de ontem que, no aeroporto, as autoridades falaram com os pais e que foram estes que se recusaram a assinar a declaração de consentimento. “Uma vez que os encarregados de educação não colaboraram, prejudicaram os nossos trabalhos e muitos turistas ficaram à espera no aeroporto muitas horas”, afirmou Leong Iek Hou.

Versão contrária têm os encarregados de educação. Ao Ponto final, Bruno Simões, um dos pais contou: “Estivemos em contacto com os nossos filhos, a tentar entrar em contacto com algum responsável através do telefone dos nossos filhos, a pedir para falarmos com algum responsável. Não havia nenhum responsável que quisesse falar connosco”. “Não podem pedir a menores para assinar declarações de consentimento”, referiu Bruno Simões.

Segundo o pai, os encarregados de educação receberam um novo contacto do Governo depois das 16 horas, antes da conferência de imprensa. “Ligou-me hoje [ontem], antes da conferência de imprensa, uma senhora dos Serviços de Saúde a pedir desculpa pelo sucedido e a explicar que iam ficar 14 dias em quarentena”, referiu o pai. “O Governo diz que nos recusámos a colaborar, que atrasámos o processo de entrada e que nos recusámos a assinar [a declaração de consentimento]; isso é tudo falso”, afirmou Bruno Simões, frisando: “Ninguém falou connosco, ninguém nos pediu para assinar papel nenhum”.

Mais dois casos (importados) de infecção pelo Covid-19 durante o dia de ontem

Subiu para 13 o número total de infectados pelo novo coronavírus em Macau. Na manhã de ontem foi diagnosticado um cidadão espanhol que apresentou sintomas e foi detectado ainda no aeroporto. Já à noite, foi diagnosticado o 13.º caso, numa mulher de 20 anos, residente de Macau, que vinha do Reino Unido. O espanhol tem 47 anos, é empresário e, segundo as informações dos Serviços de Saúde, tinha chegado a Macau em negócios. Aterrou, proveniente de Moscovo, às 20 horas de segunda-feira. No posto fronteiriço do aeroporto, o pessoal dos Serviços de Saúde detectou febre e o homem foi levado para o Centro Hospitalar Conde de São Januário para fazer exames. No voo de Moscovo para Macau só estavam cinco tripulantes e cinco passageiros. Dois dos tripulantes foram considerados contactos próximos e foram encaminhados para observação médica. Na tarde de ontem foi ainda anunciado um 13.º caso de infecção, numa residente de 20 anos, estudante em Londres. A mulher viajou de Inglaterra, passando por Kuala Lumpur, e aterrou em Hong Kong. No lado de Macau da Ponte do Delta, foi-lhe detectada febre e foi encaminhada para o hospital público, onde foi confirmada a infecção por Covid-19. Em ambos os casos, o estado de saúde é considerado normal. Na conferência de imprensa, foi adiantado que, no caso da cidadã da Coreia do Sul diagnosticada no domingo, ainda não foram identificados os passageiros do mesmo voo. “Se calhar, há pessoas que estiveram sentadas ao lado dela que estão em Macau, mas não sabemos”, afirmou Leong Iek Hou. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”

andrevinagre.pontofinal@gmail.com

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