Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 2 de novembro de 2013

Memórias de Damão

 
As memórias da infância vividas no tempo do império, em Damão, por Cândido do Carmo Azevedo, são o tema de “Goa, Damão e Diu – Factos, Comunidade e Lazer nos meados do século XX”. O livro foi reeditado e apresentado na passada quarta-feira, 29 de Outubro de 2013, na Fundação Rui Cunha.
 
“Goa, Damão e Diu – Factos, Comunidade e Lazer nos meados do século XX”, livro de Cândido do Carmo Azevedo, consiste num registo de memória da “infância feliz” entre 1953 e 1958. Foi ontem apresentado na Fundação Rui Cunha.
 
Azevedo, autor de oito obras publicadas, conta que foi depois de uma viagem em 1988 àquele território que decidiu registar as memórias de infância. “Trinta e tal anos depois da invasão do território pela União Indiana [em 1961], estava-se a perder aquela cultura portuguesa e cristã. Então resolvi escrever para salvaguardar aquelas memórias e é isso que está no livro”, diz o autor.
 
Cândido do Carmo Azevedo conta que viveu na Índia 10 anos, onde fez a instrução primária. “O meu pai era comandante da polícia e eu percorri Goa, Damão e Diu.” Viver com aquelas crianças “hindus, mouras, cristãs” foi uma vivência que o fez “enormemente feliz, porque poucas crianças têm oportunidade de viver numa comunidade tão diferente e com tantos valores estranhos”, explica Azevedo, que foi professor do Instituto Politécnico de Macau e leccionou em Pequim.
 
O livro tem uma dimensão etnográfica. O autor conta as histórias do quotidiano e inclui um dicionário lúdico no final, com a explicação de passatempos e jogos. Além disso, o autor foi buscar lendas, histórias, cantares e lengalengas que “mais ninguém se lembra”, diz.
 
Hoje, o território “está muito modificado”, diz. “Tive aquele pensamento que me levou a escrever o livro e foi precisamente isso que aconteceu”: os territórios alteraram-se muito e já não são hoje o que eram. “Desapareceram muitas coisas” mas, em termos de património arquitectónico de matriz portuguesa, os edifícios “mantêm-se e são cuidados”, conclui Cândido do Carmo Azevedo.
 
Primeiro de muitos livros
 
“Este livro é o repositório da vivência que o autor teve, da mocidade dele e, em alguma medida, também da minha”, explica Rui Cunha, presidente da fundação que ontem recebeu o lançamento da obra e também ele com infância passada em Goa.
 
É Rui Cunha quem assina o prefácio desta segunda edição. O livro ganhou o Prémio Literário Camilo Pessanha em 1994, atribuído pelo Instituto Português do Oriente à melhor obra sobre o legado português nesta região do mundo.
 
Rui Cunha explica que esta reedição do livro, quase 20 anos depois do seu lançamento, justifica-se pela importância da obra. “Até para vermos quanta foi a influência e como o padrão português serviu de exemplo em relação àqueles territórios”, explica.
 
Com esta reedição, a Fundação Rui Cunha inicia aquilo que pretende ser um processo consistente de recolha de memórias do antigo império português. Ao PONTO FINAL, Rui Cunha diz que esta reedição é um “bom começo”: “Que venham mais livros, que venham mais coisas. Nós gostaríamos que isto fosse extensível a todos os territórios onde houve administração portuguesa. Desta vez é Goa, Damão e Diu, mas que haja de outros lugares. Isso faz parte dos objectivos da Fundação.” Cláudia Aranda – Macau in “Ponto Final”


Sem comentários:

Enviar um comentário