Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A nossa ruína

O nosso problema chama-se Espanha, e a nossa soluçom Independência.

Nom há panos quentes que valham, Espanha é a nossa ruína. A oligarquia espanhola considera o povo galego como um coletivo humano inferior, eternamente menor de idade, sem critério político, sem capazidade para decidir, para gerir os seus recursos e instituiçons, para resolver os seus problemas. E ao mesmo tempo, consideram que a opressom nacional à que nos submetem é umha espécie de ato filantrópico de que, sobretudo, nos beneficiamos nós. E que tudo aquilo que nos concede Espanha som dádivas generosas, das quais apenas podemos estar agradecidos e agradecidas.



A oligarquia galega vive de vender este país a preço de saldo e nom tem projeto social: de facto, desprezam este povo, as suas manifestaçons culturais, as suas tradiçons, a sua língua...tudo aquilo que nos converte em povo singular. Além disso, nem acreditam nas riquezas do nosso meio.

Nom há nada que fazer com Espanha. Nom é umha questom nem de monarquia nem de república. Nom é umha questom de federalismo ou centralismo. Nem Espanha dos povos, nem Espanha plural, nem Espanha das autonomias, nem absolutamente nada. Por muita cosmética jurídico-política que se aplicar, Espanha é o que é...um cárcere de povos.

Espanha é um cárcere de povos onde o nosso povo é réu de morte. Permanecer sob o seu domínio só nos pode levar à extinçom.

Dous acontecimentos sobre o tapete: grave acidente ferroviário em Compostela na véspera do nosso dia nacional e sentença do macro-julgamento do Prestige. Dous exemplos de absoluto desprezo polo nosso país.

Os dous casos tenhem em comum duas cousas: que a culpa de tudo o acontecido recai numha pessoa, que resulta ser o derradeiro elo da cadeia e que nom há responsabilidades técnicas e políticas mais aló. Dous acontecimentos que produziriam demissons e cessamentos no mesmo dia em que tivessem lugar em qualquer outra latitude do mundo, aqui nom. Botamos a culpa às meigas, ou se há que procurar bodes expiatórios no mais acolá, será provavelmente a pessoa com menos poder. O petroleiro afundido há dez anos nas proximidades da costa galega e o comboio de alta velocidade acidentado na entrada da estaçom de Compostela, sofrêrom as circunstáncias que sofrêrom pola açom de seres sobrenaturais, por puro azar ou polas más decisons e a falta de perícia de um mau profissional; em cada caso o capitám do navio ou o maquinista do comboio.

E o que acontece com aqueles que tomárom as decisons políticas que ajudárom a que se produzisse o desfecho fatal?

Acidente do Prestige


No caso do Prestige, quem tomou a decisom de afastar da costa o navio? Por que se descartou levar o navio a um porto de abrigo, e por que se discutiu durante tantas horas (enquanto o Prestige dava voltas no mar e vazava a sua carga) se o conduziam à Corunha ou a Ferrol? Por que nom se deu informaçom veraz ao povo sobre o que estava a acontecer? Por que se tentou minimizar as dimensons do vazamento? Por que se dérom soluçons tam peregrinas ou contraditórias como o bombardeamento com fósforo do petroleiro, o cercado e combustom das nódoas, a aplicaçom de dissolvente... ou por que se fam declaraçons do calado da que justificava o afastamento do Prestige “porque assim o fuel tocava mais repartido” ou de que Fraga trouxera “pam fresco para todos” após a sua visita a Madri, ou por que o próprio Fraga di que “solucionaremos o problema do Prestige com ajuda de Deus e de Santiago Apóstolo”? Todos os que protagonizárom esse festival de despropósitos... nom tenhem responsabilidade nengumha?

Acidente ferroviário


No caso do comboio acidentado neste verao, há umha polémica sobre o longo de via e o sistema de frenado, que nos trechos galegos da linha Ferrol-Madri som diferentes que no resto do percurso. Nom demorárom em surgir vozes “autorizadas” que justificárom tal circunstáncia no facto de que se tratou de umha medida de poupança amparada no palavra de ordem da austeridade. Chegou-se a dizer que realmente nom eram imprescindíveis nem umha cousa nem a outra para a circulaçom de comboios de alta velocidade. Se isto é assim, por que se implementa o longo europeu em todo o percurso até justamente chegarmos a território da CAG e por que se implementárom os dispositivos de freado teoricamente necessários no resto da linha, exceto precisamente na Galiza? O estado espanhol nom escatima em investimento no que di respeito da segurança em toda a meseta ibérica, com umha acidentalidade geográfica mais bem escassa, e justamente às portas da Galiza, com um território muito mais acidentado, alguém se dá conta de que realmente nom é necessária essa dotaçom em segurança e lembramo-nos tod@s de que há que ser auster@s? Por que nom se fixo ao revés? E por que na Junta da Galiza e nos concelhos nengum mandatário levantou a voz nesse sentido? Algumha cousa cheira a podre; essa cousa som as cumplicidades desde o poder autonómico e local. Também as prováveis manobras “de poupança” tenham a sua parte podre: se calhar tirando dos fios vamos dar aos “envelopes genoveses”.

Só desde o desprezo absoluto à Galiza e ao povo galego como coletivo humano se pode explicar o desleixo em matéria de segurança civil e ambiental, e a impunidade absoluta quando acontecem desgraças de alcance ambiental, social e humano como as que temos sobre este lenço. Resulta-me impossível de acreditar que a situaçom fosse a mesma se um acidente ferroviário das dimensons do de Compostela acontecesse em Barcelona ou um petroleiro como o Prestige afundasse no Mediterráneo. Isto acontece porque estamos na Galiza, nós somos galeg@s e a Espanha o único que lhe interessa de nós som os nossos votos, o dinheiro dos nossos impostos, a exploraçom dos nossos recursos naturais (o espólio energético que nos estám a fazer) e que fagamos de carne de canom nas suas forças de segurança e o seu exército. Nesse sentido, quase que umha relaçom colonial, só que tristemente os emissários e braços executores da opressom som tam filhos desta terra como nós própri@s.

A prova palmária de que nos continuarám marginalizando e descriminando, apesar de que para o que lhes convém sim que somos “tan españoles como el que más”, é que dez anos depois da tragédia do Prestige, mais aló de que como já conhecemos ninguém irá a prisom a conseqüência do acontecido, nom se tomou nengumha medida das reclamadas polo movimento popular para evitar catástrofes de caraterísticas similares num futuro: nem barcos anti-poluiçom, nem mudanças legislativas para que se otimizem as medidas de segurança dos navios que transportarem mercadorias perigosas, nem absolutamente nengumha mudança a nível logístico, legal, disuassório, político... quando voltar a acontecer, voltará o ronsel de faces compungidas e de discursos com lugares comuns e volta a começar.

O mesmo podemos dizer no caso do acidente ferroviário. Fazer pagar aos responsáveis? Nom. Tomar medidas para que nom volte acontecer? Nom. Entom quê? Pois que pague o pato o maquinista, e que as cousas continuem como estavam. Para que nos vamos molestar em mudá-las? É a Galiza! Som galeg@s! Nom vam protestar!

Nom se pode continuar com Espanha, Espanha é a nossa ruína. Espanha é a fonte dos nossos problemas e nom pode em nengum caso ser a origem de nengumha soluçom. Nom podemos continuar sob a dominaçom de um imperialismo espanhol que nos degrada como seres humanos. O determinismo étnico-político do espanholismo raia o racismo e lembra muito aos nazis. Fede. Ramiro Vidal – Galiza in “Diário Liberdade”

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