Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Catalunya e Europa

As palavras do comissário Joaquin Almunia sobre a impossibilidade do encaixe duma Catalunha soberana dentro da Europa vem de trazer à tona a clareza duma posição de força que desenha no continente a abertura dum novo “modus operandi”, ainda que condizente no fundo e variante na forma, com os realizados no passado. Isto é: o da clareza de saber que a União Europeia só atua nos casos de soberania por interesses económicos ou condicionantes geopolíticos. Além de comprovar que o poder dos Estados segue a ser o grande entrave da consolidação dessa suposta União.

As cadeias que agora a Europa tece junto com a Espanha sobre o entusiasmo catalão têm a sua correspondente correlação na comprovação prática da já famosa visão de Gandhi, de serem as cadeias que se cerram sobre o oprimido as mesmas que afogam o opressor.

Catalunha tem demonstrado uma muito correta aposta democrática na sua encenação da chamada “via Catalã”. Factos são factos; visões são visões: Catalunha tem nome de mulher, no novo paradigma, do novo milénio. O fim do patriarcado traz consigo um ressurgir dos caracteres associados ao feminino, entre eles o sentimento fundo de pertença à terra; unidos a valores masculinos tão primordiais como a clareza (a clareza da Europa da força, a clareza da determinação catalã). Na construção desse novo paradigma que, onda a onda, vai deslocando a velha matriz construída através da visão racionalista – herdada de Descartes e Newton – a física quântica tem mostrado um vigor inquestionável. Sem as achegas da física quântica hoje não poderíamos falar de modernidade: Internet, a revolução das telecomunicações, entre outras descobertas não teriam sentido sem o sustento da raiz quântica. Dentro desta mudança a realidade deixa de ser linear e construída por fatores externos e passa a ser multidimensional e construída desde a consciência. E tudo parece indicar que a consciência catalã está muito enraizada na terra.

Aconteça o que acontecer, se os catalães e catalãs decidem que eles vivenciam já dentro da sua alma a independência como um facto real, isso se traduz – segundo a filosofia quântica – em uma realidade imutável. O resto serão passos necessários e provações inerentes que vão avaliar, no tempo, a firmeza e flexibilidade desta sociedade. Surgirão muitos entraves e pedras de grande tamanho e peso, mas como diz o refrão romeno: “o caminho também é feito de pedras”. Se o povo catalão resguardar a sua independência no fundo do seu coração ninguém lha poderá roubar (podem roubar-nos a casa, o carro... bens materiais, mas ninguém pode roubar-nos aquilo que resguardamos no centro da alma). Sendo que esta jóia a cada dia se tornará mais formosa.

Pelo caminho surgirão múltiplas dificuldades: negociações abertas, negociações encobertas, encontros, desencontros, ilusões, desilusões, frustrações, ressentimentos... Muitos abandonarão a luta por cansaço ou pressão (o qual não deixa de ser humanamente compreensível), no entanto o processo avançará e afinal trará consigo a ansiada liberdade, o de menos é a sua concretização material no tempo; cada processo tem o seu tempo – e a ansiedade pode converter-se numa força muito destrutiva, ao invés de avançar costuma adiar os resultados práticos. Mas se a vontade dos catalães prevalecer e tudo aponta a que a tendência será de fortalecer essa persistência, mais ou menos num futuro próximo teremos uma nação catalã já não só para efeitos práticos, que hoje por vontade maioritária já o é... Como também à luz das formalidades.

Esse Estado será constituído dentro da Europa, e ele regerá relativamente os seus recursos próprios, conforme ao encaixe atual de cessão de soberania em prol da criação de realidades regionais maiores; que paradoxalmente os atuais estados nação da Europa impedem de avançar e no entanto é o único caminho – marcado pelo passo imparável da globalização mundial. Aquela cujo ritmo foi imposto pelas mesmas financeiras elites ocidentais que agora tentam exercitar a sua coação sobre a sociedade catalã.

Que seja esta viagem uma maravilhosa viagem em face da sua liberdade. Aguardamos que no caminho o povo catalão possa trazer um novo ar fresco com o qual contagiar esta nova e velha Europa rumada desde há séculos para os simples e prósperos negócios, e que hoje mais que nunca essa triste realidade se fez evidente. Artur Alonso – Galiza in “Portal Galego da Língua

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