Cidade da Praia – O escritor
moçambicano Mia Couto defendeu, na Cidade da Praia, que os países africanos
lusófonos “estão no grau zero” de conhecimento cultural mútuo, adiantando que
continua a “existir um triângulo tipicamente colonial” no seu relacionamento.
“Estamos no grau zero. Para
conhecer o que se passa ou o que se faz em Cabo Verde ou em Angola ou na
Guiné-Bissau ou em São Tomé e Príncipe tenho de ir à Europa, passo por
Portugal. Esse triângulo tipicamente colonial continua a existir”, disse Mia
Couto.
O escritor moçambicano está em
Cabo Verde, onde hoje será recebido pelo chefe de Estado cabo-verdiano, Jorge
Carlos Fonseca, depois de sexta-feira ter participado numa conversa no âmbito
do festival literário Morabeza.
Em declarações aos
jornalistas, sublinhou a quase inexistência de trocas no domínio da literatura
e o fraco conhecimento em outras áreas, ressalvando a exceção cabo-verdiana na
música.
“Cabo Verde é uma exceção
porque é um grande centro de exportação de música”, disse.
Por isso, o escritor elogiou a
decisão da futura presidência cabo-verdiana da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP) de eleger como prioridade a criação de um mercado comum de
arte e cultura lusófonas.
“Isso é muito bom. Faz falta.
É preciso que se roube a iniciativa que agora esta completamente nas mãos do
mercado. Quem tem o critério de edição é o mercado e isso sozinho não basta. É
preciso que haja qualquer coisa que force um outro critério. Um jovem que não
tem venda e que é bom tem de ser apoiado por alguém e esse alguém tem de ser o
Estado, uma outra voz”, disse.
Durante a conversa com o
público, que decorreu na Biblioteca Nacional, o escritor defendeu também a
existência da “figura de um editor” para a literatura portuguesa, considerando que
tornaria a escrita “mais interessante”.
“No mundo da língua portuguesa
também faz falta uma figura de um editor, como há na literatura anglo-saxónica.
O editor intervém na escrita e discute com o autor, portanto ele é quase um
coautor. Na língua portuguesa acontece o contrário, o autor é como uma entidade
divina”, disse.
A conversa com Mia Couto
inseriu-se na primeira edição do festival literário Morabeza, que decorreu
entre 31 de Outubro a 05 de Novembro, e na qual Mia Couto deveria ter
participado.
Compromissos profissionais
impediram o autor de “Terra Sonâmbula” de vir nessa altura, tendo a sua
participação sido adiada para agora. In
“Inforpress” – Cabo Verde com “Lusa”
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