Cidade da Praia – O escritor
moçambicano Mia Couto defendeu, na Cidade da Praia, que faz falta a “figura de
um editor” na literatura portuguesa para que a escrita seja “mais
interessante”.
Com a sala da Biblioteca
Nacional de Cabo Verde cheia, Mia Couto encerrou a segunda sessão da I
edição de Morabeza- Festa Literária, cuja primeira sessão teve lugar de 31 de
Outubro a 05 de Novembro de 2017, na Cidade da Praia, e hoje foi feita uma conversa
aberta com o autor de Terra Sonâmbula, com a moderação de Tito Couto, da
Booktailors.
Durante esta conversa de mais
de uma hora, Mia Couto falou da sua obra multifacetada, isto é, do seu
envolvimento com a escrita portuguesa, com a sua profissão de biólogo e de uma
tentativa de ser arquitecto.
Para Mia Couto, escrever é
“construir um chão que não existe” e a ideia de haver uma conversa entre a
figura do editor e do autor é muito interessante para desenvolver a escrita,
entretanto esta figura não existe na literatura portuguesa.
“No mundo da língua portuguesa
também faz falta uma figura de um editor, na literatura anglo-saxónico tem. O
editor intervém na escrita e discute com o autor, portanto ele é quase um
co-autor, com a língua portuguesa acontece o contrário, o autor é como uma
entidade divina (…)”, disse.
Tendo como pressuposto a
guerra pela independência de Moçambique, em que há diversas versões sobre a
história, Mia Couto considerou que a literatura não tem a pretensão de
construir uma verdade, mas que ela é um lugar onde essas verdades “podem
conversar”.
Este diálogo, indicou, pode
construir uma nação e pode ajudar um país a construir uma identidade, na medida
em que ela tem a pretensão de mostrar que essas identidades são várias e que
não há uma entidade e que essa identidade não está feita.
Assim como a ideia que o
Ministério da Cultura quer com a realização do Festival Morabeza, de levar mais
jovens a ter o gosto pela literatura e de incentivar o aparecimento de mais
jovens escritores, Mia Couto, com o seu projecto “Fundação Fernando Couto”, tem
trabalhado na mesma ideia de ajudar os jovens Moçambicanos a escrever e a
publicar.
Apesar de afirmar que não
conhece muito bem a realidade cabo-verdiana, o autor de “O gato e o escuro”
acredita que é necessário ajudar os jovens a terem mais gosto pela escrita, de
os ajudar nas suas publicações, e mostrar aos mais pequenos de que vale a pena
contar e ouvir estórias. In “Inforpress” – Cabo Verde
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