O “Parlons Patuá di Macau” é um livro sobre o patuá, fruto da
investigação do jornalista brasileiro Ozias Deodato Alves, a ser publicado pela
editora francesa “L’Harmattan”. A investigação sobre o dialecto foi feita no
tempo livre do autor, que se dedica ao estudo de idiomas minoritários. Em 2015,
indicava à Tribuna de Macau que o livro deveria ser publicado ainda nesse ano.
Superados os problemas inesperados, prevê agora que chegue às livrarias em
2018.
“Espero que o livro esteja à
altura da formidável cultura macaense, cujo teatro cómico é um património da
humanidade”, disse o autor em declarações à Tribuna de Macau. Foi através de
Yuji Himoro, um estudante japonês de São Paulo, que o escritor soube da
existência do patuá. “Tinha a mais absoluta e completa ignorância sobre o
assunto. Movido pela curiosidade, iniciei a pesquisa”.
Em 2015 deslocou-se à cidade
mais populosa do Brasil para conhecer a comunidade macaense aí residente. No
ano seguinte acelerou a redacção para concluir o volume sobre o patuá, e
terminou tudo em Fevereiro de 2017. Pelo meio, foram as novas tecnologias a
permitir-lhe reunir o material para a publicação, visto que nunca se deslocou a
Macau.
“Fiz várias entrevistas usando
o Facebook. Entrevistei, por exemplo, a dona Maria João Ferreira, sobrinha do
famoso poeta Adé, o pai do patuá, por ‘chat’”, explicou Ozias Deodato Alves.
Foi Maria João Ferreira quem
lhe enviou artigos publicados em Portugal e Macau, bem como o apoiou com o
cantonês. “Vale lembrar que há textos em patuá repleto de citações tanto em
português lusitano como em inglês e em cantonês”, comentou. As redes sociais
permitiram-lhe ainda o contacto com Carlos Coelho.
Da comunidade que vive no
Brasil, recorreu a Rogério Luz, que mantém o blog “Crónicas Macaenses”, e
Mariazinha Carvalho, uma autora de teatro cómico em patuá, bem como a Yolanda
Ramos.
O livro é composto por cinco
partes distintas, à semelhança das outras obras da colecção “Parlons”.
Inicia-se com a história do povo que fala o idioma, passa por uma breve
descrição gramatical da língua, por noções de conversação e aborda as
diferentes formas culturais associadas ao idioma, como a literatura, música ou
arte. Termina com léxico patuá-francês e vice-versa.
“O objectivo dos livros
‘Parlons’ não é ensinar a língua, apesar de que há volumes do ‘Parlons’ que são
verdadeiros cursos completos, mas sim descrever o idioma e a cultura do povo
falante do mesmo”, explicou Ozias Deodato Alves.
O autor explicou que o atraso
na publicação do livro foi maioritariamente motivado pela necessidade de
procurar um novo revisor. É agora o actual director da Aliança Francesa de
Florianópolis que se encontra a fazer a revisão da obra, depois de o editor da
colecção “Parlons” se ter afastado do projecto por motivos de saúde. “Mas
acredito que tudo isso vai ser resolvido e o livro sairá neste ano de 2018”,
estimou.
“Acredita-se que no Brasil só
vivam por volta de 20 a 30 falantes do patuá. É uma língua em vias de
extinção”, estimou Ozias Deodato Alves, lamentando que nos censos estatísticos
de 2010 no Brasil não se tenha questionado a população em geral sobre os vários
idiomas que falam. “Se tivesse feito tal pergunta à população em geral,
teríamos hoje números exactos das aproximadamente 300 línguas minoritárias do
Brasil”.
De acordo com o escritor, os
números apontam para um total de 100 falantes de patuá, sendo que o mais
fluente, que falava “como se fosse uma língua viva”, trata-se do “saudoso
Carlos Coelho”, que faleceu em Janeiro.
O livro de Ozias Deodato
Alves, que se auto-intitula de “refugiado linguístico”, terá um público
diferente do esperado. Vai ser publicado em francês e não se prevê uma tradução
para português.
“Ao contrário do Brasil, na
França, quando a editora se interessa pela obra, ela banca os custos da
publicação. E foi assim que eu, um cidadão que nunca foi, até ao presente
momento da vida, à França, já publiquei cinco livros lá”, comentou. Salomé Fernandes – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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