Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Brasil – Livro sobre Patuá pode ser lançado em 2018 em França


O “Parlons Patuá di Macau” é um livro sobre o patuá, fruto da investigação do jornalista brasileiro Ozias Deodato Alves, a ser publicado pela editora francesa “L’Harmattan”. A investigação sobre o dialecto foi feita no tempo livre do autor, que se dedica ao estudo de idiomas minoritários. Em 2015, indicava à Tribuna de Macau que o livro deveria ser publicado ainda nesse ano. Superados os problemas inesperados, prevê agora que chegue às livrarias em 2018.



“Espero que o livro esteja à altura da formidável cultura macaense, cujo teatro cómico é um património da humanidade”, disse o autor em declarações à Tribuna de Macau. Foi através de Yuji Himoro, um estudante japonês de São Paulo, que o escritor soube da existência do patuá. “Tinha a mais absoluta e completa ignorância sobre o assunto. Movido pela curiosidade, iniciei a pesquisa”.

Em 2015 deslocou-se à cidade mais populosa do Brasil para conhecer a comunidade macaense aí residente. No ano seguinte acelerou a redacção para concluir o volume sobre o patuá, e terminou tudo em Fevereiro de 2017. Pelo meio, foram as novas tecnologias a permitir-lhe reunir o material para a publicação, visto que nunca se deslocou a Macau.

“Fiz várias entrevistas usando o Facebook. Entrevistei, por exemplo, a dona Maria João Ferreira, sobrinha do famoso poeta Adé, o pai do patuá, por ‘chat’”, explicou Ozias Deodato Alves.

Foi Maria João Ferreira quem lhe enviou artigos publicados em Portugal e Macau, bem como o apoiou com o cantonês. “Vale lembrar que há textos em patuá repleto de citações tanto em português lusitano como em inglês e em cantonês”, comentou. As redes sociais permitiram-lhe ainda o contacto com Carlos Coelho.

Da comunidade que vive no Brasil, recorreu a Rogério Luz, que mantém o blog “Crónicas Macaenses”, e Mariazinha Carvalho, uma autora de teatro cómico em patuá, bem como a Yolanda Ramos.

O livro é composto por cinco partes distintas, à semelhança das outras obras da colecção “Parlons”. Inicia-se com a história do povo que fala o idioma, passa por uma breve descrição gramatical da língua, por noções de conversação e aborda as diferentes formas culturais associadas ao idioma, como a literatura, música ou arte. Termina com léxico patuá-francês e vice-versa.

“O objectivo dos livros ‘Parlons’ não é ensinar a língua, apesar de que há volumes do ‘Parlons’ que são verdadeiros cursos completos, mas sim descrever o idioma e a cultura do povo falante do mesmo”, explicou Ozias Deodato Alves.

O autor explicou que o atraso na publicação do livro foi maioritariamente motivado pela necessidade de procurar um novo revisor. É agora o actual director da Aliança Francesa de Florianópolis que se encontra a fazer a revisão da obra, depois de o editor da colecção “Parlons” se ter afastado do projecto por motivos de saúde. “Mas acredito que tudo isso vai ser resolvido e o livro sairá neste ano de 2018”, estimou.

“Acredita-se que no Brasil só vivam por volta de 20 a 30 falantes do patuá. É uma língua em vias de extinção”, estimou Ozias Deodato Alves, lamentando que nos censos estatísticos de 2010 no Brasil não se tenha questionado a população em geral sobre os vários idiomas que falam. “Se tivesse feito tal pergunta à população em geral, teríamos hoje números exactos das aproximadamente 300 línguas minoritárias do Brasil”.

De acordo com o escritor, os números apontam para um total de 100 falantes de patuá, sendo que o mais fluente, que falava “como se fosse uma língua viva”, trata-se do “saudoso Carlos Coelho”, que faleceu em Janeiro.

O livro de Ozias Deodato Alves, que se auto-intitula de “refugiado linguístico”, terá um público diferente do esperado. Vai ser publicado em francês e não se prevê uma tradução para português.

“Ao contrário do Brasil, na França, quando a editora se interessa pela obra, ela banca os custos da publicação. E foi assim que eu, um cidadão que nunca foi, até ao presente momento da vida, à França, já publiquei cinco livros lá”, comentou. Salomé Fernandes – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

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