A não responsabilização no
processo sobre as dívidas ocultas, a demora na acusação sobre o caso Embraer e
as ligações de Moçambique com a Odebrech, empresa acusada de esquemas
corruptos, poderão ter pesado para a queda do país no índice sobre corrupção, feito
pela Transparência Internacional.
“Mais uma vez, depois de no
ano passado (2016) ter caído cerca de quatro lugares, no ano de 2017 voltou a
cair mais dois lugares no índice da Transparência Internacional, o que
significa que em dois anos registou uma queda de seis lugares na pontuação, o que
nunca tinha acontecido desde que este índice começou a ser produzido e
publicado em 1995, o que, dado o prestígio do mesmo, coloca o país numa posição
que o desprestigia”, diz o documento divulgado, hoje, pelo Centro de
Integridade Pública (CIP), para depois acrescentar que “esta acentuada queda de
Moçambique não pode estar alheia às matérias relacionadas com as dívidas
ilegais contraídas no consulado do ex-Presidente, Armando Guebuza, mas que na
actual governação do Presidente Filipe Nyusi continuam sem que sejam
esclarecidos os contornos que conduziram à sua contratação”.
E a péssima posição de
Moçambique não só se nota nos 183 países do mundo avaliados em 2017, como
também na SADC. Na região ocupa a décima posição, de um total de 14 países.
Piores que Moçambique estão apenas Madagáscar, Zimbabwe, República Democrática
do Congo e Angola.
“É de realçar que os países em
questão continuam problemáticos em matérias de governação e combate à
corrupção, com destaque para a República Democrática do Congo a braços com uma
crise política, Zimbabwe que se acha num período de transição política e Angola
com índices de corrupção altíssimos. Portanto, são países a que não nos devemos
orgulhar de estar acima deles em matéria de combate e controlo da Corrupção”,
diz o documento divulgado ontem.
“De 2012 a 2015 o país está
estagnado. Praticamente que não avança nem recua. O que significa que, ou estão
a ser aplicadas as medidas que não são eficazes para combater a corrupção ou o
país não está comprometido nesta questão de combate à corrupção”, ressalvou
Baltazar Fael, investigador do Centro de Integridade Pública, a quem coube
apresentar o documento da Transparência Internacional, instituição
internacional baseada na Alemanha, que avalia o combate a corrupção em vários países
do mundo.
Quanto aos Países de Língua
Oficial Portuguesa (CPLP), Moçambique continua igualmente na cauda. Perde para
Portugal (29º), que está na primeira posição no que se refere ao combate à
corrupção, Cabo-Verde (48º), São Tomé e Príncipe (64º), Timor-Leste (91º) e Brasil
(96º).
“No que tange à comparação
entre os Países de Língua Oficial Portuguesa, Moçambique (153º) apenas suplanta
Angola (167º), Guiné Equatorial e Guiné-Bissau, (ambos no 171º) como aconteceu
em 2017. Quer isto dizer que também não se registaram quaisquer progressos.
Angola tem uma corrupção endémica”, refere o Centro de Integridade Pública.
O Centro de Integridade
Pública diz que o Governo deve ser mais proactivo no combate ao fenómeno da
corrupção e salienta que os tribunais deviam mesmo ter secções apenas focadas a
julgar casos de corrupção, de modo a flexibilizar o esclarecimento.
“Porque a não ser assim, de
facto os tribunais têm casos de réus detidos e tem que dar prioridade a esses
casos. Então para que haja igualdade é preciso que o Ministério Público tenha
uma instituição especializada (que o Gabinete Central de Combate à Corrupção) e
os tribunais tenham também secções especializadas para dar vazão a estes casos
de corrupção”, argumentou Fael. José João
– Moçambique in “O País”
Aceda ao relatório da Transparency
International aqui
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