Pela primeira vez na história,
a China ultrapassou os Estados Unidos em uma medida importante: no volume de
artigos científicos totais publicados, uma estatística reveladora dos avanços
rápidos que a nação asiática fez no cenário mundial nas últimas décadas.
A descoberta veio do relatório
bienal de “Indicadores de Ciência e Engenharia” (Science and Engineering
Indicators), um relatório publicado pela Fundação Nacional de Ciência (NSF) dos
Estados Unidos, que rastreia inúmeros marcadores de conquista científica em
diversos países.
O relatório concluiu que os
Estados Unidos ainda são o líder mundial em ciência e tecnologia, exceto por
essa categoria vital.
“O relatório deste ano mostra
uma tendência na qual os EUA ainda lideram por muitas medidas de C&T
[ciência e tecnologia], mas nossa liderança está diminuindo em certas áreas que
são importantes para o nosso país”, disse a presidente do conselho da Fundação
Nacional de Ciência americana, Maria Zuber.
Volume
e citação de artigos
Em 2016, a China publicou mais
de 426 mil estudos científicos indexados pela SciVerse Scopus, um banco de
dados de artigos de revistas acadêmicas, da Editora Elsevier.
Isso representa cerca de 18,6%
do total internacional. De forma inédita, os Estados Unidos ficaram em segundo
lugar, alcançando 409 mil artigos publicados.
Apesar disso, a produção dos
Estados Unidos ainda ultrapassa a da China quando se trata de citações de
artigos científicos, embora nenhuma das duas nações seja líder mundial nesse
quesito.
A Suécia e a Suíça produzem as
publicações mais citadas, seguidas pelos Estados Unidos, a União Europeia e
depois a China.
Os
líderes em C&T
O relatório americano também
mostra os pontos fortes de diferentes nações no campo científico.
Por exemplo, pesquisadores dos
Estados Unidos e da União Europeia produzem mais artigos (e patentes) sobre
ciência biomédica, enquanto a China demonstra liderança na pesquisa de
engenharia, assim como a Coreia do Sul.
Quanta
grana está rolando?
No quesito financeiro, os
Estados Unidos ainda demonstram uma liderança impressionante, gastando mais que
todos os outros países em pesquisa e desenvolvimento (P&D): US$ 496
bilhões, ou 26% do total global. Além disso, trazem o maior investimento, de
quase US$ 70 bilhões.
Mas a China não está muito
atrás, com suas despesas de P&D crescendo rapidamente, em uma média de 18%
ao ano desde 2000, enquanto a média de crescimento dos Estados Unidos tem sido
de apenas 4%. Hoje, os chineses já gastam US$ 408 bilhões (21% do total global)
com pesquisa, obtendo US$ 34 bilhões em investimento em 2016.
Essa é provavelmente a
estatística mais impressionante do relatório. De acordo com o economista Robert
J. Samuelson, escrevendo em uma coluna do jornal The Washington Post, os
números chineses são de tirar o fôlego. “A China se tornou – ou está à beira de
tornar-se – uma superpotência científica e técnica. Não devemos esperar nada
menos”, argumentou.
Atrás
do prejuízo
De maneira geral, o que os
indicadores mostram é que os Estados Unidos estão perdendo território
científico rapidamente, especialmente para a China.
“Os EUA continuam a ser o
líder mundial em ciência e tecnologia, mas o mundo está mudando. Não podemos
dormir no volante”, falou Zuber à Nature.
Se o país for o reflexo de sua
liderança, os Estados Unidos provavelmente continuarão ladeira abaixo, uma vez que
seu atual presidente, Donald Trump, não é um grande fã da ciência. Talvez
consequências financeiras e políticas mais imediatas, como assistir de camarote
o levante chinês, o levem a mudar de ideia.
O relatório está disponível para consulta,
em inglês, no sítio da Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos. Natasha Romanzoti – Brasil in “Hypescience”
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