Portugal
recupera-se de uma das piores crises da sua história recente. A economia cresce
e o país volta a ser interessante para os investidores. Andrea Weisskopf chegou
há pouco em Lisboa para abrir uma filial de uma grande empresa suíça de
software. O que não esperava é que os engenheiros portugueses fossem disputados
por tantos concorrentes
Cenas do passado: armazéns de
secos e molhados na freguesia da Graça, com funcionários que conhecem os
clientes pelo nome e pesam os grãos na balança no balcão. Ou os alfaiates na
Baixa, onde o vendedor traja fatos (ternos) de tecido inglês e usa no punho uma
almofada com alfinetes. Isso passou. Hoje a moderna Lisboa é muito diferente.
Em um centro empresarial na Avenida da República, no centro da cidade, dois
andares são partilhados por inúmeros startups
em sistema de "co-working space".
Na porta de entrada, quatro recepcionistas cumprimentam o visitante em inglês.
Em algumas das inúmeras salas, jovens fixam os olhos nos seus computadores ou
discutem em vários idiomas frente a flipcharts
coloridos.
Um jovem de cabelos curtos
espichados, com óculos modernos sem aro, trajando uma fina camisa social azul,
sai de uma das salas e cumprimenta em alemão: "Bem-vindo à AdNovum, no nosso espaço
provisório". Andrea Weisskopf se desculpa por não conseguir ainda falar o
português. Com apenas 37 anos, o suíço é diretor-geral da filial portuguesa da
AdNovum, uma grande empresa suíça de informática que se instalou no país em
março de 2017.
Portugal
atrai investidores
Fundada em 1988 em Zurique por
um grupo de informáticos, a AdNovum é
uma empresa especializada no desenvolvimento de software para setores diversos
como finanças, seguros, telecomunicações, indústria e logística e governo. Hoje
com 600 funcionários, ela tem sua sede em Zurique e filiais em Berna, Lausanne,
Budapeste, Ho Chi Minh (Vietnã), Singapura e agora em Portugal. Na Suíça ela é
mais conhecida por aplicativos de banco e sistemas de pagamento por
dispositivos móveis
O passo dado em direção à
Portugal não se explica pelo clima ameno. "Depois de expandir à Ásia
queríamos abrir uma filial em um país europeu. Escolhemos Portugal pelo nível
elevado das universidades e sua proximidade dos nossos principais
mercados", justifica Andrea. O jovem engenheiro de software se formou em
2005 na Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH, na sigla em alemão). Seu
primeiro emprego foi na empresa de Zurique. Hoje é um dos responsáveis pelo
projeto de "nearshore", a
deslocalização dos serviços feitos na Suíça para outros países, onde há mais
disponibilidade de mão-de-obra qualificada e custos mais baixos.
Andrea chegou em Portugal logo
após ter vivido por três anos no Vietnã, um dos últimos Estados comunistas no
mundo, foi uma experiência que marcou sua vida, mas agora está feliz de ter
retornado à Europa. "Lisboa é uma cidade bastante internacional, com
muitos imigrantes. Aqui você encontra tudo que necessita e a compreensão é
muito mais fácil. Em Ho Chi Minh muitas pessoas ainda não falam o inglês, o que
torna a vida muito mais complicada", lembra-se. E foi caminhando pelas
ruas que percebeu porque os pais, muitos anos atrás, haviam contratados
operários portugueses para fazer um caminho de pedras na frente da casa.
"São milhares de quilômetros de calçamento feitos dessa forma. Eles sabem
fazer esse trabalho", lembra com nostalgia.
Mais
100 programadores até 2022
Junto com ele e outro colega
suíços, a empresa já contratou quatro jovens portugueses, mas o objetivo é
expandir ainda mais. "Queremos contratar mais cem programadores nos
próximos cinco anos", afirma Andrea. A maior dificuldade enfrentada pela
empresa é encontrar jovens talentos, pois o mercado está muito aquecido.
"Chegaram muitas empresas aqui em Portugal interessadas em contratar
engenheiros de software e outros profissionais especializados", diz.
Além disso, ainda existe o
problema do setor imobiliário. Com uma taxa de crescimento de 3% ao ano,
Portugal tem uma das economias mais aquecidas na União Europeia, o que reflete
na oferta de escritórios e residências. "Levei quase um mês para encontrar
meu apartamento em Lisboa. A procura no momento é muito grande", avalia.
Nas horas livres o suíço
aproveita para praticar escalar nas montanhas vizinhas, seu esporte preferido.
Casado com uma Suíça e pai de uma filha de um ano e meio, Andrea também ainda
não teve tempo de se integrar, pois o trabalho ocupa muitas horas do dia. Porém
já dão os primeiros passos. "Temos duas aulas por semana de português em
uma pequena escola", conta com orgulho.
Fora o idioma, também tenta
conhecer melhor o país através de passeios nos finais de semana. O que mais lhe
impressionou até agora foi o Castelo dos Mouros em Sintra. Questionado se pensa
em retornar à sua pátria, o jovem engenheiro ri e responde. "Provavelmente
iremos retornar um dia a Zurique, mas agora estou muito feliz com esse desafio
de construir algo novo em Portugal." Alexander
Thoele – Suíça in “Swissinfo.ch”
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