No
mercado mundial, as grandes empresas armadoras, para se tornarem mais
competitivas, têm construído navios cargueiros cada vez maiores e formado joint
ventures internacionais que permitem o transporte de cargas de um número cada
vez maior de armadores. Essa é a
tendência mundial para a qual o Brasil não está preparado, pois, em razão da
deficiência de infraestrutura, não dispõe de muitos portos para receber esses
navios.
Em
função disso, muitos exportadores não têm acesso a linhas de navegação para
determinadas regiões do planeta porque esses megacargueiros não conseguem
chegar às regiões onde eles estão instalados. Para tanto, esses exportadores
dependem de um transporte doméstico de grandes distâncias – por terra, por mar
ou hidrovia -, o que acaba por encarecer demais o produto, deixando-o sem preço
competitivo no mercado externo.
Na
tentativa de superar essas deficiências, vários portos têm sido erigidos como
hubs logísticos, sem que disponham de capacidade para tal. É o caso do porto de
Santos, o maior da América Latina e responsável por 27% do comércio exterior
brasileiro, que, se dispõe de acessos ferroviário, rodoviário e por cabotagem e
está localizado em região próxima aos grandes mercados produtores e
consumidores, enfrenta um grande obstáculo para se tornar concentrador de
cargas, pois o seu calado de 11,2 metros não permite a entrada de grandes
navios transportadores de contêineres, com capacidade de 5 mil a 8 mil TEUs
(twenty feet or equivalente unit, ou seja, unidade de 20 pés), pois essas embarcações
exigem profundidade de 15 a 16 metros.
A
princípio, imaginou-se que um serviço de dragagem poderia levar o canal do
estuário a uma profundidade de 15 metros, mas, depois de se gastar muitos
milhões de reais, concluiu-se que o calado só poderia chegar a 12,4 metros.
Apesar disso, um grupo de trabalho do Ministério dos Transportes, Portos e
Aviação Civil ainda discute uma proposta de privatização da gestão da dragagem
do porto, que seria realizada por um consórcio formado por arrendatários,
operadores portuários, terminais privados e, possivelmente, pela Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp).
Que
existe a necessidade de serviços de desassoreamento dos canais de navegação e
dos berços de atracação, não se questiona. O que se exige é que haja mais
critério em sua execução, pois, do contrário, continuará a haver o desperdício
de recursos públicos e privados para a obtenção de resultados pífios.
É
claro que o porto de Santos ainda será importante para a economia nacional por
muitos anos, mas não reúne as condições necessárias para se tornar um hub port
completo em razão de sua localização geográfica e incapacidade para receber grandes
cargueiros, a não ser que seja construído um berço de atracação off shore
(avançado no mar), o que exigiria investimentos incalculáveis. Em melhores condições como portos de águas
profundas estão Sepetiba, no Rio de Janeiro, e o Porto Central, em Santa
Catarina.
Portanto,
é urgente definir quais serão os hub ports brasileiros – pelo menos um na
região Sul-Sudeste e outro na região Norte-Nordeste. E a partir daí trabalhar
com mais critério. Milton Lourenço -
Brasil
______________________________________
Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São
Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
Sem comentários:
Enviar um comentário