O Mercosul, criado a 26 de
março de 1991, chega à marca dos 25 anos, senão como uma iniciativa coroada de
êxito, pelo menos como um empreendimento que alcançou mais pontos positivos que
negativos. Reunindo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, países fundadores, e
Venezuela, que completou seu processo de adesão em 2012, o bloco constitui, sem
dúvida, a mais abrangente iniciativa de integração regional já implementada na
América Latina.
Mantém como estados associados
ou estados parte Chile, Peru, Colômbia, Equador, Bolívia, Guiana e Suriname e
abrange 72% do território da América do Sul, espaço equivalente a três vezes a
área da União Europeia; 70% da população sul-americana (275 milhões de
habitantes) e 77% do Produto Interno Bruto (PIB) da América do Sul (US$ 3,18
trilhões de um total de US$ 4,13 trilhões).
Com tamanha capacidade
produtiva, bem que o Mercosul poderia ter avançado mais. E, se não o fez, culpa
não cabe apenas ao Brasil, mas a todos os países-membros que, governados por
regimes presidencialistas centralizadores, mostraram-se reféns da mentalidade
atrasada e da falta de visão global que tem caracterizado seus líderes, que
sempre se deixaram levar por interesses de grupos que, em vez de buscarem a
livre competição, procuraram se abrigar sob o guarda-chuva do protecionismo.
Ainda agora o governo argentino,
que parecia ter deixado para trás essa mentalidade com o presidente Mauricio
Macri, deu mostras de que continua aferrado a políticas protecionistas, que
tornam a integração sul-americana lenta e seus resultados frustrantes. A
Argentina ampliou a lista de itens importados que exigem licenças não
automáticas para entrada no país. A medida, que engloba produtos metálicos, de
ferro, de aço, laminados e máquinas, entre outros, afetando especialmente o
setor automotivo, é uma tentativa de contenção do superávit brasileiro no
primeiro bimestre.
Mesmo com esses problemas,
isso não significa que o Brasil poderia estar em situação mais confortável, se
o Mercosul não existisse. Acusar o Mercosul de constituir o principal obstáculo
para que o País tivesse assinado maior número de acordos com outras nações ou
blocos é desconhecer os meandros da política econômica brasileira. Os
principais opositores à assinatura de novos acordos compõem setores bem
influentes em Brasília: são as indústrias pouco competitivas que impedem esses
acordos e não os parceiros do Mercosul.
É preciso reconhecer que essas
indústrias não são competitivas porque querem, mas também vítimas de um mal
chamado custo Brasil, que as torna incapazes de competir no mercado externo.
Sem contar o receio de europeus e norte-americanos com a competitividade do
agronegócio brasileiro e argentino. Como se sabe, em todo o mundo, o setor
agrícola é o mais protegido por tarifas altíssimas e barreiras sanitárias.
Seja como for, em 2015,
segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC), o Brasil exportou para o Mercosul US$ 18 bilhões, dos quais US$ 15,7
bilhões em produtos industrializados, importando US$ 12,2 bilhões, dos quais
US$ 9,9 bilhões em produtos industrializados. O Mercosul representou apenas
9,4% dos US$ 191,1 bilhões referentes ao total das vendas externas.
Os números mostram que o
Mercosul ocupa uma posição pouco expressiva em relação ao porte da economia
brasileira, atuando ainda como união aduaneira em fase de consolidação, longe
de alcançar a terceira e última fase da integração, que seria o de mercado
comum autêntico. Se, à guisa de balanço, não se pode deixar de reconhecer que,
neste quarto de século, evoluiu bastante, forçoso é reconhecer que ainda há
muito que avançar. Milton Lourenço -
Brasil
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Milton Lourenço é presidente
da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e
da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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