SÃO PAULO – Causa estranheza a
insensibilidade como o poder público vem tratando a questão dos terminais que
operam granéis sólidos de origem vegetal no Corredor de Exportação do Porto de
Santos. Como se sabe, a Prefeitura santista alterou a Lei de Uso de Ocupação do
Solo para impedir a atividade na área da Ponta da Praia, sugerindo que os
terminais sejam transferidos para a área continental do município, pouco
povoada, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu liminar suspendendo a
lei municipal que proíbe as operações.
Com isso, os moradores dos
bairros próximos, Ponta da Praia, Macuco, Estuário, Aparecida, Embaré e
Boqueirão, que estão densamente povoados – inclusive, com prédios de alto
padrão – sofrem as consequências da emissão de partículas e do odor que
resultam da armazenagem e da movimentação de grãos e farelo nos terminais
especializados, além da poluição sonora. Sem contar os caminhões carregados que
costumam derramar pelas ruas grãos, que atraem roedores, pombos e insetos
transmissores de doenças.
As empresas alegam que, com a
segurança jurídica transmitida pela liminar do STF, vêm investindo na melhor
tecnologia disponível no mercado, inclusive com a instalação de shiploader, equipamento utilizado no
embarque de grãos nos navios. Hoje, há em uso um só shiploader, que é compartilhado pelas empresas. Por outro lado, a
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) promete agir, ao lado
de outros órgãos, na fiscalização das operações, lavrando multas cada vez mais
pesadas e até mesmo mandando suspender as operações do terminal, depois da
terceira punição.
Mas, no ambiente de degradação
política em que vive hoje o País, é difícil acreditar que as autoridades sejam
capazes de mitigar os problemas e zelar pela saúde pública. Talvez por isso,
audiências públicas têm sido realizadas na cidade de Santos para debater o
tema, com a presença do promotor de Justiça do Meio Ambiente e diretores da
Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), além de vereadores e
representantes do poder público municipal.
Seja como for, por mais que
promessas sejam feitas, está claro que a melhor saída para a questão é aquela
defendida pela Prefeitura. Caso contrário, o porto de Santos corre o risco de
logo estar na situação de algumas cidades poluídas da China, como Xangai e
Pequim, onde elites pagam quantias consideráveis por poucos segundos de
inalação de ar coletado no interior do Reino Unido. Já aqueles que não podem
comprar o precioso produto... Milton
Lourenço – Brasil
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Milton Lourenço é presidente
da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e
da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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