Geoeconomia,
a nova dimensão da CPLP
Na Cimeira de Díli, a CPLP ganhou uma inédita
dimensão geoeconómica que representa uma evolução qualitativa de imenso
alcance, que coloca novos desafios e que exige grandes mudanças
A CPLP é hoje uma realidade geoeconómica e
ainda, sobretudo, geopolítica em ascendente evolução. Uma realidade a
potenciar, na certeza de que dessa potenciação todos os seus membros
beneficiarão. Este entendimento constitui, aliás, a entretela da “narrativa” da
Cimeira de Díli.
As decisões da Cimeira, na sua generalidade,
vão no sentido desta potenciação da comunidade lusófona global.
O regresso da Guiné-Equatorial ao espaço
lusófono, os casos das candidaturas de regiões (integradas em Estados
não-membros) como a Galiza, Macau ou Goa, a vontade manifestada por Estados não-lusófonos
de obterem um estatuto junto da comunidade, casos da Índia, Japão, Geórgia e
muitos outros, tudo isto são factos de enorme alcance estratégico que abrem
novos horizontes, marcam a afirmação já conseguida e, sobretudo, potenciam a
ascensão da CPLP no xadrez global.
A vontade manifestada, com tenacidade ao
longo de vários anos, pela Guiné Equatorial de regressar e reintegrar a
Lusofonia e os pedidos do Japão, da Índia e de outros para estabelecer laços
especiais com esta realidade geopolítica e geoeconómica, presente em todos os
mares e continentes, mostram bem o sucesso da afirmação da CPLP.
A CPLP nasceu em Julho de 1996 (chegou este
ano à maioridade, ao completar agora os seus 18 anos…) como uma organização
para o “aprofundamento da amizade mútua e da cooperação entre os seus membros”.
É, aparentemente, um objectivo minimalista mas era no contexto da época o mais
racional e o que melhores perspectivas de afirmação e desenvolvimento
proporcionava. Como agora, pela evolução dos últimos anos, bem se comprova.
Laços históricos, culturais e afetivos e o
uso do Português como língua oficial não esgotam o património comum dos
Estados-membros da CPLP. Todos eles são também países de forte cultura
marítima, partilham interesses estratégicos e económicos ligados ao Mar, com
suas vantagens e seus problemas, e ocupam, frequentemente, importantes posições
estratégicas, abertas ao mar. A CPLP é uma instituição de cultura marítima,
aberta ao mundo e às trocas. A sua matriz cultural é avessa a fechamentos e pratica,
naturalmente, uma visão global.
Visto
do Itamaraty
“A CPLP constitui foro privilegiado para o
aprofundamento das relações entre seus Membros, que se beneficiam de laços
históricos, étnicos e culturais comuns. Baseada no princípio da solidariedade,
a Comunidade concentra suas ações em três objetivos gerais: a concertação
político-diplomática; a cooperação em todos os domínios; e a promoção e difusão
da língua portuguesa. No âmbito da concertação política, destacam-se a
coordenação de posições nos foros multilaterais, bem como a cooperação na área
eleitoral, inclusive por meio de missões conjuntas de observadores nas eleições
dos Estados membros.
No tocante à cooperação técnica, vale
sublinhar que os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP),
juntamente com Timor-Leste são, atualmente, os principais recipiendários da
cooperação prestada pelo Brasil, a qual tem priorizado a capacitação nas áreas
de formação profissional, segurança alimentar, agricultura, saúde e
fortalecimento institucional, entre outras. No tocante à promoção e difusão de Língua
Portuguesa, vale destacar o processo de adoção, em 2010, do Plano de Ação de
Brasília para a Promoção, a Difusão e a Projeção da Língua Portuguesa.”
Com toda a justiça, o site oficial do
Ministério dos Negócios Estrangeiros do Brasil destaca o enorme e decisivo
papel desempenhado na concepção, nascimento e desenvolvimento da CPLP pelo
embaixador José Aparecido de Oliveira.
“A proposta de criação da CPLP remonta ao
primeiro encontro realizado entre Chefes de Estado e de Governo de língua
portuguesa, em novembro de 1989, em São Luís do Maranhão, sob iniciativa do
Presidente José Sarney, tendo recebido igualmente forte impulso do Embaixador
José Aparecido de Oliveira, na primeira metade dos anos 1990. Durante o
Encontro de Cúpula no Maranhão, foi decidida a criação do Instituto
Internacional da Língua Portuguesa (IILP), com sede na Cidade da Praia, Cabo
Verde. Considerado o “embrião” da Comunidade, o IILP foi, em 2005, integrado
formalmente à Organização como principal espaço de coordenação para a promoção
e difusão da língua portuguesa. Para a institucionalização da CPLP, contribui,
igualmente, a atuação, na primeira metade dos anos 1990, do Embaixador José
Aparecido de Oliveira, grande entusiasta da idéia de uma CPLP no período em que
foi Embaixador do Brasil em Portugal.”
O Itamaraty destaca a evolução da organização
nascida com minimalistas objetivos genéricos de aprofundar amizade e cooperação
entre os membros.
“Como resultado do dinamismo comunitário, os
mais diversos setores da Administração dos Estados Membros contam, atualmente,
com Reuniões Setoriais Ministeriais, como é o caso das áreas: da Agricultura;
dos Assuntos do Mar; da Cultura; da Defesa; da Educação; da Justiça; da
Juventude e do Desporto; do Meio Ambiente; da Saúde; do Trabalho e Assuntos
Sociais; e do Turismo. Além das Reuniões Setoriais, a Organização congrega
igualmente uma “Assembleia Parlamentar”, que reúne representantes dos
Parlamentos dos oito Estados Membros. Realizam-se, ainda, no âmbito
comunitário, encontros regulares entre representantes empresariais.
“A CPLP apresenta um acervo considerável de
realizações, com crescente projeção para dentro e para fora do espaço dos
Estados Membros. Evidencia-se, paralelamente, notável convergência de
propósitos e a existência de diálogo direto e fraterno entre os parceiros
comunitários.”
A visão brasileira, visão de um dos
impulsionadores decisivos da criação da CPLP, formula assim respostas à
pergunta que, durante muitos anos, muita gente formulou em surdina: “é uma
ideia muito simpática, mas isso serve para quê e que se pode fazer com isso?”.
Ou seja, desde o início, Brasília sempre teve uma visão geopolítica e
geoeconómica da CPLP e não meramente de “clube de língua”.
Uma
Visão Geoeconómica
Jorge Rocha de Matos, presidente da Fundação
AIP e líder histórico dos empresários portugueses, é das poucas personalidades
do panorama empresarial e económico de Portugal que há muito manifesta uma
visão e uma ação no campo geoeconómico da Lusofonia.
“A CPLP – escreve Rocha de Matos – é uma
organização internacional atrativa e no seu espaço encontram-se ativos de
elevado alcance estratégico global. Bacias energéticas de importância mundial e
a economia do mar, são apenas dois desses ativos estratégicos. São, pois,
muitas as razões que nos permitem afirmar que há todo o interesse em fomentar
uma dinâmica empresarial intra-CPLP. E, essa dinâmica é inquestionavelmente um
exercício de soma positiva, de que todos beneficiam. É esta a percepção que
sempre quisemos veicular, desde o ato fundador da Confederação Empresarial da
CPLP (CE-CPLP), a que tive o privilégio de estar associado.”
Ao explicar a sua visão e filosofia de
atuação, o presidente Rocha de Matos destaca que a Fundação AIP coloca ao
serviço desta estratégia os seus recursos e o seu ‘know-how’, muito
particularmente no que à internacionalização da economia portuguesa para o
espaço da CPLP diz respeito, para onde aliás são dirigidas várias dezenas de
iniciativas.
“O futuro da CPLP, em larga medida, vai
depender da capacidade de entrosamento das comunidades empresariais e das
empresas dos diferentes países que a compõem. E isso requer uma estratégia
coerente e um trabalho qualificante permanente visando a afirmação competitiva
do espaço de língua portuguesa no contexto da globalização. Creio que o momento
que se vive é crucial para seguir esta trajetória de afirmação, como o
demonstra, aliás, a recente integração da Guiné Equatorial. E a vontade de
aproximação à Instituição manifestada também por vários países. Os valores
identitários, a língua portuguesa e a geoeconomia são a razão de ser desta
atratividade.”
Fator
Multiplicador do Mercado
“Cada um dos países da CPLP – afirma o
empresário – vale não só pela importância do seu mercado interno mas também
pelos mercados da região económica em que se insere. Isto permite passar de um
mercado da ordem dos 260 milhões de consumidores para um mercado potencial de
cerca de 1,8 mil milhões de consumidores.
“Esta estratégia, em que cada uma das
economias é vista como uma “porta de entrada” para as diferentes regiões
económicas, pressupõe capacidade de internacionalização, criação de plataformas
empresariais, um trabalho qualificante permanente, uma rede de conhecimento
intra-CPLP, uma rede associativa empresarial forte e um conjunto de
instituições qualificantes trabalhando em estreita ligação com estas,
particularmente, no que se refere à internacionalização empresarial.
“Esta tem sido também a nossa filosofia de
atuação no quadro da Fundação AIP, colocando ao serviço desta estratégia os
seus recursos e o seu saber, nomeadamente em matéria de organização de espaços
feirais e outros eventos, e muito particularmente no que à internacionalização
da economia portuguesa para o espaço da CPLP diz respeito, para onde aliás são
dirigidas várias dezenas de iniciativas”.
Dez
Anos Depois…
A Guiné Equatorial foi, desde D. João II, uma
das primeiríssimas bases em África das navegações atlânticas portuguesas.
Quando o “Príncipe Perfeito” se intitulou de “Senhor da Guiné” era a esta Guiné
que se referia e não a qualquer outra. Passados quase quatro séculos e reinando
em Lisboa D. Maria I, a Louca, ilhas e terra firme da Guiné foram trocadas por
posições na fronteira sul do Brasil. O Tratado do Pardo oficializou esta troca
de territórios entre Lisboa e Madrid (e em que as populações guineenses não
foram ouvidas…) e assim nascia a… Guiné Espanhola, que em 1968 se
independentizou e se chamou Guiné Equatorial.
Além de fortes conexões culturais, familiares
e históricas com São Tomé e Príncipe, um crioulo português mantinha-se (e
mantem-se) ainda como língua dominante em alguns territórios do país (na ilha
de Ano Bom, por exemplo) pelo que, logo na fundação da CPLP, a Guiné Equatorial
pediu a sua reintegração na Lusofonia, solicitando o estatuto de observador da
organização.
Simbolicamente, foi em São Tomé e Príncipe,
na cimeira da CPLP de Julho de 2004, que a entrada como membro de pleno direito
da Guiné Equatorial começou a ser discutida. Na impossibilidade de realizar
essa adesão a curto prazo, os Estados-membros decidiram aceitar observadores
associados… Decisão oficializada em Luanda, no ano seguinte, durante uma
reunião do Conselho de Ministros da CPLP. Em Junho de 2010, a Guiné Equatorial
pediu formalmente para ser admitida como membro de pleno direito.
Na Cimeira de Luanda, Julho de 2010, a CPLP
decidiu abrir negociações formais com a Guiné Equatorial sobre a sua adesão
plena à organização e estabeleceu-lhe um “roteiro” para essa adesão.
Dez anos depois da Cimeira de S. Tomé, onde o
assunto havia sido tratado pela primeira vez, a Guiné Equatorial tornou-se,
finalmente e por consenso geral, o nono membro da comunidade lusófona global,
na Cimeira de Díli, a 23 de Julho deste ano.
A CPLP
Hoje
Os sete membros iniciais (Angola, Brasil,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe) são hoje
nove, depois da entrada de Timor (em 2002, após a retirada do invasor
indonésio) e da Guiné Equatorial, na recente Cimeira de Díli (23 Julho 2014).
Mas aos Estados-membros é agora preciso um número crescente de observadores.
O estatuto de observador associado foi
adotado em Conselho de Ministros da CPLP (Luanda, 2005) “para promover uma
melhor cooperação internacional para alcançar os objetivos da Comunidade”.
Atualmente, seis Estados têm esse estatuto. Três localizam-se em África
(República de Maurícia, Namíbia e Senegal), dois na Ásia (Geórgia e Japão) e um
é euro-asiático (Turquia).
Foi na VI Conferência de Chefes de Estado e
de Governo (Bissau, Julho de 2006) que os primeiros observadores foram
admitidos: a Guiné Equatorial e a República das Maurícias (um Estado
arquipelágico do Índico descoberto pelos Portugueses em 1505 e constituído por
ilhas com nomes bem interessantes: Mascarenhas, Maurícia, Rodrigues, Cargados,
Carajos e Agalega…). Dois anos depois, foi a vez do Senegal, devido à secular
presença portuguesa, sobretudo na região de Casamansa, e aos laços históricos
(o presidente Senghor, fundador do moderno Senegal, sempre afirmou a sua
ancestralidade portuguesa e sempre explicou que o seu nome era a palavra
portuguesa Senhor…). Em Díli, agora, a CPLP aprovou as candidaturas de quatro
novos observadores: Japão, Turquia, Namíbia e Geórgia.
Em espera está uma vintena de candidatos ao
estatuto de “observador”, entre Estados e Regiões, cujos processos se
encontram, porém, em fases diferenciadas: Índia, Marrocos, Andorra, Filipinas,
Venezuela, Croácia, Roménia, Ucrânia, Indonésia, Suazilândia, Austrália,
Luxemburgo, Peru, Albânia, Taiwan, Galiza, Macau e Malaca. In "CEO Lusófono" - Portugal
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