SÃO PAULO –
Desde quando ao final do século XVIII D. Bernardo José Maria de Lorena e
Silveira (1756-1818), governador e capitão-general da capitania de São Paulo,
mandou construir na Serra do Mar uma calçada empedrada destinada a facilitar a
descida e subida de tropas de muares que transportavam principalmente açúcar,
que o Porto de Santos passou a desempenhar papel estratégico no escoamento da
produção agrícola. Ainda hoje 50% de toda a safra brasileira são exportados
pelo complexo portuário santista.
Essa leitura
pode ser feita também por estes números levantados pela Companhia Docas do
Estado de São Paulo (Codesp): 35% da soja em grãos seguem pelo Porto de Santos,
dos quais 82% têm como destino a China. Desse total, 55% vêm do Mato Grosso,
19% de Goiás e 17% do interior de São Paulo. Na exportação de açúcar, o porto
santista mantém também a liderança: hoje 69% de todo o produto escoado pelos
portos nacionais saem por Santos. Do total, 84% são provenientes do interior
paulista. Mais: 26% da exportação de milho saem pelo Porto de Santos com
destino ao Vietnã, Malásia e Taiwan.
Já 77% da
movimentação de café dão-se pelo porto santista. Desse total, 54% vão para a Europa,
25% para a América do Norte, 15% para a Ásia, 3% para países da América do Sul
e o restante para nações diversas. Essa movimentação faz de Santos o grande
porto agrícola do País, posição que deverá ostentar por longos anos, já que o
agronegócio bate um recorde atrás de outro em volume de produção e
produtividade.
Mas,
fazendo-se outra leitura dos números, essa posição de destaque de Santos só se
dá em razão da ausência de uma infraestrutura adequada dentro do País. Faltam
rodovias, ferrovias e rede hidroviária capazes de oferecer alternativas mais
curtas e baratas. Para superar a perda de competitividade provocada por fretes
altos em razão da longa distância, o agronegócio aposta na incorporação de
tecnologia e na mecanização, o que permite manter a produção, mesmo em
condições climáticas desfavoráveis.
Santos mantém
a liderança também porque os demais portos não estão preparados para assumir
fatias maiores. E o resultado disso representa um impacto sobre a população
santista que vive próximo ao porto, atingindo pelo menos 90 mil moradores, já
que não há confinamento da carga para que não fique aberta à atmosfera.
Tampouco há um sistema operacional eficaz com equipamentos modernos, com
exceção talvez dos shiploaders que embarcam açúcar. Mesmo assim, têm
sido frequentes incêndios que deixam à mostra deficiências na questão da
segurança.
Diante desse
quadro, melhor seria se houvesse por parte do governo federal mais empenho em
favor da diversificação dos portos. Afinal, passam por Santos hoje 67% do
Produto Interno Bruto (PIB) e 26% do comércio exterior brasileiro. Trata-se de
uma flagrante anomalia. O ideal seria
que o Porto de Santos se qualificasse melhor, atraindo cargas de maior valor
agregado e menor volume, o que só será possível com a criação de alternativas
no sentido do Norte para o escoamento das safras, que desafoguem os portos do
Sul e Sudeste. Milton Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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