Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Brasil – Registo da celebração da abolição da escravatura em maio de 1888

Bendito o olhar de lince de Andrea Wanderley, que identificou o rosto de Machado de Assis na foto de Antônio Luiz Ferreira da missa celebrada em 17 de maio de 1888, no Campo de São Cristóvão, em ação de graças pela passagem da lei do dia 13 desse mês que abolira a escravidão no Brasil.


A foto está disponível no portal Brasiliana Fotográfica, fantástica iniciativa da Biblioteca Nacional em parceria com o Instituto Moreira Salles. Outras figuras são identificáveis, além, naturalmente, da princesa Isabel e do conde d’Eu. O presidente do Conselho de Ministros do Gabinete conservador que fez passar a lei, João Alfredo Correia de Oliveira, está à direita de Isabel, um pouco abaixo.

Os responsáveis pelo portal veem José do Patrocínio à frente do grupo, segurando a mão do filho. Ampliando o foco, deverão aparecer outros políticos e outros militantes da causa abolicionista. Nabuco não foi à missa, mas André Rebouças, quase íntimo da família imperial, estava lá. Também certamente estavam seus companheiros da Confederação Abolicionista, com quem se fizera fotografar na véspera, acompanhados de Ângelo Agostini, João Clapp, presidente da Confederação, Taunay, grande amigo de Rebouças, Silveira da Mota, filho, Quintino Bocaiúva… Dezenas de outros certamente também estavam presentes e podem ser, eventualmente, identificados.


A escravidão no Brasil foi bastante fotografada, mas a abolição, sobretudo a semana de 13 a 20 de maio, nem tanto, mesmo na capital onde havia muitos fotógrafos. A razão disso não sei. É quase total a ausência de fotos fora da Corte (há apenas duas), quando se sabe que as festividades ganharam todo o país. Mas a consequência disso é que os poucos registros até agora descobertos, umas 25 fotos, ganham extraordinária importância. E o destaque vai todo para Antônio Luiz Ferreira, autor das 15 fotos com que presenteou Isabel. Sua foto mais espetacular é, sem dúvida, a da sessão da Câmara do dia 10 de maio, quando foi aprovado o projeto da abolição. A foto mais curiosa é a de Luís Stigaard, tirada na colônia Isabel, no Rio Grande do Sul. Retrata dezenas de colonos, imigrantes europeus, disciplinadamente organizados em filas, comemorando a abolição, em contraste com a exuberância das celebrações na capital do Império.

Mas o registro importante hoje é a descoberta de que Machado foi à missa. Não era pessoa de frequentar igrejas. Também não apreciava manifestações multitudinárias. Mas a essa missa, a esse ajuntamento de milhares de pessoas, ele compareceu e fica claro na foto seu esforço para aparecer, prensado entre duas robustas figuras uniformizadas. Anos depois, em crônica (Gazeta de Notícias, 14/5/1893), ele anotou sobre o 13 de maio, “Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto”. A missa foi continuação do delírio e é muito bom saber que o tímido, circunspecto e cético Machado estava lá. José M. de Carvalho – Brasil in “Blog de São João del-Rei“ - Crônica escrita em 29 de maio de 2015

José Murilo de Carvalho - ( Piedade do Rio Grande, 08/09/1939 Rio de Janeiro, 13/08/2023) Foi um cientista político e historiador mineiro, membro da Academia Brasileira de Letras, de 2004 a 2023.

Foi o sexto ocupante da cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 11 de março de 2004 na sucessão de Rachel de Queiroz. Foi recepcionado em 10 de setembro de 2004 pelo acadêmico Affonso Arinos de Mello Franco.

A partir da investigação inicial sobre o Império, José Murilo de Carvalho expandiu sua investigação para as relações cidadãs no Brasil, de que resultou, entre inúmeras publicações relevantes, o livro "A construção da cidadania no Brasil", publicado pela Civilização Brasileira e com o qual conquistou o prêmio Casa de las Americas em 2004. Na sua opinião, “o cidadão vota racionalmente, mas preso ao mundo da necessidade". E acrescenta: "É um voto que tem limitações decorrentes da desigualdade social”, "há uma questão de dependência do Estado”.

Em 2022, Murilo se desencantara com o seu país: "O Brasil não será um grande país. Não há nada a celebrar nos 200 anos da Independência..."

Ligação: https://oglobo.globo.com/cultura/livros/noticia/2023/08/13/em-2022-jose-murilo-de-carvalho-se-desencantava-o-brasil-nao-sera-um-grande-pais.ghtml

Recebeu os seguintes prêmios: de melhor livro em ciências sociais de 1987 da ANPOCS por seu livro Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987; e o Prêmio Jabuti, em duas ocasiões: em 1991 por sua obra A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990 e em 2008, com Dom Pedro II: ser ou não ser.

Dentre suas muitas obras, vale lembrar que escreveu ainda os seguintes livros: A construção da ordem: a elite política imperial. Rio de Janeiro: Campus, 1980; Cidadania no Brasil: O longo caminho. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2001; Dom Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras, 2007; Nação e cidadania no Império: novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007; Histórias que a Cecília contava. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008; A Academia Brasileira de Letras, subsídios para sua história (1940-2008). Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2009; O Pecado Original da República. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2017.

Eis o depoimento de Arnaldo Niskier sobre José Murilo de Carvalho, seu colega de ABL: "Sou testemunha do quanto o acadêmico José Murilo de Carvalho trabalhou pela cultura do nosso país, como historiador excepcional que foi, mas também no âmbito da Academia Brasileira de Letras, o quanto ele coordenou, com paixão, o nosso arquivo. Ele deu vida ao arquivo da Academia Brasileira de Letras e, sempre presente, emprestou o brilho da sua inteligência e da sua cultura à casa de Machado de Assis. Nós estamos sofrendo muito a perda dele:  ele na verdade é insubstituível." Francisco Braga – Brasil in “Blog de São João del-Rei”

Francisco José dos Santos Braga - (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei)





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