Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 22 de outubro de 2017

Lusofonia - Sabores de Moçambique à moda do Porto

A representante de Moçambique na edição deste ano da mostra “Sabores do Mundo”, que terminou hoje na Torre de Macau, é proprietária do único restaurante africano da cidade do Porto. Aberta há cinco anos, a casa da Tia Orlanda recria Moçambique à beira Douro e já se tornou uma referência da Invicta.

Orlanda Barros chegou a Macau com dois anos e um voo de atraso por causa de um cancro que lhe avinagrou os dias. Agora, que a doença lhe mostrou aparentemente alguma candura, abraça o que diz ser “o maior desafio da vida”, duas intensas semanas em que veste a Oriente o papel de embaixadora do melhor que Moçambique tem para oferecer à mesa: “Nunca pensei estar num evento destes. Quero fazer o meu melhor, espero corresponder e espero que as pessoas gostem”, confessa, uma nota de incredulidade, gingando ainda na voz.

O convite para visitar Macau, para reforçar a fraternidade lusófona que por estes dias faz o conceito saltar do papel para o palco e do plano das boas intenções para o prato, tem dois anos e foi feito – e repetido – por Helena Brandão, presidente da Associação dos Amigos de Moçambique em Macau.

Presa às circunstâncias da vida (mas nunca derrotada, deixa adivinhar o timbre caloroso da voz), Orlanda Barros foi adiando a romagem ao Oriente e mesmo este ano, Macau esteve para não acontecer. Uma brecha pouco habitual no rigor da pontualidade germânica deixou no chão, por uma série de infindáveis horas, o avião da Lufthansa que acabaria por trazer Orlanda até ao Oriente. Resultado: quando a cozinheira zambeziana chegou ao território, na sexta-feira passada, já a mostra “Sabores do Mundo” – que decorre até domingo, na Torre de Macau – tinha começado.

Na mala – a mesma que Orlanda Barros segurou, incrédula, entre as mãos enquanto esperava, num aeroporto alemão que a trouxesse a Hong Kong – trouxe os sabores de Moçambique: um Moçambique recriado entre a pedraria granítica do coração do Porto, à sombra da Torre dos Clérigos, mas ainda assim, Moçambique.

Em Portugal há mais de três décadas e meia, Orlanda Barros – pergunte pela Tia Orlanda na Invicta e dir-lhe-ão quem é – abriu em 2012 o único restaurante africano do Porto e o sucesso, temperado com caril de caranguejo e feijão com coco e regado com pombe ou lipipa, não tardou a surgir: “É visitado por toda a gente, mas principalmente por pessoas que estiveram em Moçambique e têm alguma recordação de Moçambique. Alguns vão ao restaurante também por influência de familiares”, adianta Orlanda.

Sem dissimular o orgulho, a cozinheira avisa que para quem visita o Porto e quer provar uma matapa, um caril de gambas, um caril de frango com coco ou outras pérolas da gastronomia do Índico o melhor é mesmo não arriscar e reservar com antecedência. A procura tem sido tanta que Orlanda Barros admite que se tem mantido indiferente aos milhares de turistas e visitantes que assomam diariamente ao Porto: “Eu estou à espera do povo português e do moçambicano, das pessoas que se fidelizam na minha comida e que gostam dos pratos que eu preparo. O turista vem hoje e já não vem amanhã e eu quero o tipo de clientes que experimentam hoje e regressam amanhã”, confessa.


Neta de um grego, filha biológica de um indiano e adoptiva de um português, Orlanda Klyronomous Barros Barbosa apresenta por estes dias, na Torre de Macau, o melhor de uma gastronomia que é, como ela, um caldo de culturas: “O meu propósito é o de trazer para aqui a matapa, que é a nossa verdadeira comida. A matapa é um prato que junta folha de mandioca com amendoim e coco. Pode-se fazer a variante vegetariana ou então meter-se um bocado de marisco. O mais frequente é o camarão ou o caranguejo. Trago também o caril de caranguejo e o caril de gambas e mais uma ou outra coisa: o caril de frango com amendoim e o caril de frango com coco. Estes são alguns dos pratos que tenciono confeccionar em Macau”, revela. In “Ponto Final” - Macau

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