Embora seja definida como instrumento
de defesa da língua portuguesa e “uma comunhão de afetos” pelo ex-embaixador
português Adriano Moreira, 91 anos, especialista em relações internacionais e
outro grande batalhador pela criação da entidade, a CPLP começou a se
transformar em bloco econômico – aliás, o único que partiu da identidade
linguística entre os seus aderentes –, trilhando um caminho natural no mundo de
hoje, ainda que tivesse de ferir alguns de seus princípios.
Foi o caso da inclusão da Guiné
Equatorial no bloco, formalizada em julho de 2014, depois de um processo de
amadurecimento que levou dez anos e culminou com a adoção do Português pela
nação africana como uma de suas línguas oficiais e a abolição da pena de morte
no país. É de se lembrar que a Guiné Equatorial foi colônia portuguesa entre os
séculos XV e XVIII, mas a presença hoje da língua portuguesa em seu território
é restrita. E que o seu atual presidente
está no poder desde 1979. Há, porém, um argumento “mais prático” que
justificaria essa inclusão: depois de Angola, Portugal e Moçambique, a Guiné
Equatorial, dentro da CPLP, é o quarto maior comprador de produtos brasileiros
(US$ 56 milhões em 2014, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria, Comércio Exterior – MDIC).
Apesar das queixas de puristas como o
professor Adriano Moreira, ao que parece, a CPLP hoje irá para onde o Brasil
for – afinal, se a comunidade reúne a
grosso modo 250 milhões de lusofalantes, 201 milhões estão em território
brasileiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Sem contar que o Brasil é o único país emergente da CPLP, condição que levou o
economista Jim O´Neill, do grupo Goldman Sachs, a incluí-lo ao lado de Rússia,
Índia e China para formar o acrônimo Bric, hoje conhecido como Brics, depois da
inclusão da África do Sul.
Não é de se admirar, portanto, que se
desenvolvam negociações para que Japão, Índia, a Região Administrativa Especial
de Macau (China) e mais alguns países africanos passem a integrar a CPLP, a
partir do pressuposto de que nessas nações existem comunidades de língua
portuguesa. Na União Indiana, por exemplo, estão Goa, Damão e Diu, antigas
possessões portuguesas anexadas à força em 1961, depois de mais de 450 anos de
domínio luso, assim como no Senegal, que já está na CPLP como observador
associado, fica a província da Casamansa, que luta há mais de 30 anos por sua
independência e adesão ao mundo lusófono.
Se haverá futuro para a união e
compatibilização de interesses e países tão díspares, é que não se sabe. Mas,
desde já, não se deve descartar duas ideias do professor Adriano Moreira: a da
criação de uma frota comercial pela iniciativa privada no âmbito da CPLP –
afinal, todos os seus membros são marítimos – para o incremento das relações
econômicas entre seus membros, além do estabelecimento de um pacto de defesa e
segurança no Atlântico Sul. São ideias que estão no recém-lançado livro Este é o Tempo (Lisboa, Clube do Autor,
2014), do jornalista Vitor Gonçalves, da Rádio e Televisão de Portugal (RTP),
que reúne conversas com o professor Adriano Moreira. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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