Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Versus

Português vs Galego, Galego vs Português

«Português e galego são a mesma cousa»

Português e galego são palavras polissémicas, com significados não exatamente sempre os mesmos, ao longo da história. Em cada altura o seu significado foi distinto. É dizer o seu significado exato variava, como categorias históricas que são; como também se passa com a palavra Galiza1.

Português e galego significam originariamente exatamente o mesmo.

Olhemos quem eram os calecos2. Pois os moradores de área de Cale, na desembocadura do rio Douro, no lugar onde hoje se ergue a cidade de Porto. Os romanos estenderam esse nome a nova província.

E quem são os portugueses, pois originariamente os moradores de Portus-Cale (Porto dos galegos), a atual Porto, que deram nome a um território mais estendido graças a um senhor da Crunha, que na cidade de Portuscale Portucale-Portugale, lá no ano 868 arrincou de Ordonho I a criação do condado de Portucale3.

Eis a que chegamos, português e galego são a mesma cousa, o nome dos moradores da cidade do Porto, que por cousas do seu fado usufrui uma população bem mais alargada.

Na Galiza espanhola há 18 aldeias que se chamam de galegos. E como é que na sua própria terra colocavam essa definição a essas aldeias?.

A cousa é muito simples, ainda que o termo Galiza era muito alargado no espaço, o termo galego com a plena natureza de tais, era privilégio só dos moradores da zona que vai de rio Lima a Douro, com o seu centro em Braga. E quando moradores desta zona se deslocavam e instalavam noutras partes, davam aos novos lugares -o nome de galegos-

E quem tem mais direitos a pôr-lhe o nome à língua: Os que a levaram pelos quatro cantos do mundo, e a cuidaram, ou os que a usam numa miscigenação com o castelhano, e tenhem o castelhano imperial como a sua língua de referência e correção?. A resposta acho que é óbvia.

Se se afirmar a unidade da língua, não chamar-lhe português é asneira, polo que a continuação vou explicar.

Usar o mesmo nome de língua, faz mais por explicar a unidade que nenhuma outra cousa. Imaginem-se que o castelhano em Andaluzia fosse chamado só de andaluz, em Canárias de Canário, em Chile de chileno, em México de mexicano... alguém pode segurar que se ia perceber a unidade da língua4. Ao contrário ia-se perceber a diversidade, e os nomes iam funcionar para impulsionarem um crescente afastamento entre as falas.

Qual a maior diferença neste momento histórico entre chamar galego ou chamar português da Galiza à nossa língua nacional?. Pois muito simples, o galego é “língua” espanhola e o português não.

Se usarmos o nome internacional da nossa língua, estamos fazendo mais pola unidade que qualquer outra cousa. Pois faz mais pela unidade o nome, que a orthographia, ainda que fosse ela um bocado esquisita com o mesmo nome não ia deixar de indicar uma única realidade. E fazendo isso, estamos à vez desbotando as políticas “nacionalizadoras” espanholas da nossa língua como língua espanhola e só espanhola.

Reclamar o nome da nossa língua como galego, é afirmar-se espanhol, por muito nacionalista e independentista que um for5, pois ainda estando grande parte da Galiza, incluído, a que era cerne e origem do nome, em Portugal, a categoria histórica galego, significa hoje em dia, língua espanhola; e como é óbvio, como língua espanhola até natural é que esteja submetida à língua espanhola, -o castelhano-, que é a “nacional” do estado espanhol.

Quando um morador da Galiza faz questões com o nome da língua, a pouco que um raspar a superfície descobre o seguinte, ele é espanhol e de uma esquisita maneira tal afirma; pois ele não é português6, pois não chega a perceber, que ser de fala portuguesa, já há um bom bocado de tempo que deixou de ser igual a se ser português.

Mas como Portugal não é Espanha, serve-nos muito bem, para sabermos o quanto espanhol cada um de nós somos; e somos todos muito, pois já o estado com a sua escola nos troquelou e os meios nos balizam todos os dias, no universo comunicativo espanhol.

O Poder taumatúrgico das palavras faria ele só já muito para a melhora e cuidado com a fala polos seus utentes. Afirmar-se, ser falante do português da Galiza e usar a língua como um mau castelhano agalegado (portunhol), iria contra o respeito que assim próprio toda pessoa merece. Alexandre Cuquejo – Galiza in “Portal Galego da Língua”

Notas:

1 Com o Império Romano, Galiza aparece como nome que designa uma realidade política, a província da Galaecia.

Na reforma de Dicocleciano, essa província é alargada com um novo convento no leste, e o seu limite no rio Pisorga, abrangendo pelo norte os Cântabros, e continuando a ser só o espaço a norte do Rio Douro.

Com o Galaeciorum regnum (o do suevos na histpriografia espanhola), Galiza designa uma faixa ocidental peninsular ao norte do rio Tejo, desde Santarem ao Cantábrico e pelo leste com limite em vários rios: O Hispania (hoje Espanha) nas Astúrias, o Órbigo, o Esla, e o Águeda, e essa realidade nunca vai ser confundida dentro do reino visigótico com o de Hispánia.

Conquistada a península pelos muçulmanos, Galiza passa a ser o espaço cristão não ocupado, que pouco a pouco se foi alargando para o sul e para o leste. Na documentação altomedieval os reis aos que a historiografia espanhola chama de Astúrias e Leão, denominam-se como reis da Galiza, e como galegos são designados pelos muçulmanos da Hispánia-Alândalus, (os dous nomes usavam).

Pouco antes do ano 1000, na documentação existente do reino dos Francos, o mais grande acerbo de documentos nos que aparece a monarquia cristã peninsular, o reino de Leão deixa de chamar-se da Galiza, e passa a aparece como reis de Leão e Galiza ou como reis de Galiza e Leão, com o uso de denominação dupla..

É dizer, produzira-se a separação perfeitamente percebida entre uns e outros, entre o galaico ocidental e oriental. O espaço mais ocidental foi quem de criar uma koiné linguística espantosamente homogênea, com um grau de homogeneidade desconhecida no âmbito leonês, que fala de desenvolvimento cultural e da existência de umas elites muito padronizadas. Nos documentos em romanço nesse reino, por exemplo em forais dados a vilas, vê-se que se utiliza o leonês ou galego segundo for a fala romanço dos destinatários. Quando Fernando I dividia o reino entre os seus filhos: Garcia (Galiza), Afonso (Leão) e Sancho (Castela), estava afirmando a diferenciação étnica que era já palpável.

Nascido Portugal, Galiza acaba-se reduzindo ao pequeno espaço da Galiza que não forma parte de Portugal e hoje em dia incluso fica reduzido a só o espaço duma comunidade autónoma espanhola.

2 Segundo Higínio Martins galego é uma palavra celta que significa “Os da terra”

3 O qual foi de relativa pouca vida pois em tempos do Rei Garcia foi suprimido.

4 É modelar o jeito de como espanha divide a língua catalana a meio de nomes....e como cada nome funciona.

5 Um pode afirmar-se como espanhol, e dizer que a sua língua é português, mas a cousa já não é o mesmo, nem funciona do mesmo jeito.

6 E isso independente, de se ele se andar a proclamar nacionalista galego ou não.

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