Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Reformados portugueses

Nestes últimos dias, Dezembro de 2013, cruzei-me com vários portugueses reformados, nas lojas, nas ruas, estavam tristes, uma revolta em surdina, indignados, pois mais uma vez sentiam-se enganados.

Tinham passado pelo banco para verem o extracto da conta, onde pensariam eles estaria depositado a reforma de Dezembro, mais o acostumado e necessitado subsídio de Natal, que serve normalmente para equilibrar as contas que foram ficando deficitárias durante o ano.

Devido à idade avançada e ao não perceberem a linguagem utilizada pelos jornalistas, comentadores, políticos, através da televisão, linguagem demasiada técnica e erudita, não se aperceberam que o ligeiro aumento, uma mão cheia de nada de euros que recebiam mensalmente, era o subsídio, ou o que restava dele, após os descontos para os impostos que entretanto foram aplicados a quem já recebe tão pouco.



Frustrados, cabisbaixos, envergonhados, encolhiam os ombros, marcados pelo triste fado de uma vida de enganos, quando há trinta anos atrás lhes prometeram a terra prometida, a Europa, recheada de bons vencimentos, boas reformas, saúde, segurança, bem-estar, em três décadas, o que viram foi o desaparecimento da indústria, da agricultura, da pesca, a troco de esmolas que encheram os bolsos de alguns.

Ao contrário de moldavos e romenos, cidadãos que vivem há mais de um ano, debaixo dos viadutos do eixo norte-sul em Campolide, desafiando as leis de Portugal no que diz respeito à cidadania, calcorreando as ruas de Lisboa pedindo esmolas, transmitindo doenças devido à falta de higiene, os reformados portugueses, após uma vida de trabalho, ao serviço do seu país, vêem-se condenados a fecharem-se em casa, sempre envergonhados pela falta de dinheiro, preferindo morrer com dignidade, longe dos olhares dos seus compatriotas, reflectindo uma educação recebida durante a longa noite de obscurantismo que viveram no século passado. Baía da Lusofonia

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