Nestes últimos dias, Dezembro de 2013,
cruzei-me com vários portugueses reformados, nas lojas, nas ruas, estavam
tristes, uma revolta em surdina, indignados, pois mais uma vez sentiam-se
enganados.
Tinham passado pelo banco para verem o
extracto da conta, onde pensariam eles estaria depositado a reforma de
Dezembro, mais o acostumado e necessitado subsídio de Natal, que serve
normalmente para equilibrar as contas que foram ficando deficitárias durante o
ano.
Devido à idade avançada e ao não perceberem a
linguagem utilizada pelos jornalistas, comentadores, políticos, através da
televisão, linguagem demasiada técnica e erudita, não se aperceberam que o
ligeiro aumento, uma mão cheia de nada de euros que recebiam mensalmente, era o
subsídio, ou o que restava dele, após os descontos para os impostos que
entretanto foram aplicados a quem já recebe tão pouco.
Frustrados, cabisbaixos, envergonhados,
encolhiam os ombros, marcados pelo triste fado de uma vida de enganos, quando
há trinta anos atrás lhes prometeram a terra prometida, a Europa, recheada de
bons vencimentos, boas reformas, saúde, segurança, bem-estar, em três décadas,
o que viram foi o desaparecimento da indústria, da agricultura, da pesca, a
troco de esmolas que encheram os bolsos de alguns.
Ao contrário de moldavos e romenos, cidadãos
que vivem há mais de um ano, debaixo dos viadutos do eixo norte-sul em
Campolide, desafiando as leis de Portugal no que diz respeito à cidadania,
calcorreando as ruas de Lisboa pedindo esmolas, transmitindo doenças devido à
falta de higiene, os reformados portugueses, após uma vida de trabalho, ao
serviço do seu país, vêem-se condenados a fecharem-se em casa, sempre
envergonhados pela falta de dinheiro, preferindo morrer com dignidade, longe dos
olhares dos seus compatriotas, reflectindo uma educação recebida durante a
longa noite de obscurantismo que viveram no século passado. Baía da Lusofonia
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