Hidrovias: faltam investimentos
Não
se pode deixar de reconhecer que o governo federal tem investido no
aperfeiçoamento da rede de escoamento dos produtos. Só para os serviços de dragagem
estão previstos recursos da ordem de R$ 54 bilhões nos próximos cinco anos. Em
ferrovias, o investimento no mesmo período é estimado em R$ 10 bilhões, com a
abertura de novas linhas para as ferrovias Leste-Oeste, Norte-Sul, Transnordestina
e outras, além de investimentos em conservação e pavimentação de rodovias.
O
problema é que nem 50% dos recursos previstos em orçamento chegam a ser utilizados
dentro do prazo. E essas obras seguem a passo de tartaruga enquanto a economia
desce a vôo de águia. O resultado, por exemplo, é que hoje, para levar minério,
bauxita e grãos para os portos – de Santos e Paranaguá, notadamente –, gasta-se
mais de US$ 100 por tonelada quando o custo médio internacional situa-se ao
redor de US$ 20 por tonelada.
Uma
boa saída para essa questão seria o governo federal investir mais no sistema
hidroviário do País. Estudo recente da Confederação Nacional de Transportes
(CNT) mostrou que o Brasil dispõe de uma das maiores redes hidrográficas do
mundo, mas que é pouco utilizada. Dos 63 mil quilômetros de extensão, apenas 41,6
mil são de vias navegáveis e, destas, pouco menos de 21 mil quilômetros podem
ser economicamente utilizados.
Os
restantes 50% não são navegáveis porque não recebem manutenção: há locais em
que a profundidade é insuficiente, em outros os berços estão assoreados e não
há sinalização nem balizamento. Para piorar, algumas usinas hidrelétricas foram
construídas sem eclusas que permitam a navegação dos rios. Além disso, boa
parte da frota – que já não é muito extensa – apresenta precárias condições de
uso. Acrescente-se a isso o valor do combustível que pesa em demasia na
atividade.
O
estudo da CNT só comprova o que já se sabe, ou seja, a administração pública
tem sérios problemas de gestão que a impedem de aplicar os recursos disponíveis
em orçamento: entre 2002 e junho de 2013, o governo destinou para o setor R$
5,24 bilhões, mas apenas R$ 2,4 bilhões foram, de fato, aplicados. Se a
totalidade dos recursos tivesse sido aplicada, ainda assim seriam atendidas
apenas 10% das necessidades, pois o estudo da CNT mostra que são necessários
investimentos de R$ 50 bilhões em melhorias da infraestrutura hidroviária.
Diante
desses números, não se pode ser muito otimista quanto a um aproveitamento
melhor do transporte hidroviário. O que é lamentável, pois se trata de um modal
que gera redução de custos na movimentação de carga, aumentando a
competitividade dos produtos nacionais. Sem contar que oferece maior segurança
e reduz o consumo de combustíveis, tirando muitos caminhões das rodovias, o que
significa menos danos ao meio ambiente e menos acidentes nas estradas. Mauro Dias - Brasil
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Mauro
Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística
Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e
Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
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