Português vs Galego, Galego vs Português
«Português e galego são a mesma cousa»
Português e galego são palavras polissémicas,
com significados não exatamente sempre os mesmos, ao longo da história. Em cada
altura o seu significado foi distinto. É dizer o seu significado exato variava,
como categorias históricas que são; como também se passa com a palavra Galiza1.
Português
e galego significam originariamente exatamente o mesmo.
Olhemos quem eram os calecos2.
Pois os moradores de área de Cale, na desembocadura do rio Douro, no lugar onde
hoje se ergue a cidade de Porto. Os romanos estenderam esse nome a nova
província.
E quem são os portugueses, pois originariamente
os moradores de Portus-Cale (Porto dos galegos), a atual Porto, que deram nome
a um território mais estendido graças a um senhor da Crunha, que na cidade de
Portuscale Portucale-Portugale, lá no ano 868 arrincou de Ordonho I a criação
do condado de Portucale3.
Eis a que chegamos, português e galego são a mesma cousa, o nome dos moradores da
cidade do Porto, que por cousas do seu fado usufrui uma população bem mais
alargada.
Na Galiza espanhola há 18 aldeias que se
chamam de galegos. E como é que na sua própria terra colocavam essa definição a
essas aldeias?.
A cousa é muito simples, ainda que o termo
Galiza era muito alargado no espaço, o
termo galego com a plena natureza de tais, era privilégio só dos moradores
da zona que vai de rio Lima a Douro, com o seu centro em Braga. E quando
moradores desta zona se deslocavam e instalavam noutras partes, davam aos novos
lugares -o nome de galegos-
E quem tem mais direitos a pôr-lhe o nome à
língua: Os que a levaram pelos quatro cantos do mundo, e a cuidaram, ou os que
a usam numa miscigenação com o castelhano, e tenhem o castelhano imperial como
a sua língua de referência e correção?. A resposta acho que é óbvia.
Se se afirmar a unidade da língua, não
chamar-lhe português é asneira, polo que a continuação vou explicar.
Usar o mesmo nome de língua, faz mais por
explicar a unidade que nenhuma outra cousa. Imaginem-se que o castelhano em
Andaluzia fosse chamado só de andaluz, em Canárias de Canário, em Chile de
chileno, em México de mexicano... alguém pode segurar que se ia perceber a
unidade da língua4. Ao contrário ia-se perceber a diversidade, e os
nomes iam funcionar para impulsionarem um crescente afastamento entre as falas.
Qual a maior diferença neste momento
histórico entre chamar galego ou chamar português da Galiza à nossa língua
nacional?. Pois muito simples, o galego
é “língua” espanhola e o português não.
Se usarmos o nome internacional da nossa
língua, estamos fazendo mais pola unidade que qualquer outra cousa. Pois faz
mais pela unidade o nome, que a orthographia, ainda que fosse ela um bocado
esquisita com o mesmo nome não ia deixar de indicar uma única realidade. E
fazendo isso, estamos à vez desbotando as políticas “nacionalizadoras”
espanholas da nossa língua como língua espanhola e só espanhola.
Reclamar o nome da nossa língua como galego,
é afirmar-se espanhol, por muito nacionalista e independentista que um for5,
pois ainda estando grande parte da Galiza, incluído, a que era cerne e origem
do nome, em Portugal, a categoria histórica galego, significa hoje em dia, língua espanhola; e como é óbvio, como
língua espanhola até natural é que esteja submetida à língua espanhola, -o
castelhano-, que é a “nacional” do estado espanhol.
Quando
um morador da Galiza faz questões com o nome da língua, a pouco que um raspar a
superfície descobre o seguinte, ele é espanhol e de uma esquisita maneira tal
afirma;
pois ele não é português6, pois não chega a perceber, que ser de
fala portuguesa, já há um bom bocado de tempo que deixou de ser igual a se ser
português.
Mas como Portugal não é Espanha, serve-nos
muito bem, para sabermos o quanto espanhol cada um de nós somos; e somos todos
muito, pois já o estado com a sua escola nos troquelou e os meios nos balizam
todos os dias, no universo comunicativo espanhol.
O Poder taumatúrgico das palavras faria ele
só já muito para a melhora e cuidado com a fala polos seus utentes. Afirmar-se,
ser falante do português da Galiza e usar a língua como um mau castelhano
agalegado (portunhol), iria contra o respeito que assim próprio toda pessoa
merece. Alexandre Cuquejo – Galiza in “Portal Galego da Língua”
Notas:
1 Com o Império Romano, Galiza aparece como
nome que designa uma realidade política, a província da Galaecia.
Na reforma de Dicocleciano, essa província é
alargada com um novo convento no leste, e o seu limite no rio Pisorga,
abrangendo pelo norte os Cântabros, e continuando a ser só o espaço a norte do
Rio Douro.
Com o Galaeciorum regnum (o do suevos na
histpriografia espanhola), Galiza designa uma faixa ocidental peninsular ao
norte do rio Tejo, desde Santarem ao Cantábrico e pelo leste com limite em vários
rios: O Hispania (hoje Espanha) nas Astúrias, o Órbigo, o Esla, e o Águeda, e
essa realidade nunca vai ser confundida dentro do reino visigótico com o de
Hispánia.
Conquistada a península pelos muçulmanos,
Galiza passa a ser o espaço cristão não ocupado, que pouco a pouco se foi
alargando para o sul e para o leste. Na documentação altomedieval os reis aos
que a historiografia espanhola chama de Astúrias e Leão, denominam-se como reis
da Galiza, e como galegos são designados pelos muçulmanos da Hispánia-Alândalus,
(os dous nomes usavam).
Pouco antes do ano 1000, na documentação
existente do reino dos Francos, o mais grande acerbo de documentos nos que
aparece a monarquia cristã peninsular, o reino de Leão deixa de chamar-se da
Galiza, e passa a aparece como reis de Leão e Galiza ou como reis de Galiza e
Leão, com o uso de denominação dupla..
É dizer, produzira-se a separação
perfeitamente percebida entre uns e outros, entre o galaico ocidental e
oriental. O espaço mais ocidental foi quem de criar uma koiné linguística
espantosamente homogênea, com um grau de homogeneidade desconhecida no âmbito
leonês, que fala de desenvolvimento cultural e da existência de umas elites
muito padronizadas. Nos documentos em romanço nesse reino, por exemplo em
forais dados a vilas, vê-se que se utiliza o leonês ou galego segundo for a
fala romanço dos destinatários. Quando Fernando I dividia o reino entre os seus
filhos: Garcia (Galiza), Afonso (Leão) e Sancho (Castela), estava afirmando a
diferenciação étnica que era já palpável.
Nascido Portugal, Galiza acaba-se reduzindo
ao pequeno espaço da Galiza que não forma parte de Portugal e hoje em dia
incluso fica reduzido a só o espaço duma comunidade autónoma espanhola.
2 Segundo Higínio Martins galego é uma
palavra celta que significa “Os da terra”
3 O qual foi de relativa pouca vida pois em
tempos do Rei Garcia foi suprimido.
4 É modelar o jeito de como espanha divide a
língua catalana a meio de nomes....e como cada nome funciona.
5 Um pode afirmar-se como espanhol, e dizer
que a sua língua é português, mas a cousa já não é o mesmo, nem funciona do
mesmo jeito.
6 E isso independente, de se ele se andar a
proclamar nacionalista galego ou não.
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