A lição de Mandela mais inovadora e mais
difícil de apreender
Parece estar a correr um abaixo-assinado,
contra a presença do Professor Cavaco Silva, Presidente actual de Portugal, nas
cerimónias fúnebres de Mandela, por, alegadamente tratar-se de um acto de
hipocrisia de alguém que, há cerca de trinta anos (sublinho, trinta anos),
teria votado alguma coisa contra esta figura, que se viria a impor como um ser
de uma outra galáxia, na sua Humanidade.
Ora, esta é justamente uma forma de
contrariar a maior lição de Mandela: saber perdoar o passado, assentar no
presente e construir o futuro.
Lição difícil, na realidade, porque o que aprendemos
todos dias, nós seres humanos normais, é enterrar os nossos pés no lodaçal do
passado, para reclamar a nossa “caça às bruxas”. Por essa atitude inovadora,
Mandela que sabia muito bem o que se passara, já abraçou o Professor Cavaco,
pelo menos uma vez que vimos na TV. Mandela, defendeu portugueses, alguns dos
quais apoiaram, por equívocos humanos, o apartheid,
e deixou que continuassem a contribuir para o desenvolvimento da nova África do
Sul e, sobretudo, para salvaguardar as suas vidas e sua dignidade humana, na
medida do possível.
Por ser difícil de apreender, esta lição, é
que quase se generalizava em alguns círculos africanos, com o princípio da
vingança cega incorporado, a ideia de que Mandela seria “traidor” da causa dos
“negros” contra os “brancos”, quando o que o Homem sempre defendeu era a
igualdade justa entre os homens de todas as cores, latitudes e longitudes. Mas
como esta lição tem efectivamente conteúdo, alguns dos autores do “baixo
assinado”, esquecem-se de um presente em que – pasme-se – todos os partidos
políticos parlamentares do “irmão” Portugal (com a excepção do Bloco de
Esquerda), se recusaram a aprovar uma simples moção de censura, contra um
regime africano (Angola) que mata um jovem desarmado a colocar um panfleto que
reclama por outros dois jovens torturados, cujos corpos foram atirados a um
rio, para gáudio de uns quantos jacarés.
Hoje, numa conferência na Faculdade de
Direito da Universidade de Lisboa sobre “Economia Social de Mercado da União
Europeia”, quase perguntei (só não o fiz tal e qual por certa delicadeza com
alguns ouvidos mais sensíveis) se a União Europeia não tinha fundos para evitar
que Portugal supere a sua crise, entre outras medidas, deixando-se colonizar
por um regime africano que, no século XXI, gasta mais dinheiro com o aparelho
repressivo contra o seu povo e sua juventude do que com a salvaguarda das suas
vidas e sua educação. Mas, é esta a grande lição de Mandela, difícil de
apreender: fixar-se essencialmente nos aspectos positivos do passado,
estabelecer-se no presente e ter disponibilidade para repensar o futuro! Marcolino Moco - Angola
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