O site
Emprego pelo Mundo divulga em português ofertas de trabalho em diferentes
países. Diogo Lino Ribeiro, fundador, cresceu em Macau e estuda na República
Checa. O projecto é seguido por mais de 172 mil pessoas no Facebook e recebe em
média um milhão de visitas mensais online.
As boas ideias às vezes aparecem sem querer.
Foi assim com Diogo Lino Ribeiro, jovem de 25 anos que em Fevereiro fundou o site Empregos pelo Mundo (www.empregopelomundo.com). Hoje, o
portal recebe largos milhares de visitas todos os dias porque oferece, em
português, informação sobre muitos postos de trabalho para aqueles que queiram
largar mundo fora.
Diogo Lino Ribeiro |
Diogo Lino Ribeiro, que passou parte da
infância e adolescência em Macau, olhou para o desemprego jovem em Portugal,
leu os sinais que lhe foram trazidos por um projecto familiar e resolveu
avançar. Hoje conta com uma equipa de dez pessoas, divulga milhares de ofertas
de emprego e, acredita, ajuda pessoas. Mesmo assim, continua os estudos no
Instituto de Química de Praga, na República Checa. Não vê grandes melhorias
para os portugueses nos próximos tempos.
- Como
surgiu a ideia de criar o site
Emprego pelo Mundo?
Diogo Lino Ribeiro – A ideia de criar este
grupo de partilha de informações de emprego no estrangeiro e em Portugal, que
ganhou visibilidade no Facebook, surgiu a partir de um pedido da minha família,
para que colocasse para arrendar, em sites especializados, uma casa localizada
em Búzios, no Brasil. Nessa altura, resolvi criar um blogue onde também
promovia aquele destino. Inesperadamente, comecei a receber currículos de
pessoas que me pediam emprego, pensando que se tratava de um resort ou de uma guest
house. Muitos eram jovens que pediam com uma humildade, um desespero e uma
vontade de trabalhar que não podiam deixar ninguém indiferente. Como tinha
experiência na área da pesquisa, adquirida numa empresa onde trabalhei na
República Checa, comecei a publicar no meu blogue oportunidades de emprego. O
reconhecimento foi tal que o passo seguinte foi criar o Emprego pelo Mundo.
- Dê-nos
alguns números do projecto. Quantas visitas recebe o site em média? E quantas ofertas de trabalho já publicou?
D.L.R. – O portal Emprego Pelo Mundo recebe
em média um milhão de visitas e cerca de três milhões de visualizações por mês.
Já publicámos milhares de ofertas de emprego dependendo das empresas e das
áreas, publicamos cerca de 30 mil oportunidades por mês. Formamos uma equipa de
dez jovens que trabalham segmentos de mercado diferentes. Uns mais vocacionados
para as ofertas de trabalho individualizadas, outros em ofertas mais gerais que
abarcam várias áreas numa só empresa, normalmente multinacionais. Não conseguimos
ter uma estimativa das pessoas que já conseguiram oportunidades através do
site, mas até hoje e desde que o site está activo já recebemos milhares de
agradecimentos.
- Falemos
da Ásia. Há muitas ofertas de trabalho para esta zona do globo? É um mercado
com potencial para a mão-de-obra lusófona?
D.L.R. – Sendo nós portugueses um povo
universalista, com uma história de relacionamento pacífico e mesmo amistoso com
todos os povos do mundo, e tendo nós também das melhores universidades
europeias que têm formado nas últimas décadas jovens comprovadamente
talentosos, reconhecidos em todo o mundo, não será descabido pensar que esses
jovens muito qualificados poderão ser uma mais-valia, em qualquer parte do
mundo e aí também. Basta que lhes sejam oferecidos lugares onde possam não só
desenvolver as suas capacidades criativas e o seu talento, como também
colaborar através da troca de conhecimentos e visões do mundo, favorecendo a
criação de soluções inovadoras e permitindo àqueles que neles confiam o
acompanhamento eficaz das mudanças num mundo que anda cada vez mais veloz.
- Concretamente
em relação a Macau, há oportunidades para portugueses que podem ser encontradas
através do seu site? Alguns exemplos
específicos?
D.L.R. – Apresento no meu site um link dedicado completamente a Macau. Como viver e trabalhar aí.
Como procurar emprego. Tem sido muito visitado. Como esta crise veio para ficar
e há cada vez mais desempregados, os portugueses têm tendência a procurar
emprego nos países cujos povos partilharam connosco partes da sua história e
que por isso lhes oferecem mais confiança por os julgarem amigos.
- Viveu
em Macau. Quer recordações guarda desses tempos? Ainda é um lugar que o atraia,
também do ponto de vista profissional?
D.L.R. – Vivi em Macau dos três aos 14 anos.
Cresci em Macau. Passei a minha infância a percorrer as suas ruas, a correr
para as suas escolas, a casa na Taipa. Os meus amigos de infância são daí, ou
passaram por aí e continuam a estabelecer contactos regulares comigo. Macau faz
parte de mim, dos meus sonhos, dos meus desejos, das minhas memórias, do meu
ser. Será um lugar onde sempre voltarei… onde espero encontrar sempre símbolos
dessas vivências que tive. Ou até personalidades que me tornaram feliz em
criança pela amizade que me dedicaram. Por exemplo, o Domingos, ex-motorista do
meu pai e meu grande amigo, que fazia comigo o totoloto de Hong Kong em
sociedade. Mas não sei se voltarei para trabalhar aí. Por enquanto não faz
parte dos meus planos. O meu projecto de vida não se encaminha para ser
realizado por esses lados. Porém, como se costuma dizer, ‘o futuro a Deus
pertence’.
- Considera
que, regra geral, os portugueses que trabalham no estrangeiro são apreciados ou
nem tanto?
D.L.R. – Acho que os portugueses são
apreciados em todo o mundo. Como dizia um escritor inglês, “toda a gente gosta
dos portugueses com excepção deles próprios”. Os portugueses são um povo bom,
tolerante, com capacidade de se entregar a causas. São um povo leal, solidário
e com uma capacidade de sofrimento e de resignação emocionantes. Veja o que
está a acontecer nesta crise. As reacções dos portugueses e de outros povos são
muito distintas. Só um povo muito bom é capaz de suportar com paciência isto e
aguentar tanto sofrimento de modo resignado.
- Qual
é o destino preferencial do português qualificado e sem emprego neste momento?
D.L.R. – As preferências dos portugueses são
regra geral os países de língua portuguesa. Brasil e Angola têm sido grandes
receptores do trabalho dos nossos imigrantes. Mas o maior número de jovens
qualificados tem ido para a Europa, com a Alemanha, Noruega, Dinamarca,
Inglaterra e Irlanda a aproveitarem esses talentos que Portugal desperdiça
neste momento.
- Como
olha para a situação actual em Portugal?
D.L.R. – Portugal vive um período muito
crítico da sua história e não se vislumbra uma saída para a crise a curto
prazo. Não temos indústria, agricultura, pescas. O comércio tornou-se monopólio
de poucos. Sinceramente vejo tudo muito mal.
- Acaba
por ser também um empreendedor, ao lançar este projecto. O site é já lucrativo para si, que o fundou?
D.L.R. – Para já o site paga-se a si próprio, pago o trabalho dos colaboradores e
tenho estado a investir o resto. Vamos apresentar muito em breve uma nova
versão mais moderna e prática que permitirá a empregadores e candidatos
funcionalidades que facilitam o recrutamento. Hélder Beja – Macau in “Ponto Final”
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