Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Galiza - Língua geral, língua bonita

Quando a 22 de abril de 1500 chegam à costa do atual estado da Bahia as caravelas portuguesas de Pedro Álvares Cabral não sabemos com precisão o número de habitantes, nem de nações indígenas, nem de línguas faladas no território que hoje é o Brasil.

Porém, antes de a colonização generalizar o uso da língua portuguesa devemos tratar um interessante fenómeno linguístico pouco conhecido, as denominadas línguas gerais.

As línguas gerais são um grupo de línguas de base tupi-guarani que os jesuítas criaram com a intenção de cristianizar os povos originários da América do Sul. Para unificar as diferentes falas indígenas criaram uma koiné, quer dizer, uma língua padrão, que servisse de meio de comunicação abrangente entre os europeus e as diferentes nações ameríndias.

O sucesso desta estratégia demonstra-o a vitalidade do idioma guarani do Paraguai, língua geral promovida polos religiosos europeus e hoje língua oficial e a mais falada do país.



No Brasil, apenas uma pequena povoação no extremo norte do Amazonas continua a usar uma língua geral de base tupi, o nheengatu, que significa, literalmente, língua bonita.

Para além de toponímia e fauna existem no português do Brasil numerosos exemplos do substrato tupi-guarani.

Assim, guri e guria são formas comuns brasileiras para as galegas neno e nena e a portuguesa puto; jujubas são os doces que em português europeu chamamos gomas; mirim é um termo usado para cousas de tamanho pequeno ou pensadas para crianças; catapora é a denominação brasileira da varicela; gari é a profissão que em galego-português recebe o nome de varredor de rua; abacaxi é o substantivo genérico para o que na Galiza e em Portugal dizemos ananás e suruba é sinónimo de orgia ou bacanal.



Todos estes vocábulos corriqueiros na fala do povo brasileiro ou o destaque da mandioca na dieta brasileira lembram a importância da cultura indígena na conformação da identidade do país sul-americano.

A mandioca, palavra tupi hoje comum a todas as variedades de português, é o ingrediente básico da culinária brasileira com a qual são feitos a farofa, o pão de queijo ou a tapioca.

Felizmente, ainda são faladas no Brasil por volta de 180 línguas indígenas. Património cultural que nos últimos anos tem sido reconhecido e valorizado com diferentes programas de alfabetização na língua materna que visam fortalecer e contribuir para a sua preservação. Diego Bernal – Galiza in “Diário Liberdade”


Diego Bernal nasceu em Lugo em 1982. Licenciado em filologia galega pola Universidade da Corunha foi leitor na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente mora em Lisboa onde trabalha como professor. É um dos fundadores do jornal digital Diário Liberdade.



Imagens:

1. Publiciade do banco brasileiro Itaú usando o guarani nas ruas de Assunção, capital do Paraguai.

2. Cartaz de homenagem aos "garis", funcionários do serviço de limpeza de um município brasileiro, com ilustração do cartunista Latuff.

3. índios brasileiros, foto de Sebastião Salgado.

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