Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 18 de março de 2014

Portugal e o espaço Lusófono

“…Portugal navega à vista, sem rumo e sem estratégia. O ajustamento financeiro em curso, necessário, mas cujo desígnio não foi justificado, deixou o país exangue e descapitalizado. Era a peça que faltava para fecharmos a porta atlântica que os alemães historicamente sempre negligenciaram: daí «os submarinos» como arma tática.

Não podemos esquecer que encerrado o ciclo do império nos direcionamos, sem cuidar de salvaguardas, (parece que esquecemos as lições da história que nos custaram a independência), para opção europeia. O sistema político adotou sem reservas essa orientação; adesão à CEE, Maastricht e finalmente o Euro. A abertura escancarada de uma tão frágil economia conduziu à destruição de parte muito significativa do nosso aparelho produtivo; metalomecânica, agricultura e pescas, (coisa que a vizinha Espanha não fez). Depois foi o que se viu com a aplicação desenfreada e sem critério de recursos financeiros em investimentos de infraestruturas e bens não transacionáveis: lógica do betão.

Sem um modelo económico sustentável ficamos à mercê da voragem dos mercados financeiros; numa primeira fase foi a escalada consumista e as operações de corporate, com as PPP e depois os Swaps, comprometendo-se os recursos remanescentes dos fundos da segurança social, hoje sobre ataque desaforado.

Felizmente que não houve oportunidade para lançar o TGV, a nova travessia do Tejo e o novo aeroporto de Lisboa, em que o capital financeiro e as multinacionais alemãs tanto insistiram: valha-nos isso. Todavia, o resgate português custa em média a cada português 800 euros, quando o disfarçado resgate de Espanha, 180 euros per capita.
 Está, por isso, mais uma vez em causa a independência de Portugal, quando a esquerda portuguesa, o PS, é cercado e se confronta, com a capitulação do Sr. Hollande e a Grande coligação alemã, (foi assim que começou o III Reich, com a subserviência do SPD).

A lógica que se impôs é a de que não há alternativa.

A estratégia, da normalidade normal, protagonizada em Portugal pela coligação PSD/CDS-PP visa fazer de Portugal um país de serviços de baixo valor acrescentado, sobremaneira o turismo e a bandeja, a «estratégia da bandeja» e a sua integração enquanto economia periférica, na região ibérica. Agora, sem nenhuma solução para sair do programa de assistência, a não ser a «falsa saída à irlandesa» que nos deixa entregues a nós próprios, com taxas de juro proibitivas, geradas no jogo de casino a que fomos submetidos, sem qualquer espécie de solidariedade dos países ricos do Norte da Europa, cujos bancos muito tem ganho à conta da especulação sobre a nossa dívida soberana, o governo português precisa do aval do PS.

Urge dizer não! Há alternativa!

Os Portugueses já deram provas da sua tenacidade ao longo da História. Defina-se uma missão e deem-lhes objetivos a cumprir. Não pertencemos de todo à cultura luterana e calvinista do Norte da Europa, imanentista, distante e exclusivista. Mesmo o nosso Espinosa não lhes deu margem, o seu raciocínio sistemático da Ética, despertou-o afinal para uma nova dimensão, a da emoção, cujo caminho está por fazer. Leia-se o Padre António Vieira e a visão globalizante do V Império, na sua História do Futuro ou no Sermão aos Peixes, colocando todas as raças em pé de igualdade: fermento do Brasil.

Do mesmo modo, Fernando Pessoa e a Mensagem, do que falta cumprir. Para não falar de Agostinho da Silva, José Craveirinha, Luandino Vieira, ou de Vinicius de Morais e a sublime proclamação de amor de Elis Regina, «…maior do que tudo quanto existe…!». Toda uma comunidade de afetos que culturalmente em nada se confunde com o Norte Europeu; constituindo, isso sim, uma importante corrente cultural, e porta aberta para outras dimensões a explorar em conjunto, no domínio, cultural, científico e económico.

Desde o século XV, pelo menos, que o nosso paradigma é o Mar.

Articulem-se os investimentos públicos, numa lógica estratégica nacional, que assegure a Portugal um posicionamento estratégico funcionando como plataforma logística para o espaço Lusófono: Porto de Sines, (com ligação ferroviária à Europa e apostando no aumento de tráfego marítimo através do canal do Panamá), Aeroporto de Beja, como Hub de carga, articulando-se com a logística de Sines e, claro está o Alqueva, definindo-se uma nova centralidade geográfica no eixo Évora-Beja e posicione-se o Porto na perspetiva do eixo Porto-Vigo.

Para este projeto são ainda fundamentais, as competências e as capacidades tecnológicas desenvolvidas, no âmbito das comunicações e da energia, com acento nuclear no novo modelo energético em que se prefigura uma oportunidade para futuro na exploração da bacia do Atlântico.

Portugal, no entanto, tem de estar atento a manobras que tentem subordinar a quadros jurisdicionais atípicos as suas duzentas milhas marítimas e a ZEE. As ilhas, pouco europeias, sobremaneira os Açores, poderão ficar numa linha de fratura, onde não se pode deixar precipitar.

É fundamental, por isso, dar-se um novo impulso à CPLP, espaço vital da Língua Portuguesa, na lógica das parcerias económicas e monetárias, sem esquecer a vertente cultural e do pensamento estratégico de interesse comum para futuro: Têm de ser projetadas as nossas capacidades nos domínios da investigação e do conhecimento, que são vertentes estratégicas no quadro lusófono; o que implica que se pare a hemorragia da imigração qualificada, apostando-se no ensino e na investigação científica.” Basto de Lima – Portugal in “Inteligência Económica”

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