Se por estes dias vir, junto
ao Tejo, um peixe com uma boca enorme, com, pelo menos, mais de um metro e meio
de comprimento e com 50 ou mais quilos de peso a galgar a margem e engolir um
pombo ou um pato saiba que acabou de ver um siluro a caçar. Este peixe,
vulgarmente conhecido como peixe-gato europeu, é uma das 57 espécies exóticas a
viverem no Tejo e uma das mais recentes a ser detectada. Pode vir a revelar-se
uma ameaça para as espécies naturais do rio.
Na última semana,
investigadores do Mare - Centro de Ciência do Mar e Ambiente da Faculdade de
Ciências da Universidade de Lisboa, que estudam as espécies não naturais nos
rios portugueses, principalmente no Tejo, capturaram 12 Siluros nas regiões de
Abrantes, Vila Franca e Castelo Branco. O maior tem 1,7 metros de comprimento e
pesa 31 quilos.
O Siluro (Silurus glanis) é
uma espécie originária da Europa Central e pode atingir mais de 2,5 metros de
comprimento e mais de 100 quilos de peso. Foi detectado pela primeira vez na
Península Ibérica no Rio Ebro, em Espanha, em 1974. Na parte espanhola do Tejo
a primeira identificação data de 1998 e na parte portuguesa apenas foi
observado em 2014, embora se julgue que tenha chegado em 2006.
Peixe
com 58 quilos em Santarém
O maior siluro apanhado em
Portugal foi capturado em Santarém por um pescador há cerca de um mês. Media
dois metros e pesava 58 quilos. Já o maior espécime apanhado na Europa foi
encontrado em 2015, no rio Ródano, em França: tinha 2,73 metros e pesava 130
quilos.
A espécie é classificada como
oportunista e necrófaga, por se alimentar de outros peixes mortos no fundo dos
rios, embora coma outros peixes e até aves ou outros animais que estejam junto
às margens. “Basicamente come tudo o que lhe caiba na sua enorme boca”,
explicou ao Público Filipe Ribeiro, um dos investigadores do Mare que coordena
parte da investigação às espécies não naturais dos rios portugueses.
O trabalho da equipa visa
detectar as rotas de invasão das espécies exóticas, elaborar um mapa de risco
tendo em conta a pressão da pesca desportiva, monitorizar o movimento dos
peixes e detectar alguma forma de controlar a sua expansão. Os investigadores
também divulgam junto de pescadores e da população em geral os perigos
ambientais que algumas espécies não naturais de Portugal podem representar.
No que respeita ao siluro, o
principal perigo é poder dizimar as espécies naturais do Tejo, como enguias,
lampreias e sáveis, entre outras, pelo facto de praticamente “comer tudo o que
mexe” e também por poder transmitir doenças “às quais as restantes espécies
autóctones não sejam imunes”, como explicou Filipe Ribeiro.
Os perigos ambientais que esta
espécie representa, levaram a que o Tribunal Supremo espanhol tenha decidido em
Julho do ano passado que todos os siluros capturados não serão devolvidos aos
rios.
Carne
mole mas comestível
Uma das perguntas mais
frequentes sobre este peixe é se a sua carne é comestível. Sim, é comestível,
embora a sua carne seja bastante mole. Nos países da Europa Central, situados
longe do mar, o seu consumo é mesmo muito frequente. Nos pratos portugueses
ainda são pouco presentes, até porque o seu aspecto causa alguma repulsa. Mas
já é por cá, porém, um troféu de pesca desportiva muito procurado, tal como
acontece em muitos outros países.
Nos ecossistemas aquáticos da
bacia hidrográfica do Tejo estão identificadas 57 espécies exóticas. As plantas,
algas e peixes, com 16 espécies cada, são as mais numerosas.
No mês passado realizou-se o
primeiro o 1.º Encontro Sobre Espécies Exóticas Aquáticas no Tejo, que envolveu
diversos investigadores. Pretendeu alertar o público em geral para esta problemática
e dar mais um passo para o avanço na gestão e priorização do controlo das
espécies exóticas nos ecossistemas aquáticos.
Há muito tempo que
investigadores do Mare e de outros institutos colaboram para monitorizar estas
espécies de modo a avaliar os efeitos na biodiversidade e o impacto económico
(negativo ou positivo) destas espécies.
Não
deite o seu peixinho ao rio
As águas de lastro que os
navios despejam, a incrustação em cascos de barcos e a pesca desportiva são,
segundos os investigadores, as principais causas para a chegada aos nossos rios
de espécies não naturais.
O siluro, por exemplo, terá
chegado à Península Ibérica na sequência de uma introdução propositada desta
espécie por pescadores alemães que a queriam pescar no Tejo.
Há ainda outra razão para a
chegada de espécies exóticas: a aquariofilia. Por isso, se não quer ter mais um
aquário em casa, se entende que os peixes devem viver livres nos rios e mares
ou se simplesmente se fartou dos seus peixes há uma regra muito importante: não
os lance aos rios, pode estar a introduzir mais uma espécie exótica. Os
investigadores detectaram a existência de 259 peixes não indígenas à venda em
lojas especializadas em aquariofilia só na zona de Lisboa.
Actualmente, a taxa de
detecção de espécies exóticas aquáticas no rio Tejo é de cerca de duas novas
espécies por ano. Luciano Alvarez –
Portugal in “Público”
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