Este pequeno museu, instalado
numa casa da família de Navinee Phongthai, abriu pela primeira vez no dia de
Natal de 2015, mas voltou a fechar para obras e tem estado informalmente aberto
desde Março de 2016, esperando-se uma inauguração oficial este ano, até porque,
explica a proprietária, este é o ano chinês do Galo, também celebrado na
Tailândia.
O Baan Kudichin – “Baan”
significa casa e “Kudichin” é nome do bairro – fica numa zona de Banguecoque
onde ainda se concentram os descendentes dos portugueses que para ali se
mudaram no século XVIII, vindos da antiga capital Ayutthaya, onde combateram ao
lado do rei tailandês contra os birmaneses. A cidade caiu, mas os portugueses
foram recompensados com um terreno onde está actualmente o bairro de Santa
Cruz.
Segundo a jornalista Inês
Santinhos Gonçalves, da agência Lusa, o museu nasceu da vontade de Navinee
Phongthai, cuja família vive em Santa Cruz há 240 anos, de exibir o espólio dos
antepassados. O material reflecte o modo de vida daquele bairro, intimamente
ligado a uma herança portuguesa mas que vai além dela, com tradições
particulares nascidas do cruzamento de muitas culturas (portuguesa, tailandesa,
chinesa, vietnamita).
À entrada chama a atenção o
galo, branco sobre um fundo vermelho, mais curvilíneo que o português, com
pestanas e um colar ao pescoço. “O galo de Barcelos é o símbolo dos portugueses.
Nós aqui, como portugueses, decidimos criar uma imagem nova, é o galo do Sião”,
explica à Lusa Navinee Phongthai, manifestando espanto ao descobrir que a missa
da noite de Natal, onde o bairro acorre em peso, se chama, em Portugal, Missa
do Galo.
A exposição começa no primeiro
andar, com um cartaz, sob o título “Origem portuguesa do Sião”, com nove
fotografias de homens. “Tento mostrar como os portugueses se transformaram em
tailandeses. Este é o retrato do Vasco da Gama, que foi mudando até ser o meu
tio. Não é giro?”, atira a dona do museu, apontando para o primeiro e para o
último homem da sequência.
Este piso oferece alguma
informação histórica sobre a presença portuguesa na Tailândia, incluindo
palavras ainda hoje usadas, como “salada”, “sala”, “padre”, “porto”, entre
outras. Mas é no segundo andar que estão guardados os “tesouros”, material de
cozinha, quarto e algum entretenimento.
“Este era o quarto dos
católicos, temos uma imagem de Nossa Senhora, de Jesus”, aponta Navinee. Em
cima da cama o ‘véu das três culturas’, que pertencia à sua avó, uma espécie de
xaile português usado para ir à missa, feito de seda chinesa e que se colocava
‘à moda tailandesa’.
Ao lado fica o material de
cozinha, com tudo o que era preciso para fazer o típico ‘Kanom Farang’, o bolo
“estrangeiro”, inspirado na massa dos queques portugueses e considerado
tradicional de Santa Cruz. Os doces são, aliás, a herança portuguesa mais
disseminada na Tailândia, onde o “Foi Tong”, fios de ovos, foi elevado a
sobremesa nacional.
Taças com pratos envernizados
também mostram tradições gastronómicas bem conhecidas em Portugal, ainda que
sofram algumas adaptações: torresmos, frango estufado, guisado de carne e
cozido à portuguesa.
O Baan Kudichin conta ainda
com uma sala, no piso térreo, onde vai ficar uma árvore genealógica das 17
famílias do bairro. O espaço ainda está praticamente vazio, mas salta à vista
uma enorme fotografia de grupo, a preto e branco, com os membros da comunidade
em 1957, cada pessoa com um número colado. Em cima de uma mesa está um livro
com uma página para cada número, com a intenção de que quem visite o espaço
deixe ali informação sobre as pessoas, de modo a saber-se do seu paradeiro.
“Somos 17 famílias, mas agora
já todos mudaram para um nome tailandês, misturaram-se com outros, tornaram-se
como eu”, diz sorridente a dona do museu, com feições asiáticas. In
“Jornal Tribuna de Macau” –
Macau com “Lusa”
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