O Porto do Pecém, no Ceará,
tem um ambicioso plano de crescimento com vistas a se tornar o “hub” do
Nordeste. Constituído como um terminal de uso privado (TUP) do governo do
Estado, Pecém reúne características que podem lhe dar um diferencial
competitivo na região – o que despertou o interesse do porto de Roterdã, na
Holanda, parceiro que pode acelerar essa empreitada.
Um dos maiores do mundo e
“hub” da Europa, Roterdã tem como uma das vertentes de crescimento apostar em
portos em outros continentes. No fim de março, o porto europeu e o governo do
Estado do Ceará assinaram um memorando de entendimentos que prevê uma série de
estudos a serem feitos pelos próximos 12 meses.
A meta é buscar alternativas
de gestão que aumentem a produtividade, operação, e atração de investimentos ao
Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), onde o porto está situado. No
limite, há previsão de que essa parceria leve à criação de uma joint venture em que o porto de Roterdã
se torne acionista do complexo.
Em entrevista ao Valor, Danilo
Serpa, presidente da Cearaportos, administradora do porto, lista o que reputa
como diferenciais de Pecém. Trata-se de um TUP, o que permite a prática de
tarifas mais competitivas e a dispensa da obrigatoriedade de usar mão de obra
avulsa; tem uma retroárea offshore,
localizada longe da área urbana (o que evita conflitos porto-cidade); pode
receber navios sem restrição de calado, pois tem profundidade de 14 a 18
metros; e é um porto-indústria. No mesmo local há um parque industrial em
franca expansão e uma zona de processamento de exportação (ZPE).
Serpa está convencido de que a
indutora do crescimento do Estado será a logística, para o que a recente
expansão do Canal do Panamá, permitindo o tráfego de grandes navios que outros
portos do país não conseguem receber, pode contribuir. “Estamos buscando ser a
porta de entrada do Nordeste. O Ceará vai mudar a partir disso.”
Porto cresce em média 27% ao
ano, com 11,2 milhões de toneladas no ano passado; previsão é de 29 milhões em
2030
O porto cresce em média 27% ao
ano. Em 2016, movimentou 11,2 milhões de toneladas, alta de quase 60% sobre
2015. A Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), joint venture formada pela Vale, Dongkuk e Posco, respondeu por 32%
de toda a movimentação do porto. E vai aumentar, pois a CSP iniciou os
embarques em meados de 2016. É o maior investimento privado do Nordeste: R$
13,8 bilhões.
Conforme estudos encomendados
pela administração, o porto crescerá, no cenário mais pessimista, 6% ao ano até
2030, para 29 milhões de toneladas. No realista, a alta anual será de 10%, para
44 milhões de toneladas; e no otimista, o avanço será de 14%, atingindo 87
milhões de toneladas.
Tanto o cenário realista como
o otimista levam em conta que Pecém será o concentrador de cargas do Nordeste.
“Setenta milhões de pessoas do Norte e do Nordeste são abastecidas por um fluxo
comercial que lhes obriga a receber as cargas via portos do Sul e do Sudeste
que têm restrições para atender os grandes navios”, diz Carlos Maia, diretor
operacional da Tecer Terminais Portuários.
Em agosto começa uma nova
linha de navegação para Europa que vai transportar frutas. “Hoje o Porto do
Pecém é o maior exportador de frutas do país”, diz Serpa.
Em 2012 o porto concluiu a
primeira ampliação, saindo de quatro para seis berços e também uma retroárea offshore. “Atualmente estamos na segunda
ampliação, que são mais três berços e uma segunda ponte ligando o pátio aos
berços”, diz Serpa. O investimento total é de R$ 640 milhões, com recursos do
Estado e do BNDES.
O porto tem um terminal de
múltiplas utilidades. Não existe arrendatário de áreas, a operação de embarque
e desembarque é feita por empresas privadas credenciadas pela administração
como prestadores de serviço operacional, como a Tecer e a APM Terminals. Esta
última, do grupo Maersk, tem dois portêineres no porto – “os mais modernos do
Nordeste”, diz Serpa. A capacidade do porto é para até 750 mil Teus (contêiner
de 20 pés) por ano. Em 2016 foram movimentados 178 mil Teus. Antes dos
portêineres a média era de 27 movimentos por hora. Agora é de 64 movimentos por
hora. Fernanda Pires – Brasil in “Valor
Econômico”
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