Os
arqueólogos ficaram surpreendidos com a casa de dois andares, com uma escadaria
interior, construída com técnicas que só se pensava terem sido descobertas
muitos anos depois
Nunca antes foi encontrada uma
construção assim com tantos anos, pelo menos 2500. É "única" e
"extraordinária", garantem os arqueólogos. Uma escada com dois metros
e meio liga os dois andares do edifício, com cerca de um hectare, o maior
alguma vez localizado naquela época tartésica (1000 a.c a 550 a.c.), a riqueza
dos materiais e o seu estado de conservação, deixaram surpreendidos os
investigadores do Instituto de Arqueologia do Conselho Superior de
Investigações Científicas (CSIC) da Estremadura.
A edição desta segunda-feira
do jornal El País conta que desde 2015 que a equipa coordenada pelos
arqueólogos Sebastián Celestino e Esther Rodríguez estão a trabalhar nesta
escavação, localizada em Badajoz, no vale do Guadiana. Nesta construção foram
detetados materiais e técnicas que se pensava só terem sido utilizadas muito
tempo depois.
"A escada é um elemento
arquitetónico único de uma coisa que não acreditávamos que pudessem executar
nesta época. Há escadas no início da história da Península Ibérica, mas de
tempos posteriores. Neste tempo as escadas tinham dois ou três degraus de pedra
e adobe para proteger o desnível. Neste caso são, pelo menos, 10 degraus, pois
podemos vir descobrir mais, com dois metros de comprimento, 40 centímetros de
largura e 22 de altura. Os cinco primeiros estão cobertos por placas de ardósia
e os inferiores são feitos de uma cantaria quadrangular com argamassa de
granito esmagada e envolta em cal", explica Esther Rodriguez. "A
coisa mais surpreendente foi a sua profundidade, dois metros e meio abaixo do
solo, o que quer dizer que estamos a aceder a outro andar, o que o torna o
primeiro edifício de dois pisos descoberto até agora nesta época",
acrescenta Sebastian Celestino.
Foram também encontrados
materiais numa condição "extraordinária" de conservação, como jóias,
pontas de lança, contentores, sementes e restos de tecido, grades ou enormes
caldeirões de bronze. A civilização pré-romana que ocupava o sudoeste da
Península Ibérica no primeiro milénio a.c. levantou todos os tipos de mitos e
lendas (especialmente em torno de seu declínio misterioso e fim abrupto)
devido, entre outras coisas, à falta de restos materiais.
De um lado da escadaria,
apareceram os corpos de dois cavalos mortos, perfeitamente colocado em posição
anatómica, apontando certamente um sacrifício ritual destes animais, símbolo de
luxo e que não faziam parte da alimentação, naquela época. Por outro lado,
foram descobertos também vestígios de uma vaca que os habitantes consumiram,
numa espécie de festa.
Apenas 10% da área da
escavação foi trabalhada, o que deixa uma enorme expectativa sobre o que ainda
pode vir a ser descoberto. A maioria dos edifícios naquela época, localizado a
meio do Vale do Guadiana numa área que recebeu grandes fluxos de imigração do
núcleo central Tartesos no Guadalquivir e Huelva, depois de uma profunda crise
económica no século VI, foi destruída pelos seus próprios residentes até ao final
do século V, início do IV. Eles preferiram derrubá-los do que vê-los pilhados
pelos povos do norte, de etnia celta, que estavam prestes a chegar. In “Diário
de Notícias” - Portugal
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