O embaixador Gonçalo Mello
Mourão, representante permanente do Brasil junto à Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP), ressaltou em entrevista concedida esta semana à
Agência Brasil, em Lisboa, a importância da língua portuguesa no atual cenário internacional.
Para Mourão, a eleição do português António Guterres como novo secretário-geral
das Nações Unidas é um fato extraordinário para o mundo lusófono.
“Quanto mais 'mundo' falando a
nossa língua, mais o mundo fica próximo de nós e mais nós ficamos próximos do
mundo. Durante o mandato [de Guterres] – que nós esperamos que seja renovado,
como tem sido a prática da ONU -, nós vamos ter em evidência um falante da
língua portuguesa. O português hoje já é língua de trabalho em alguns
organismos das Nações Unidas, inclusive alguns de relevo”, afirmou o
embaixador.
No entanto, Mourão lembrou que
a escolha de uma língua como idioma oficial das Nações Unidas traz impactos
financeiros. “Uma língua na qual todos os documentos são produzidos tem uma
implicação de custos imensa, que não necessariamente pode ser atendida pelo
desejo político. De qualquer maneira, o Brasil continuará sempre a trabalhar no
sentido de que a língua portuguesa seja cada vez mais aceita como uma língua
internacional”, disse.
Para Mourão, a CPLP é, além de
um espaço de cooperação entre os países-membros, um lugar de pertencimento. “É
um espaço que se funda na percepção que os diversos países tiveram num certo
momento de que há um passado comum, um presente comum e um desejo de futuro comum,
não só na cooperação para o desenvolvimento, mas também na promoção da cultura
de cada um de nós dentro do âmbito da expressão linguística do português”.
O embaixador diz que a CPLP
não pretende ser o principal instrumento de cooperação para o desenvolvimento e
solução dos problemas internos dos diversos países que a compõem. Os acordos de
cooperação seriam apenas uma das diversas áreas de atuação da comunidade, que
funciona, em todas as suas esferas, com base no princípio do consenso em todas
as decisões tomadas.
Apesar de reconhecer o peso
(econômico, social, cultural e populacional) que o Brasil exerce dentro da
comunidade, Mourão ressalta que o interesse do país não é o de direcionar a
CPLP. “Claro que o Brasil é um país que tem um peso e é óbvio que se olha [para
ele] com alguma expectativa. Mas o Brasil não pretende conduzir a CPLP para
nenhum lado. O Brasil pretende que a CPLP vá junto para onde ela quiser ir. E
onde ela quer ir é onde todos os membros queiram ir”.
Livre
Circulação
Em relação a um possível acordo
de livre circulação entre os cidadãos dos países-membros da CPLP (Angola,
Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São
Tomé e Príncipe e Timor Leste), Mourão afirma que, apesar de o assunto vir
sendo discutido dentro da comunidade, as complicações são muitas e o processo
deve ocorrer de forma lenta.
“Há, claro, um desejo de que
um dia essa livre circulação se verifique. Eu acho que isso não é só um desejo
dos países de língua portuguesa, mas de todos os cidadãos do mundo. Dentro da
CPLP é um problema que tem que se resolver em conjunto, mas também
individualmente. Há certos problemas que implicam pertencer a outros
agrupamentos regionais que têm acordos específicos sobre a matéria {como
Portugal com a União Europeia]. E é uma decisão política também sobre o desejo
de realmente abrir as fronteiras para essa livre circulação dos cidadãos da
CPLP”.
Mourão ressaltou a importância
atual de o Brasil ter assumido em outubro a presidência bianual da CPLP durante
a 11ª Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade, em Brasília.
“O Brasil propôs, como meta de
trabalho da organização, atingir certos objetivos da agenda 2030 das Nações
Unidas para o desenvolvimento sustentável. Nós vamos começar a discutir, a
partir de 2017, quais seriam os temas dessa agenda que nós poderíamos apostar
como possíveis de serem conjuntamente desenvolvidos de modo que, ao final da
presidência brasileira, daqui a dois anos, nós possamos apresentar um resultado
concreto. Nesse aspecto, foi uma feliz coincidência a eleição de Guterres,
porque nós vamos ter a CPLP trabalhando em cima de uma meta da ONU”, frisou. Beto Barata – Brasil in “Isto
É”
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