SÃO
PAULO – Apesar das tintas carregadas com que alguns analistas têm pintado o cenário
para o Brasil em 2017, em razão da crise política entre o Congresso e o Poder
Judiciário e até da pouca governabilidade que transparece das ações do
mandato-tampão do presidente Michel Temer, para o comércio exterior brasileiro
as perspectivas não seriam tão turvas assim.
Uma
das razões para essa análise mais otimista é a fase de conclusão em que se
encontram as negociações para a assinatura de um acordo comercial do Mercosul
com a União Europeia (UE), depois de alguns avanços e muitos retrocessos desde
1998, quando tiveram início as tratativas, passando depois por uma paralisação
de 12 anos. Como se sabe, o interesse europeu neste acordo de comércio deve-se,
em grande parte, ao Brasil. Afastada a questão política, que nascia da pouca
credibilidade que os governos anteriores passavam para o bloco europeu, o atual
governo mostrou-se mais prático e decisivo nas negociações, facilitando a
contrapartida por parte do bloco europeu.
Um
exemplo disso é o estudo divulgado pela Comissão Europeia que mostra que a
Europa terá importantes ganhos se o acordo com o Mercosul vier a ser assinado,
inclusive no setor agrícola, a maior fonte de preocupação dos governos
europeus, que, a princípio, temem a abertura de seus mercados para a
concorrência externa. Diz o estudo que os europeus, até 2025, ampliariam em 29
bilhões de euros as suas compras de produtos agrícolas, metade das quais seria
procedente das nações que formam o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e
Paraguai). Já as exportações do Mercosul
para a UE aumentariam 14 bilhões de
euros em dez anos, ou seja, haveria um salto de 24% nas exportações do bloco
sul-americano para o europeu. O que se espera é que essas negociações avancem
em 2017.
O
outro ponto de preocupação para os analistas do comércio exterior brasileiro é
o possível comportamento do governo Trump, a partir de janeiro. Mas, seja como
for, é preciso levar em consideração que o Brasil, ao contrário do México e da
Colômbia, não é extremamente dependente da política externa dos EUA, embora
aquele país seja o principal destino das exportações dos manufaturados
brasileiros. O prejuízo maior para o Brasil aconteceria se os EUA adotarem
regras mais rígidas para a importação de produtos agrícolas.
Além
disso, obviamente, o Brasil não faz parte das prioridades dos EUA e esse status não deverá ser alterado sob o
governo Trump, que deverá se preocupar mais com mudanças em tratados como
Nafta, com Canadá e México, TPP, que responde por 40% do Produto Interno Bruto
(PIB) global, e TTIP, que envolve a UE. Tudo, porém, não passa de especulações
e o mais provável é que as relações comerciais entre Brasil e EUA sigam sem
maiores turbulências. Milton Lourenço -
Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São
Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br
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