Nascido em São Martinho do
Vale (Famalicão, perto do Porto), em 1646, Tomás Pereira integrou durante 35
anos a corte do imperador chinês Kangxi (1654 - 1722), cuja governação marca o
início de uma era áurea da civilização chinesa.
Na época em que a repressão do
catolicismo no Japão vitimou o jesuíta Cristóvão Ferreira, um outro missionário
português conseguiu firmar com o imperador da China uma aproximação inédita,
servindo-se da ciência e da cultura. Oriundo de São Martinho do Vale
(Famalicão, perto do Porto), Tomás Pereira foi professor de matemática do
imperador chinês Kangxi, introduziu a música ocidental na China e desempenhou
um papel importante nas negociações do primeiro acordo fronteiriço entre a
China e a Rússia, em 1689.
O seu trajeto ilustra a
fórmula utilizada pelos antigos jesuítas para interagirem com o poder chinês e
cumprirem a sua missão, num país adverso à influência externa. A transmissão de
conhecimentos era usada para "fazer amigos e influenciar pessoas entre a
elite dos mandarins", com o intuito de os "converter", refere
Liam Matthew Brockey, professor catedrático no State University of Michigan.
Tomás Pereira terá, contudo,
ido mais além, ao conseguir uma aproximação inédita a Kangxi.
"Da antiga missão, ele foi
provavelmente o jesuíta mais próximo ao imperador chinês", avalia num
ensaio Paul Rule, sinólogo australiano especializado em estudos religiosos.
Rule considera que o português foi mais do que um "perito
estrangeiro", tendo servido como "conselheiro próximo" e até
"quase amigo íntimo" do imperador.
"Terá promovido mais
efetivamente o cristianismo na China do que qualquer outro missionário durante
o seu período", escreve o académico.
Tomás Pereira jaz hoje nos
jardins da embaixada portuguesa em Pequim, numa reconstituição da sua pedra
tumular. Trata-se de uma pedra de formato retangular, com quase quatro metros
de altura, e esculpida com a ajuda do investigador chinês Yu Sanle, cujo
trabalho é focado na presença dos primeiros jesuítas europeus na China. Na
fachada está gravado o Édito da Tolerância, escrito originalmente por Kangxi,
numa invulgar demonstração de abertura à prática do cristianismo na China
Antiga, e que terá resultado da proximidade do imperador ao missionário
português.
A lápide original, colocada no
cemitério jesuíta de Zhalan, no norte de Pequim, perdeu-se por completo,
provavelmente destruída durante a revolta dos Boxers, o movimento nacionalista
contra a presença estrangeira na China, no final do século XIX.
A reconstituição do jazido foi
inicialmente proposta em 2005 por Mariano Gago, então ministro português da
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, e concluída este ano com o financiamento
do Instituto Camões e da Fundação Gulbenkian.
A sua primeira exibição em
público foi em 1 de novembro passado, dia do aniversário de Tomás Pereira, e
contou com a presença dos embaixadores dos países fundadores da CPLP
(Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), com exceção para São Tomé e
Príncipe, que não tem relações diplomáticas com Pequim.
Educado na Universidade de
Coimbra, Tomás Pereira rumou a Goa em 1666. Seis anos mais tarde,
estabeleceu-se em Macau, então sob administração portuguesa. Ao saber da
existência no território de um jovem jesuíta com conhecimentos de música e
astronomia, Kangxi chamou-o a Pequim. Em 1675, Tomás Pereira foi submetido a
uma audiência na corte e nomeado para dirigir o Observatório Astronómico de
Pequim.
Na capital da China, adquiriu
o nome chinês 'Xu Risheng', cuja tradução é "Sol que nasce aos
poucos". In “Sapo24” - Portugal
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