Macau
é a ponte entre a China e o mundo lusófono e por consequência a CPLP. A China
tem demonstrado muita simpatia por este conjunto de países da mesma forma que
tem demonstrado interesse em fortalecer as relações comerciais entre os dois.
São levadas a cabo Cimeiras, Conferências Ministeriais e contactos diplomáticos
de vária natureza. Falamos de um território com uma extensão de apenas 30km2
mas com uma influência e uma visibilidade que correspondem a muito mais do que
isso
Ao analisar com mais rigor a
questão da Lusofonia, podemos verificar que o Brasil mais do que qualquer outro
é o protagonista por excelência da CPLP. As suas fragilidades e os seus
interesses são sempre tidos em linha de conta, mais do que os de qualquer outro
dos membros, na tomada de decisões - o Acordo Ortográfico teve uma grande influência
sua - e é tido como o grande bastião da Comunidade Lusófona.
No entanto, o Brasil é um país
com imensas idiossincrasias de difícil resolução e vê em todas as alternativas
comerciais ou económicas um escape para os seus problemas e não uma forma de
resolução dos mesmos.
E isto leva-nos a que nos
questionemos, apesar de sabermos que a maioria da população falante de Português
se encontra em território brasileiro e que este foi um dia considerado como uma
“extensão de Portugal”, sobre o porquê deste protagonismo dado ao Brasil que
não se reflecte em melhores condições para toda a CPLP? Tivesse o Brasil um
papel de destaque e uma imagem de maior credibilidade na sua gestão interna, e
talvez isso fosse possível.
Assim, ao olharmos para o mapa-múndi
e no que à CPLP diz respeito, podemos perceber que começam a aparecer muitos
países que pedem o estatuto de observadores e embora nos seus estatutos, a CPLP
não admita territórios como seus membros, há territórios que não só mantêm uma
ligação forte à Lusofonia, como aos usos e costumes que herdaram aquando da
passagem dos portugueses, como inclusivamente mantêm o uso da Língua embora neste
momento estejam agregados politicamente a outros países.
A questão galaico-portuguesa,
no entanto, assume outros contornos. Há uma grande identificação cultural e
linguística entre a Galiza e Portugal, são muitas até as plataformas educativas
e comerciais que unem os galegos e os nortenhos. As semelhanças linguísticas
contribuem sobremaneira para o fortalecimento destes laços mas é necessário não
cair no erro da padronização. No caso da Língua, a corrente reintegracionista
deixou cair o debate sobre o galego vivo nos anos 80 ao mesmo tempo que
apadrinhava uma identificação com a norma portuguesa. O Acordo de 1990 leva a
que se dê mais um passo em direcção à aproximação de ambos os espaços mas este
desrespeita a tradição ortográfica do galego pois propõe que se fale galego mas
se escreva português o que vai de encontro ao principal objectivo do Acordo
Ortográfico e que o torna virtualmente impraticável.
Quanto aos estatutos, sob pena
de a CPLP ficar presa em si própria, eles podem ser alterados desde que tal
signifique um benefício claro para o mundo da Lusofonia independentemente da
vertente em que se manifeste. Não que se devam alterar por qualquer coisa de
somenos importância mas que não estejam desenhados para proteger os interesses
de poucos.
A CPLP tem crescido de
importância e os mercados têm estado atentos até porque é preciso diversificar
as economias e estes podem crescer se houver desenvolvimento de países que
estavam manietados por regimes castradores da sua liberdade de crescimento empresarial
e económico.
Normalmente, esses territórios
estão agregados a grandes gigantes económicos que não estão interessados em
deles abrir mão ou em colocá-los numa posição de maior protagonismo mas isso
não significa que não se coloquem hipóteses e não se pense sobre elas.
Olhando para o mapa da
Lusofonia – e não o da CPLP visto este (ainda) não admitir territórios –
observemos a questão de Macau.
Macau é a ponte entre a China
e o mundo lusófono e por consequência a CPLP. A China tem demonstrado muita simpatia
por este conjunto de países da mesma forma que tem demonstrado interesse em
fortalecer as relações comerciais entre os dois. São levadas a cabo Cimeiras,
Conferências Ministeriais e contactos diplomáticos de vária natureza. Falamos
de um território com uma extensão de apenas 30km2 mas com uma influência e uma
visibilidade que correspondem a muito mais do que isso.
Ora se a ligação a Portugal e
à Lusofonia é de tal ordem, o que impede os responsáveis pela CPLP de proporem
que o pólo de liderança passasse do Brasil para Macau?
A China cria o Fórum de
Cooperação Económica e Comercial como instrumento diplomático para melhorar as
relações sino-lusófonas colocando-o em Macau. Este Fórum organiza Seminários
sobre temas fulcrais para a Comunidade Lusófona e sobre o papel e relações que
este bloco mantém com a China. Há outros dois organismos criados por Pequim e
que pretendem prosseguir os mesmos fins ainda que com outros meios. São eles, o
Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) que tem
como missão o aprofundamento das relações com os países de língua portuguesa e
a Comissão para o Desenvolvimento da Plataforma de Serviços para a Cooperação
Comercial entre a China e os países de língua portuguesa que é presidida pelo
chefe de Governo de Macau.
A Comissão tem como missão
intensificar a formação e as trocas comerciais e culturais entre a China e os
países lusófonos além de disponibilizar assistência e serviços de consultadoria
nas áreas de tradução/interpretação ou outras matérias como sejam: língua,
finanças, gestão e assuntos legais. Esta Comissão tem o objectivo de munir
Macau com a capacidade de utilizar plenamente as suas vantagens especiais,
impulsionando o seu papel como plataforma capaz de desenvolver uma forte
colaboração entre o bloco sino-lusófono.
No entanto e apesar da criação
e implementação de todos estes mecanismos, há muito mais tendência para
conversações bilaterais do que necessariamente em grupo como o G7 ou outras
organizações multilaterais. Por outro lado e apesar de nenhum País “dirigir” a
CPLP, seria difícil vermos o Brasil ir a Macau debater problemas de construção
aeronáutica espacial ou Angola deslocar-se a Macau para debater a exportação de
petróleo. Assim, o problema coloca-se não ao nível de uma liderança do Brasil
mas da falta de liderança.
Falamos de um território que
se encontra sob a batuta da China mas ao mesmo tempo de um território
organizado política e administrativamente, que defende os Valores da Lusofonia
na sua plenitude e que poderia ser uma mais-valia no comércio luso-asiático mais
do que o Brasil que não tem com este bloco relações tão privilegiadas quanto
Macau seja pela questão da proximidade geográfica ou mesmo pela cultural.
É claro que isto não passa de
uma sugestão mas quem sabe se com o tempo não ganha forma? A repolarização da
CPLP e o abandono dos métodos tradicionais e fechados que tem aplicado,
abrindo-se apenas naquilo que são, para si, vantagens imediatas, pode vir a
revelar-se no futuro como algo bastante positivo, o tempo dirá. Luísa Vaz - Portugal
(A
autora não usa o Acordo Ortográfico)
Luísa Maria
Teixeira Vaz - Natural da
cidade do Porto, licenciada em Estudos Europeus pela Universidade Aberta com
formação em Relações Internacionais pela Universidade do Minho. Fundadora e
escritora num blog de opinião chamado "As Opiniões da Lu" onde são
expostos pontos de vista sobre temas da actualidade de forma livre e sem
amarras. Participa na coluna Ágora Lusitana do blog Rua da Constituição com uma
opinião mensal e tem uma participação quinzenal no blog BIRD Magazine. É também
fundadora e blogger no Insónias.
Está neste
momento a preparar compilações dos seus artigos em formato e-book. O primeiro prevê-se
que seja lançado ainda este ano. Profissionalmente esteve ligada à revisão e
publicação de obras numa Editora bem como realiza trabalhos de tradução e
retroversão em várias áreas de conhecimento. Colabora no blogue “Baía da
Lusofonia”.
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