Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 11 de dezembro de 2016

Casamansa – Centro de língua portuguesa vai abrir em Ziguinchor

Portugal vai abrir até março de 2017 um Centro de Língua Portuguesa (CLP) do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua em Casamansa, 130 anos depois de ter cedido aos franceses aquela região da então Guiné portuguesa.



Vai ser o segundo centro do género no Senegal, “o país não lusófono onde há mais estudantes de português” no mundo, disse à Lusa, José Horta, diretor do CLP de Dacar, que funciona na Universidade Cheikh Anta Diop (UCAD).

Eram 43500 alunos no último ano letivo, um crescimento em relação aos 38500 de 2013.

“Todos os anos há um aumento de alunos. Professores são 430, senegaleses, pagos pelo Senegal”, sublinhou.

Na UCAD há outros dois mil alunos no curso de Estudos Portugueses e “mais de metade” é oriundo de Casamansa”, acrescentou Horta.

Portugal entregou a região em 1886 por troca com Cacine, no sul da atual Guiné-Bissau, no âmbito da Conferência de Berlim, em que os Estados europeus redefiniram entre si as fronteiras das colónias africanas.

O mapa mudou, mas a presença portuguesa que durou dois séculos e meio mantém-se viva e manifesta-se através de algum património cultural, usos e costumes, e no interesse pela língua.

A obra do CLP avança, com algumas paredes em bruto já erguidas, no meio de um espaço verde da Universidade Assane Seck, em Ziguinchor, entreposto comercial criado a mando de D. João IV (1645) e cidade que começou a ser moldada pelos luso-africanos que nasceram do contacto entre portugueses e povos locais.

“O centro é uma ambição minha desde que cheguei ao Senegal há 16 anos”, referiu José Horta, em entrevista à Lusa durante uma visita à Universidade Assane Seck.

Já há muito que tinha ouvido falar de Casamansa e quando finalmente conheceu a região ficou rendido à ideia de que “depois da capital”, era ali que tinha que haver um centro de língua portuguesa.

Assim nasceu um protocolo com a universidade pública de Ziguinchor, onde já há cerca de 300 estudantes de português.

Além destes, “o centro vai servir toda a gente que seja amiga da lusofonia”, com aulas de português para estrangeiros, ciclos de cinema ao ar livre e outras atividades – tudo a troco de uma inscrição a preço simbólico.

O português é uma das seis línguas de opção no percurso escolar público do Senegal.

“Os alunos têm sempre que escolher uma delas a certa altura” e “os laços afetivos com a Guiné-Bissau, Cabo Verde e que resultam da história” pesam a favor de Portugal, apontou José Horta.

Das voltas pelo país, no trabalho com os professores, José Horta concluiu que “os senegaleses, sobretudo os do sul, ainda hoje se sentem um pouco portugueses” e recordou que Léopold Senghor, primeiro Presidente do Senegal após a independência, em 1960, dizia ter “uma gota de sangue português” – o sobrenome Senghor que recebeu do pai terá sido uma derivação da palavra “senhor”.

O chefe de Estado foi agraciado com o Grande Colar da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada de Portugal a 13 de março de 1975.

“É preciso agarrarmos estas oportunidades e fazermos, por exemplo, uma formação de professores bastante sustentada para os incentivar a criarem clubes de português que são um motor dentro das escolas”, realçou.

São estes clubes que organizam festas, encontros culturais, de danças e outros que motivam o interesse pela língua.

O dia da CPLP que José Horta e os alunos organizam todos os anos na faculdade, em Dacar, é um desses eventos que acredita serem capazes de captar novos estudantes de português.

“Quando os alunos têm um bom professor, que os motiva, eles querem aprender aquela língua. Até podem abandonar outra para aprender aquela. O meu trabalho é fazer com que os professores aprendam a motivar os alunos”, sublinhou.

E 130 anos depois de sair do mapa português, Casamansa vai ter uma nova casa da lusofonia, em cooperação com o Senegal, com inauguração prevista para entre fevereiro e março do próximo ano. In “Observatório da Língua Portuguesa”

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