SÃO
PAULO – Estudo realizado pelo Setor de Integração e Comércio (INT, na sigla em
inglês) do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostra que América
Latina e Caribe foram as regiões mais afetadas no comércio mundial pela atual
crise, especialmente os países sul-americanos. Trata-se de um cenário que causa
muita preocupação e que exige por parte dos governos do continente uma ação
coletiva que promova meios de enfrentar não só a conjuntura recessiva como o
aumento das medidas protecionistas que é previsto por parte dos parceiros mais
desenvolvidos de outras regiões.
Ou
seja, é necessário promover a diversificação comercial, já que houve, nos últimos
anos, crescente especialização da região em produtos básicos, como se a América
Latina e o Caribe estivessem condenados a voltar aos tempos do colonialismo,
quando serviam apenas como fonte de fornecimento de matérias-primas. Isso
significa que o Mercosul e outros blocos que fazem parte da região devem
coordenar ações que promovam o comércio de produtos de valor agregado, que são
aqueles que estimulam a indústria e a criação de empregos, o que se reflete na
dinamização do mercado interno.
Segundo
o BID, depois de dois anos de queda, as exportações de bens por parte da região
contraíram-se a taxas anuais de 14,8% em 2015 e 8,5% até julho de 2016. Para
piorar, as exportações de serviços, que em anos anteriores haviam compensado em
parte a queda nas vendas externas de produtos manufaturados, desta vez,
decresceram 2,4% em 2015, desde a crise financeira de 2009.
Ainda
de acordo com o estudo, essa contração, que é mais acentuada na região que no
comércio global, é consequência de elevada queda nos preços, especialmente de
produtos básicos e do petróleo. Basta ver que, no começo da década passada, a
inserção da região no comércio global era de 4% e agora de apenas 2,9% (sem
levar em conta os números do México, que faz parte do acordo Nafta, com EUA e
Canadá).
Em
outras palavras: vive-se hoje uma crise muito pior que a de 2008, que durou
oito meses e registrou rápida recuperação. Desta vez, a desaceleração já
perdura há mais de 24 meses, registrando, segundo os analistas do BID, uma
queda de 16% a nível mundial e de 21% a nível latino-americano. Isso se deu
principalmente em razão do fim de um ciclo de crescimento que respondia pelos
preços elevados das commodities. Ou
seja, o crescimento que houve na década teve muito a ver com os preços elevados
das matérias-primas. E que, em função disso, América Latina e Caribe aumentaram
suas cotas de mercado em setores que perderam dinamismo global.
Acontece que o motor do
desenvolvimento mundial é o comércio de produtos manufaturados e não o de commodities. Portanto, é fundamental que
se procure meios para se escapar dessa tendência de retorno ao estado primário
de nossa economia, com o sucateamento da indústria da região, o que inclui
acordos com países e blocos de fora do continente, já que o atual cenário não
favorece o crescimento das exportações inter-regionais, mais intensas em
manufaturados. Milton Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São
Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br
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