Os recentes livros da irreverente escritora
Moçambicana Paulina Chiziane em co-autoria com Maria do Carmo da Silva, “Na mão
de Deus” e “Por quem vibram os tambores do Além” não se ajustam nos moldes da
literatura de ficção.
Quebrando as fronteiras entre o autor textual
e o autor empírico, Na mão de Deus é um relato da experiência de vida da
personagem principal da história, de nome Alice, quando acometida por uma crise
mental que a levou a passar alguns dias internada no Hospital psiquiátrico de
Infulene.
Trata-se de uma obra que aborda a questão da
mediunidade, isto é, a incorporação dos espíritos em seres humanos passando
estes a mediar o mundo dos vivos e dos mortos.
Por Quem vibram os tambores do Além, agudiza
ainda mais esta tendência de escrita, ao adentrar em histórias reais do
curandeirismo, num exercício em que a autora procura salvaguardar uma
“sabedoria” Africana que considera marginalizada, ignorada pela Ciência bem
como por muitas crenças religiosas ditas “sagradas”.
Sobre o livro Na mão de Deus, escreve o
escritor Moçambicano, Calane da Silva, no prefácio; “é rica e minuciosa na
narração e descrição do que acontece com uma personagem, melhor dito, com a
personagem principal de nome Alice que vai contando ao longo da história todo o
seu drama vivencial, todos os sintomas físicos e psíquicos que a levaram à
psiquiatria, mas que, fundamentalmente era o aflorar da sua mediunidade,
infelizmente, não compreendida pelos familiares e amigos, e tratada medicamente
como se de uma mera doente mental se tratasse.”
Trata-se, considera, de um exercício de busca
de explicação de fenómenos que escapam às soluções científicas racionais,
através daquilo que hoje é conhecido como ciência espiritual, a parapsicologia,
“que eminentes espiritualistas e espíritas – sem medo das religiões – foram
investigando e desvendando com a colaboração, inclusive, de ousados homens e
mulheres ligados à chamada ciência formal (revelando, assim, os tais mistérios
e milagres de que falam algumas religiões) como, igualmente e de modo mais
profundo, pelo Amor, pela Energia do Amor, que contém em si o perdão, a
humildade, a caridade e a própria cura e também, essencialmente, pela
descoberta do Criador Quântico dentro de cada um de nós que nos pode ajudar a
resolver com sucesso todas essas questões e perturbações bio psíquicas.”
Estamos, escreve, perante uma narrativa que
nos remete para “o conceito de uma literatura multidimensional e holística, de
uma literatura para e do Terceiro Milénio, um Milénio que será caracterizado
pelas grandes descobertas sobre o funcionamento da mente, como preconizou
Michel Foucault”.
Por quem vibram os tambores do Além, segundo
o professor universitário, Nataniel Ngomane, é uma reflexão que instiga o
leitor a revisitar e questionar conceitos e crenças e caminhos de vida julgados
firmes e consolidados”.
“Tomando como referência espaços geopolíticos
do actual território de Moçambique e suas milenares figuras mitológicas – até
agora desconhecidas de muitos de nós – Pita e Chiziane conduzem o leitor pelas
sinuosas e múltiplas veredas das cavernas africanas, derramando sobre alas
incontáveis feixes de luz de um saber (curandeirismo) sobre o qual urge
questionar se oculto, escamoteado ou, pura e simplesmente, reprimido e votado à
margem ou ao esquecimento”, escreve o académico. In “Debatemoz” - Moçambique
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