Especialista
da Universidade de Lisboa defende subsídios para o transporte público. Para
Nuno Costa, melhoria da qualidade do serviço e da mobilidade urbana justifica
criação de uma fonte de custeio para o setor.
O pesquisador da
Universidade de Lisboa Nuno Costa defende a implantação de subsídios para o
transporte público como alternativa para melhorar a qualidade do serviço e
favorecer a mobilidade urbana. Palestrante do II Seminário Internacional de
Mobilidade e Transportes, realizado em Brasília em outubro, ele lembrou que, em
cidades europeias, o subsídio chega a aproximadamente 40% do valor das tarifas.
No Brasil, com exceção de algumas cidades, esse aporte não existe.
Confira trechos da
entrevista concedida por ele à Agência CNT de Notícias.
Por que subsidiar o
transporte público?
Porque se trata do custo
social do transporte: no fundo, não é só o usuário do transporte público que é
beneficiário. Há outras pessoas que não vão utilizar o transporte público que
também se beneficiam, desde os utilizadores do transporte individual,
comerciantes, empregadores. Porque, senão, teremos valores tarifários altos e
uma degradação da qualidade do transporte, e não é isso que se pretende. Por
outro lado, a criação de subsídios também permite outros tipos de investimento
em infraestrutura de longa duração, que possibilita a utilização de outros
modais e a garantia de uma melhor adequação dos modos à procura pelo serviço de
transporte.
Como devem ser pensadas
essas soluções para as cidades?
A questão fundamental é
adequar cada uma das situações das cidades à sua realidade de mobilidade. Ou
seja, é importante percebermos como as pessoas se deslocam no seu cotidiano
para que isso permita, de fato, intervir na oferta de transportes e responder a
essa necessidade de deslocamentos dos habitantes. E, de acordo com essa
procura, adequar as melhores respostas em termos modais e utilizar BRT, VLT ou
metrô, por exemplo. Mas obviamente que isso tem custos enormes para a
infraestrutura. Portanto, toda essa roupagem do transporte público também passa
por aí: não podemos ter uma melhoria se não responder às necessidades. Tem que
ser confortável, eficiente, permitir fazer deslocamentos com segurança e
rapidez. Isso é que é importante no transporte público para fazer frente ao
transporte individual.
Isso tem a ver com a
qualidade de vida da população...
Claro, porque tem a ver com
a questão do tempo restrito que as pessoas têm para se deslocar e para executar
uma série de tarefas. Tenho que me deslocar nesse espaço e nesse tempo de forma
mais confortável e eficiente. Quanto menos eu me sentir frustrado por não
conseguir isso, ou por não fazer aquilo que eu queria fazer em determinado
período de tempo, vou perceber uma melhora da qualidade de vida.
O senhor também atentou para
a questão da importância da equidade do transporte público. O que isso
significa?
É outra questão fundamental.
Quando pensamos na sustentabilidade, temos a parte econômica, a parte ambiental
e a parte social, que é a necessidade de pensar que o transporte público é para
todos: mais velhos, mais jovens, homens, mulheres. No fundo, a resposta que o
transporte tem e as funções de mobilidade têm que ser mais inclusivas. Se imaginarmos
uma cidade fundamentalmente dependendo de transporte individual, estamos
excluindo os mais velhos ou os mais jovens porque não podem dirigir, vamos
excluir os mais pobres porque eles não têm condições de ter um carro, e o homem
ou a mulher porque, havendo um veículo na família, o outro não consegue se
deslocar.
Por que e como estimular o
jovem a usar o transporte público?
Eu não posso pensar que um
jovem diga que o transporte público não presta. Eles têm que perceber como
normal o uso do transporte público, e isso acontece por meio da
conscientização. Deve-se incutir o hábito de utilizar o transporte público.
Isso é o que ocorre nas cidades europeias. Naturalmente que isso é uma questão
de educação.
No Brasil, o incentivo
econômico para a compra do carro próprio fez crescer muito a frota nos últimos
anos. Mas o crescimento da quantidade de carros nas ruas não é um fenômeno
apenas do Brasil. O senhor relatou que isso ocorreu também em Portugal. O que
explica a opção pelo transporte individual?
Tem a ver com algumas
questões relacionadas à modificação das bacias de emprego, dos locais para onde
as pessoas se deslocam. As necessidades que o transporte público supria no
passado, fazendo certas linhas, talvez não supra mais. Por isso, é tão
importante saber o que as pessoas fazem, como são seus deslocamentos para
planejar um sistema de transporte eficiente. A outra resposta para isso é a
questão do tempo: as pessoas fazem cada vez mais atividades num mesmo intervalo
de tempo, o que aumenta a complexidade nos deslocamentos diários e exige uma
infraestrutura melhor.
Como o transporte individual
deve ser tratado nesse contexto?
Não dá para descuidar do
transporte individual. Por exemplo, numa área de baixo adensamento urbano, não
dá para colocar transporte público porque é inviável economicamente. Então,
tenho que pensar na infraestrutura do transporte individual. E, portanto, o que
temos é fazer com que isso seja garantido pelo transporte individual. Natália Pianegonda – Brasil in “Agência
CNT de Notícias” da Confederação Nacional de Transporte
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