No papel
ninguém pode se queixar do que o governo federal vem fazendo para dotar o País
de uma infraestrutura portuária e logística capaz de suportar o crescimento
previsto. É de lembrar que, nos últimos dez anos, a movimentação dos portos
nacionais cresceu 80% em tonelagem e a previsão é de que evolua em média 5,7%
por ano, o que provoca uma expectativa a curto prazo de uma movimentação anual
de mais de 2,2 bilhões de toneladas.
Para
enfrentar as exigências que esse crescimento traz, o governo espera licitar
áreas nos portos de Santos e do Estado do Pará – Santarém, Santarenzinho, Miritituba
e Vila do Conde – que poderão resultar num aumento da capacidade de 48 milhões
de toneladas por ano, com investimentos estimados em R$ 3 bilhões. Para tanto,
aposta na capacidade de investimento de grupos estrangeiros interessados em
escoar a supersafra de grãos para a Europa e Ásia.
Só terminais
graneleiros, porém, não vão dar conta desse escoamento. É preciso investir não
só na pavimentação da BR-163, que liga Cuiabá-MT a Santarém-PA, como ampliar a
rede de armazenagem pública e privada. A princípio, o governo destinou R$ 25
bilhões – R$ 5 bilhões ao ano por um período de cinco anos – a financiamentos
de armazéns privados a juros maternais de 3,5% ao ano, além de R$ 500 milhões
para aumentar a capacidade de armazenagem da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab).
Está previsto
ainda um investimento da ordem de R$ 10 bilhões em cinco anos em ferrovias,
especialmente na Leste-Oeste, Norte-Sul e Transnordestina, o que deverá reduzir
o custo do transporte de minério, hoje muito acima do valor médio
internacional, um pouco acima de US$ 20 por tonelada. Para tanto, será decisivo
o funcionamento a partir de agosto do Porto Sudeste, em Itaguaí-RJ, hoje a
cargo do consórcio formado pela Impala, divisão da trading holandesa Trafigura,
e o Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi. Sem contar os R$ 20 bilhões do Fundo
da Marinha Mercante para o financiamento de navios para a cabotagem.
É claro que
só dinheiro no papel não vai resolver o problema dos gargalos logísticos. No
caso da cabotagem, é preciso algum tipo de isenção de imposto para reativar o
modal, além de uma redução nas exigências burocráticas, já que hoje são 53 os
documentos ligados a esse modal.
Aliás, se o
Brasil quiser portos com níveis de eficiência semelhantes aos de Roterdam e
Antuérpia, será necessário não só reduzir o número de entidades governamentais
envolvidas com a legislação portuária – hoje são oito, quando três já seriam
suficientes – como aumentar a produtividade da Receita Federal para que se faça
o desembaraço aduaneiro em três dias no máximo, como se faz em todo o mundo
desenvolvido. Milton Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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