Enquanto
o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) financia a
construção de terminais nos portos de Mariel, em Cuba, e Rocha, no Uruguai, a
BR-163, que liga Cuiabá-MT a Santarém-PA, virou um lamaçal nesta época de
chuvas na Amazônia. Mesmo assim, as empresas nacionais e multinacionais que
trabalham com o agronegócio tentam escoar boa parte da supersafra do
Centro-Oeste por esse que há muito tempo deveria ser um dos mais importantes
corredores logísticos do País, pois inclui o aproveitamento da hidrovia
Tapajós-Amazonas.
Se
a estrada já tivesse sido asfaltada, os ganhos de frete, tempo e eficiência
logística seriam muitos – cerca de 35% –
, em comparação com o percurso que a maioria dos caminhões faz em direção aos
portos de Santos-SP e Paranaguá-PR, enfrentando o dobro de tempo e rodovias e
vias de acesso à zona portuária completamente congestionadas. Em compensação,
os caminhões que optam pela direção Norte têm de enfrentar riscos de
derrapagens, quebra de peças, atoleiros e ainda o dobro do tempo que a quilometragem
exigiria se a viagem fosse feita em asfalto.
É
claro que a pavimentação da BR-163 já resolveria grande parte dos problemas,
mas o percurso não termina na rodovia de terra batida porque os caminhões
precisam seguir até Miritituba, distrito de Itaituba-PA, onde o transbordo da
carga é feito para barcaças que descem o rio Tapajós até os portos de Santarém-PA
e de Vila do Conde, no município de Barcarena-PA, ou ainda Santana, no Amapá.
De terminais, a carga é transferida para navios Panamax que seguem para a
Europa e Ásia.
Mesmo
sem a contrapartida do governo federal, empresas como a Bunge e a Cargill têm
investido em terminais na região. Algumas, é verdade, até congelaram
investimentos, já que esperam o asfaltamento da BR-163 há quase duas décadas.
Mas, seja como for, levando em conta o potencial dessas multinacionais, com
certeza, a médio prazo, o que se prevê é que o escoamento de grãos passará a
ser feito majoritariamente pelo Norte do País. Obviamente, essa seria a solução
para os congestionamentos que ocorrem na região Sudeste à época da safra do
Centro-Oeste.
Por
outro lado, é preciso avaliar bem se os terminais graneleiros que o governo federal
pretende licitar na área da Ponta da Praia, no porto de Santos, terão em cinco
ou dez anos a demanda dos dias de hoje. Afinal, as previsões indicam que até
2020 o Centro-Oeste deverá estar escoando 40 milhões de toneladas de grãos por
ano. E a tendência é que esse escoamento seja feito por modal fluvial. O que é
vê hoje é uma preparação para um rush
em direção ao Norte, que só não ocorreu ainda por falta de ação do governo
federal. Mauro Dias - Brasil
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Mauro
Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística
Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e
Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
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