“…Portugal navega à vista,
sem rumo e sem estratégia. O ajustamento financeiro em curso, necessário, mas
cujo desígnio não foi justificado, deixou o país exangue e descapitalizado. Era
a peça que faltava para fecharmos a porta atlântica que os alemães
historicamente sempre negligenciaram: daí «os submarinos» como arma tática.
Não podemos esquecer que
encerrado o ciclo do império nos direcionamos, sem cuidar de salvaguardas,
(parece que esquecemos as lições da história que nos custaram a independência),
para opção europeia. O sistema político adotou sem reservas essa orientação;
adesão à CEE, Maastricht e finalmente o Euro. A abertura escancarada de uma tão
frágil economia conduziu à destruição de parte muito significativa do nosso
aparelho produtivo; metalomecânica, agricultura e pescas, (coisa que a vizinha
Espanha não fez). Depois foi o que se viu com a aplicação desenfreada e sem
critério de recursos financeiros em investimentos de infraestruturas e bens não
transacionáveis: lógica do betão.
Sem um modelo económico
sustentável ficamos à mercê da voragem dos mercados financeiros; numa primeira
fase foi a escalada consumista e as operações de corporate, com as PPP e depois
os Swaps, comprometendo-se os recursos remanescentes dos fundos da segurança
social, hoje sobre ataque desaforado.
Felizmente que não houve
oportunidade para lançar o TGV, a nova travessia do Tejo e o novo aeroporto de
Lisboa, em que o capital financeiro e as multinacionais alemãs tanto
insistiram: valha-nos isso. Todavia, o resgate português custa em média a cada
português 800 euros, quando o disfarçado resgate de Espanha, 180 euros per
capita.
Está, por isso, mais uma vez em causa a
independência de Portugal, quando a esquerda portuguesa, o PS, é cercado e se
confronta, com a capitulação do Sr. Hollande e a Grande coligação alemã, (foi
assim que começou o III Reich, com a subserviência do SPD).
A lógica que se impôs é a de
que não há alternativa.
A estratégia, da normalidade
normal, protagonizada em Portugal pela coligação PSD/CDS-PP visa fazer de
Portugal um país de serviços de baixo valor acrescentado, sobremaneira o
turismo e a bandeja, a «estratégia da bandeja» e a sua integração enquanto
economia periférica, na região ibérica. Agora, sem nenhuma solução para sair do
programa de assistência, a não ser a «falsa saída à irlandesa» que nos deixa
entregues a nós próprios, com taxas de juro proibitivas, geradas no jogo de
casino a que fomos submetidos, sem qualquer espécie de solidariedade dos países
ricos do Norte da Europa, cujos bancos muito tem ganho à conta da especulação
sobre a nossa dívida soberana, o governo português precisa do aval do PS.
Urge dizer não! Há
alternativa!
Os Portugueses já deram
provas da sua tenacidade ao longo da História. Defina-se uma missão e deem-lhes
objetivos a cumprir. Não pertencemos de todo à cultura luterana e calvinista do
Norte da Europa, imanentista, distante e exclusivista. Mesmo o nosso Espinosa
não lhes deu margem, o seu raciocínio sistemático da Ética, despertou-o afinal
para uma nova dimensão, a da emoção, cujo caminho está por fazer. Leia-se o
Padre António Vieira e a visão globalizante do V Império, na sua História do
Futuro ou no Sermão aos Peixes, colocando todas as raças em pé de igualdade:
fermento do Brasil.
Do mesmo modo, Fernando
Pessoa e a Mensagem, do que falta cumprir. Para não falar de Agostinho da
Silva, José Craveirinha, Luandino Vieira, ou de Vinicius de Morais e a sublime
proclamação de amor de Elis Regina, «…maior do que tudo quanto existe…!». Toda
uma comunidade de afetos que culturalmente em nada se confunde com o Norte
Europeu; constituindo, isso sim, uma importante corrente cultural, e porta
aberta para outras dimensões a explorar em conjunto, no domínio, cultural,
científico e económico.
Desde o século XV, pelo
menos, que o nosso paradigma é o Mar.
Articulem-se os
investimentos públicos, numa lógica estratégica nacional, que assegure a
Portugal um posicionamento estratégico funcionando como plataforma logística
para o espaço Lusófono: Porto de Sines, (com ligação ferroviária à Europa e
apostando no aumento de tráfego marítimo através do canal do Panamá), Aeroporto
de Beja, como Hub de carga, articulando-se com a logística de Sines e, claro
está o Alqueva, definindo-se uma nova centralidade geográfica no eixo
Évora-Beja e posicione-se o Porto na perspetiva do eixo Porto-Vigo.
Para este projeto são ainda
fundamentais, as competências e as capacidades tecnológicas desenvolvidas, no
âmbito das comunicações e da energia, com acento nuclear no novo modelo
energético em que se prefigura uma oportunidade para futuro na exploração da
bacia do Atlântico.
Portugal, no entanto, tem de
estar atento a manobras que tentem subordinar a quadros jurisdicionais atípicos
as suas duzentas milhas marítimas e a ZEE. As ilhas, pouco europeias,
sobremaneira os Açores, poderão ficar numa linha de fratura, onde não se pode
deixar precipitar.
É fundamental, por isso,
dar-se um novo impulso à CPLP, espaço vital da Língua Portuguesa, na lógica das
parcerias económicas e monetárias, sem esquecer a vertente cultural e do
pensamento estratégico de interesse comum para futuro: Têm de ser projetadas as
nossas capacidades nos domínios da investigação e do conhecimento, que são
vertentes estratégicas no quadro lusófono; o que implica que se pare a
hemorragia da imigração qualificada, apostando-se no ensino e na investigação
científica.” Basto de Lima – Portugal in “Inteligência
Económica”
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